sexta-feira, junho 29, 2012
Preparativos
Por Ana Liz Justo *
Neste sábado, 30 de Junho, às 20 horas, acontecerá a abertura da exposição “Lucio Cruz Convida Júlio Paraty”, no Atelier Lucio Cruz, que ficará até o dia 29 de julho. O encontro desses dois grandes artistas, certamente contribuirá para o enriquecimento do acervo artístico e cultural paratiense, e é uma oportunidade única de ver as expressivas obras desses dois artistas juntos.
Julio Paraty é um dos artistas-plásticos mais reconhecidos da região. O corpo de sua obra pode ser considerado uma documentação da cultura popular de sua terra, da qual ele inclusive adotou o sobrenome. É nela que ele encontra inspiração – em suas tradicionais festas, em seus casarios históricos, em seus santos e relicários.
Lucio é paratiense, e um dos artistas-plásticos mais reconhecidos da região. Suas obras, elaboradas em papel machê e coloridas com tinta acrílica, são inspiradas na cultura popular, nas festas tradicionais da cidade (profanas e religiosas), e nas formas das pessoas de sua terra.
Seu trabalho tridimensional emociona pela resignação nas expressões das figuras representadas, e pelas cores vibrantes, que transmitem a alegria e simplicidade de seu povo.
Meu Point. Meus Conterrâneos. Nossas Ondas
Com direito a vislumbres da Prainha (meu local de surf preferido), até o feioso paredão de prédios que bloqueou o avanço da brisa do mar ficou fotogênico. Música apropriada e Andrew Serrano surfando de alaia (pranchas de madeira, finas, simples e sem quilhas).
"Acaba de sair do forno o primeiro episódio da série Quebra-Mar, produzido pela Fluence Vídeos. Com todas as imagens registradas no tradicional pico de Santos (SP) (popularmente chamado de Píer, no José Menino), o vídeo conta com a participação dos surfistas Andrew Serrano, Cássio Sanchez, Renato Wanderley e Rodrigo Metrinho" - (Herbert Passos Neto - Site Waves)
terça-feira, junho 26, 2012
Notícias de Um Sequestro
Apesar dos problemas persistentes que vez por outra surgem na mídia, a Colômbia já esteve muito pior. É o que nos lembram obras como o filme PVC ou os desenhos, telas a óleo e aquarelas pintadas por Fernando Botero entre os anos de 1994 e 2004, expostos na mostra Dores da Colômbia (e que ilustram este post), que percorreu várias capitais brasileiras. Só que nenhuma obra artística dedicada ao registro do período negro da história colombiana da segunda metade do século passado cala tão fundo quanto o livro Notícias de Um Sequestro, escrito por um dos maiores nomes da literatura universal de todos os tempos, o colombiano Gabriel Garcia Márques.
Jornalista destacado antes de se consagrar como um dos maiores expoentes do chamado realismo fantástico, Garcia Márques dá impressão de se conter a fim de se ater exclusivamente aos fatos. Ocorre que, como o próprio autor afirma em dado momento, o dia a dia colombiano, principalmente durante tempos incertos, está muito além do que o mais imaginativo artista pode conceber. Até porque, se alguém ousasse botar no papel a imagem preconcebida de sequestrados e sequestradores jogando dominó ou xadrez, ou de bolos sendo servidos no cativeiro para comemorar a notícia da breve libertação de uma vítima soltura, seria acusado de ingênuo ou sensacionalista. Garcia Márques, contudo, está amparado no que de fato aconteceu e lhe foi contado pelos próprios protagonistas do jogo e, posteriormente, do livro.
Garcia Márques se incumbiu de escrever Notícias em 1993, por sugestão de Maruja Panchón, que passou seis meses nas mãos de sequestradores a serviço do narcotraficante Pablo Escobar e seu grupo, autodenominado Os Extraditáveis (por razões explicadas no livro de 318 páginas publicado pela editora Record). Com uma prosa arguta e objetiva, o escritor já havia avançado bastante quando se deu conta de que era impossível desvincular o sequestro de Maruja e sua assistente Beatriz, de outros oito que aconteceram na mesma época. Vistas em conjunto, as vítimas, na maioria, jornalistas, compunham um grupo de "pessoas muito bem escolhidas", capazes de servir como elemento de pressão para que o governo aceitasse negociar com os grupos terroristas condições especiais para que os criminosos se rendessem e tivessem suas vidas asseguradas.
Felizmente, a Colômbia parece ter conseguido superar (não totalmente) o mais difícil. Meu próprio amigo surfista prego brasiliense Carlos Leite visitou o país há coisa de três anos e disse que se sentia mais seguro andando pelas ruas de Bogotá do que em São Paulo. Ainda assim, Tal como Garcia Márques disse a respeito dos depoimentos que lhe deram várias pessoas envolvidas direta ou indiretamente com os fatos narrados, seu livro salvou do esquecimento o drama bestial que, por desgraça, foi apenas um episódio do holocausto bíblico em que a Colômbia se consumiu por mais de vinte anos. E que muitos países, como Brasil e México, ainda se consomem.
"Em Medellín, somente nos dois primeiros meses de 1991, tinham sido cometidos mil e duzentos assassinatos - vinte diários - e um massacre a cada quatro dias. Um acordo de quase todos os grupos armados havia iniciado a escalada mais feroz de terrorismo guerrilheiro da história do país e a cidade onde se escondia o temido e procurado Pablo Escobar foi o centro da ação urbana.Quatrocentos e cinquenta e sete policiais foram assassinados em poucos meses. O Serviço Especial estimava que duas mil pessoas das comunidades estavam a serviço do narcotráfico e muitas delas eram adolescentes que viviam de caçar policiais. Por cada oficial morto recebiam cinco milhões de pesos. É provável que o mais colombiano dessa situação fosse a assombrosa capacidade do pessoal de Medellín para se acostumar com tudo, bom ou mau, demonstrando um poder de recuperação que, talvez, seja a fórmula mais cruel da temeridade".
segunda-feira, junho 25, 2012
Micróbio do Samba
... vai que se materializa o meu sonho dourado
vai que me espera com boas notícias o inesperado
vai que me espera com boas notícias o inesperado
Eu vivo a sorrir. Eu vivo a sorrir.
Confesso que, ainda no ano passado, reagi com indiferença à notícia de que Adriana Calcanhoto estava lançando um álbum com supostos sambas compostos por ela própria. Daí só agora estar tocando no assunto, depois de tanto tempo e de tantas publicações apontarem o cd como um dos melhores trabalhos de 2011. Ouvi várias vezes ao cd Micróbio do Samba durante o último final de semana e, de fato, achei as músicas muito boas. Independente de serem ou não sambas, conforme estou vendo algumas pessoas discutindo na internet, ótimo som para esta primeira semana de inverno.
Até ontem (24), dava para ouvir Micróbio do Samba na íntegra, clicando aqui
sexta-feira, junho 22, 2012
Mau Desempenho Paraguaio
Assistimos hoje a um golpe de Estado sendo transmitido, ao vivo, pelas tvs internacionais. Golpe branco, porque desferido pelo Congresso paraguaio, mas nem por isso menos antidemocrático. Golpe que, infelizmente, não parece ser tão fajuto quanto o whisky vendido por lá. E que atesta o quanto anda desacreditada a tal da "opinião da comunidade internacional" e como ainda é limitado o poder de influência, ou mediador, da União das Nações Sulamericanas, a Unasul
quinta-feira, junho 21, 2012
Carmen, de Bizet, encerra festival brasiliense
O 2º Festival de Ópera de Brasília chega ao fim neste final de semana, com a apresentação do espetáculo Carmen, do francês Georges Bizet (1838-1875). De hoje (21) a sábado (23), a apresentação, gratuita, começa às 20h. No domingo (24), às 18h. É preciso chegar ao Teatro Nacional com antecedência para retirar o ingresso.
Para o público, é a oportunidade de assistir, de graça, à interpretação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional para o drama protagonizado por uma das mais populares personagens da história da ópera, a cigana Carmen. Com seu talento para a dança e o canto, ela seduz os homens à sua volta, entre eles o rígido e conservador cabo do Exército Don José, e o toureiro Escamillo, que disputarão a atenção da cigana.
Bizet morreu poucos meses após Carmen estrear nos palcos parisienses, e não pôde testemunhar o reconhecimento de público e crítica que a ópera em quatro atos alcançaria em pouco tempo. Quase 140 anos após ter sido composta, mesmo o público pouco habituado ao gênero artístico certamente reconhecerá o famoso trecho inicial da obra, o Prelúdio, e a ária (música solo) Habanera.
Regida pelo maestro Cláudio Cohen, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional se apresentará com nove solistas, entre eles Mere Oliveira e Janette Dornellas – que interpretam Carmen – e o tenor Juremir Vieira. Além disso, estarão no palco um coro de 56 vozes e 28 bailarinos coreografados por Gisele Santoro.
Aberto no último final de semana de maio, o festival brasiliense atraiu mais de 9 mil espectadores às apresentações das óperas La Bohème, do italiano Giacomo Puccini (1858-1924), e Cavalleria Rusticana, do também italiano Pietro Mascagni (1863-1945). Com 1.307 assentos e capacidade para mais 100 lugares extras, a Sala Villa-Lobos, do Teatro Nacional, atingiu o limite de sua capacidade nas seis apresentações anteriores, o que não surpreende o diretor cênico de Carmen, Francisco Mayrink.
“Não me surpreende o teatro estar lotando, mas sim a forma como a ópera é encarada, como se fosse algo elitista. Originalmente, a ópera era um espetáculo popular ao qual as pessoas iam para se divertir”, lembra Mayrink, que, este ano, também atuou como figurinista da ópera La Bohéme e como diretor de palco de Cavalleria Rusticana. “[Montar uma ópera] não é um trabalho fácil. É bastante complicado, mas também muito prazeroso.”
Pela qualidade artística, o festival possibilitou o reencontro entre a cantora e atriz Sara Sarres e o público de sua cidade natal. Há 13 anos vivendo em São Paulo, a brasiliense é uma das mais requisitadas cantoras de musicais, já tendo atuado nas montagens brasileiras de Os Miseráveis, Cats, A Família Addams e O Fantasma da Ópera, espetáculo com o qual ficou dois anos em cartaz em São Paulo, com casa lotada. A última vez que se apresentou na capital federal foi em junho de 2009, em um tributo ao maestro Silvio Barbato e à cantora Juliana Aquino, que morreram no acidente com o voo 447, da Air France, que caiu no Oceano Atlântico, no dia 31 de maio daquele ano. No festival, ela se apresenta, entre outros, com o brasiliense Leonardo Vieira, que também deixou Brasília para fazer carreira.
“Fico muito feliz de poder voltar a me apresentar na minha cidade, onde muitos dos meus amigos e parentes nunca tinham me visto me apresentando. E estou muito orgulhosa. Não é fácil fazer espetáculos como esses. Em termos artísticos, as produções estão impecáveis, embora, em termos cenográficos, ainda seja possível melhorar bastante. Só que, para isso, é importante que outros setores, como os empresários, abracem o festival como um presente a cidade”, disse a cantora à Agência Brasil.
Clique e ouça Andrea Bocelli - Carmen - Duets & Arias
terça-feira, junho 19, 2012
WADO EM BRASÍLIA
Amor Não Há
Em Quase Nenhum Recanto
Ainda Assim Eu Canto
E Ergo A Voz
Por Você
Por Mim
Por Nós
Florianopolitano, ou manézinho, residente em Alagoas, o músico Wado fez um ótimo show na boate La Ursa, de Brasília, no último dia 15. Apresentação generosa pra pouca gente. O que, longe de prejudicar, deixou a coisa mais, digamos, intimista. Mesmo o som da casa ainda não estando adequado, deu pra curtir letras (mais ou menos) e melodias (deliciosas). A surpresa, pra mim, foi saber que Wado tem duas músicas - “Estrada” e “Hercílio Luz” - assinadas em parceria com o escritor moçambicano Mia Couto.
Para os interessados em conhecer o trabalho do cara, seu mais recente disco, SAMBA 808, está disponível para dowload gratuito no site http://wado.com.br/ São sambas algo melancólicos com levadas eletrônicas e as participações de Marcelo Camelo (ex-Los Hermanos), Mallu Magalhães, Zeca Baleiro, Chico Cézar e André Abujamra (ex-Karnak). Auxílio luxuoso que deu o colorido necessário para que alguns veículos especializados tenham apontado o disco como um dos melhores de 2011.
segunda-feira, junho 18, 2012
Coincidência ou redenção
"Há cerca de 20 estudos sobre LSD em andamento no mundo, um renascimento do uso terapêutico da droga", afirmam os jornalistas Marcelo Osakabe e Marcelo Moura na revista Época desta semana. (clique aqui para ler a íntegra da matéria).
Não tenho interesse particular no assunto, mas chamou minha atenção a coincidência de os repórteres também resgatarem a figura de Timothy Leary (veja texto sobre as memórias do norte-americano publicado pelo semifosco há mais de mês) para sustentar a tese de que o medo e o conservadorismo surgido na segunda metade do século passado como resposta aos movimentos liberais ofuscou e impediu o prosseguimento de pesquisas acadêmcias que tinham o intuito de verificar os efeitos do uso terapêutico do LSD e de outras drogas.
"Um detento da prisão de San Luis Obispo sobe até o telhado e, pendurado em cabos de telefonia, atravessa o pátio e pula o muro. Do lado de fora, um carro o aguardava. Dias depois, ele chegou à Argélia, sob os cuidados do grupo revolucionário Panteras Negras. O fugitivo era Timothy Leary, doutor em psicologia formado pela Universidade Berkeley e professor de Harvard" - Época
Reforço a dica: concorde ou não com a tese, o livro de memórias de Leary - Flashbacks: LSD, a Experiência Que Abalou o Sistema é um verdadeiro quem foi quem nas últimas quatro décadas do século passado.
domingo, junho 17, 2012
Filmes que nos aborrecem apesar de...
Os sensíveis que me desculpem, mas um filme nacional despertou o cafajeste que há em mim.
Como, graças a Deus, ainda não é proibido zombar de filmes chatos, eis minha desfaçatez de admitir que só recomendaria que amigos como o surfista brasiliense Carlos Leite assistissem, em dvd, ao filme Budapeste, de Walter Carvalho, pela chance de admirarem as belas atuações, nuas, de Giovanna Antonelli, Débora Nascimento (sim, a Tessália, de Avenida Brasil), da húngara Gabriella Hámori, e, principalmente, da inacessível Paola Oliveira (quem diria! que pernão). Não sei se é verdade que o único idioma que o diabo respeita é o húngaro, mas que até ele deve louvar ao Senhor por desvelar tamanho talento, isso deve.
Já às amigas, eu diria que, tirando a bela fotografia de Lula Carvalho e a trilha sonora composta por Leo Gandelman, o filme é chatíssimo.
(Por que terá a roteirista Rita Buzzar modificado o controverso trecho inicial do livro de Chico Buarque, no qual o filme é baseado, optando por escrever "a primeira vez que fui parar em Budapeste" ao invés do original alvo de piadas "Fui dar em Budapeste"?)
E por falar no que deveria se chamar de categoria "pretension movies", está em cartaz, em Brasília, o filme Deus da Carnificina, mais uma legítima obra da última safra de Roman Polansky. Que, inacreditavelmente, alguns veículos tem classificado como uma comédia.
Embora, do ponto de vista do pedantismo, O Deus da Carnificina não seja tão aborrecido quanto o filme anterior de Polansky, o Escritor Fantasma, é mais uma obra em que o diretor polonês parece expressar conclusão pessimista em relação à humanidade e à sociedade moderna, fruto, talvez, de uma vida marcada por tragédias (a mãe de Polanski foi morta em um campo de concentração alemão; sua esposa, a atriz Sharon Tate, foi assassinada, grávida, por seguidores do maníaco Charles Manson e o diretor foi condenado por ter estuprado uma garota de 13 anos, razão pela qual deixou os Estados Unidos para não ser preso). Paradoxalmente, o mesmo pessimismo e cinismo que torna o filme, no geral, aborrecido, é responsável pelo que ele tem de bom, como o sarro em cima do politicamente correto.
Se é verdade que a plateia do festival de Veneza "caiu na gargalhada" quando o filme foi apresentado, em 2011, eu talvez não tenha entendido nada. E pode ser que o texto original (que não conheço), escrito para o teatro pela dramaturga Yasmina Reza, seja engraçado e não soe tão pedante e aborrecido, mas saí do cinema achando que, infelizmente, o filme não está à altura dos esforços de Kate Winslet, Jodie Foster, Christoph Waltz e John C. Reilly (este sim, excelente).
quarta-feira, junho 13, 2012
Imperfeccionistas retratados à perfeição
Poucos autores devem ter tido a felicidade de Tom Rachman. Em 2010, o inglês, então com 35 anos, lançou seu primeiro livro, o romance Os Imperfeccionistas, com o qual conseguiu atingir um excelente resultado. O que rendeu a sua obra, entre outras coisas, uma menção na lista de livros notáveis elaborada pelo New York Times. E uma eficiente propaganda boca-a-boca feita pelos seus leitores.
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Recém-lançado no Brasil pela editora Record, Os Imperfeccionistas (384 pág.) trata de jornalistas e de um jornal (não-nomeado). Dito de outra forma: Rachman mescla as ficctícias histórias pessoasi de dez funcionários e de uma leitora de um jornal à história do próprio periódico, lançado em 1954 como "um jornal internacionalista, escrito em inglês, embora produzido em Roma".
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Rachman, hoje com 37 anos, conhecia bem o tema escolhido para seu primeiro romance. Já, trabalhou como correspondente internacional da prestigiada Associated Press, foi editor do Herald Tribune, em Paris, e já esteve escrevendo reportagens no Japão, na Coréia do Sul, na Turquia, no Egito, entre outros lugares.
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De forma ácida, irônica e muito bem-humorada, Rachman cria personagens desiludidas, raivosas, competitivas, auto-destrutivas, que as vezes não tem qualquer traço de qualquer auto-estima, outras são egoístas e prepotentes, ou que então estão cansadas da pretensiosa rotina de tentar resumir o mundo nas páginas de um jornal. E todos os defeitos pessoais são potencializados pela corrida contra o relógio para fechar mais uma edição, pela falta de estrutura da publicação e pelos mais mesquinhos motivos.
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"Notícia é, com frequência, uma forma educada de dizer `os caprichos dos editores´", conclui um desmotivado escritor de obituários. "Nada simboliza melhor a futilidade da luta humana que o aspartame", filosofa a repórter de economia que, cansada da rotina solitária, assume um namoro com um hippye desagradável. Há ainda um velho jornalista que, diante do ocaso profissional, se dá conta de não ter mais fontes, amigos e nenhuma intimidade com a família. O herdeiro do jornal, sujeito frágil que, embora só consiga se relacionar com seu cachorro, se vê diante da obrigação de tocar a publicação. E outras...
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Sem dúvida, vale muito a pena ler o livro de Rachman.
sábado, junho 09, 2012
Yael Naim, uma boa surpresa franco-israelense
... deixe a água se desenrolar. Não
lute - lute - o rio está certo. Deixe
ir - ir - finalmente você irá crescer
lute - lute - o rio está certo. Deixe
ir - ir - finalmente você irá crescer
Basta ouvir uma vez a algumas das deliciosamente pegajosas músicas de Yael Naim para entender o porque de um público paulistano antenado ter lotado o bar do Sesc Pompéia durante recente apresentação da cantora franco-israelense (filha de tunisianos) mesmo ela ainda sendo pouco conhecida por estas bandas.
Com dois (três) discos já gravados, Yael desponta em meio a onda de cantoras de new-soul/jazz, gênero que tempera muito sutilmente com as influências que incorporou da música israelense (nascida na França, a cantora viveu dos quatro aos 21 anos em Israel, onde estudou música erudita em um conservatório e chegou a tocar na banda do Exército).
Para ouvir mais de Yael Naim, clique aqui.
Festival de Ópera de Brasília
Após o sucesso da apresentação durante a primeira edição do evento, em 2011, o público brasiliense tem, neste final de semana, uma nova chance para assistir, gratuitamente, à montagem da ópera Cavalleria Rusticana, do italiano Pietro Mascagni (1863-1945).
Dirigida pelo professor da Escola de Música de Brasília Francisco Frias e regida pelo maestro Abel Rocha, a história de amor, traição, vingança e machismo é um dos três espetáculos programados para o 2º Festival de Ópera de Brasília, na Sala Villa-Lobos, do Teatro Nacional.
Aberto no último final de semana de maio, com a apresentação de La Bohème, de Giacomo Puccini,o festival brasiliense também trará ao palco brasiliense a montagem da ópera Carmen, composta pelo francês George Bizet e que será apresentada entre os próximos dias 21 e 24.
Para facilitar a compreensão da história, todas as apresentações contam com tradução simultânea do texto (libreto). A expectativa da Secretaria de Cultura do Distrito Federal é que cerca de 10 mil pessoas assistam às apresentações.
Composta em um único ato, embora dividida em duas partes, Cavalleria Rusticana (Cavalheirismo Rústico, em livre tradução) foi encenada pela primeira vez em 1890, obtendo sucesso imediato. Em Brasília, terá Janette Dornellas, Juremir Vieira, Leonardo Páscoa, Maria Schramm e Valdenora Pereira como solistas.
Hoje (9), a apresentação começa as 20 horas. Amanhã (10), as 18h. A entrada é gratuita, de acordo com a ordem de chegada.
Leia Também: Brasília realiza seu primeiro festival de ópera
sexta-feira, junho 08, 2012
Após 55 anos inspirando leitores, `biblia´ beat chega aos cinemas
"A publicação de On The Road é um evento histórico, na medida em que é o surgimento de uma genuína obra de arte que concorre para desvendar o espírito de uma época. É a mais belamente executada, a mais límpida e mais importante manifestação feita até agora pela geração que o próprio Jack Kerouac, anos atrás, batizou de beat. E da qual ele próprio é o princial avatar" - Crítica de Gilbert Millstein, publicada no jornal The New York Times, em setembro de 1957, após o lançamento do livro On The Road.
"Eu era um jovem escritor e tudo o que eu queria era cair fora. Em algum lugar ao longo da estrada eu sabia que haveria garotas, visões e tudo o mais. Na estrada, em algum lugar, a pérola me seria ofertada". - Trecho de On The Road.
Foi necessário que se passassem 55 anos e que um brasileiro produzisse, com sucesso, um filme (Diários da Motocicleta) sobre as viagens do guerrilheiro cubano Che Guevara para que um clássico da literatura do século XX, considerado a bíblia de ao menos duas gerações de jovens desencantados com "o sistema", chegasse às telas de cinemas de todo o mundo.
Enfim, estreia ainda este mês o mais recente filme de Walter Salles, On The Road - Pé Na Estrada, baseado no livro homônimo do escritor norte-americano Jack Kerouack, o "pai" do movimento beat.
Por alguma razão, livros muito mais difíceis de serem adaptados, como Almoço Nu (Naked Lunch - adaptação de David Cronenberg para o livro de William Burroughs, autor também associado ao movimento beat)já haviam virado filmes, e nada das personsagens Saul Paradise e Dean Moriarty (respectivamente, Kerouack e seu parceiro Neal Cassady, "que possuía a energia vibrante de uma nova espécie de santo americano") ganharem vida.
Culpa, talvez, do desafio de transpor para o cinema a prosa espontânea e a autenticidade que caracterizam o estilo de Kerouac - razão maior do culto ao livro que, cerca de dez anos após ser lançado, foi adotado por hippies pacifistas e demais defensores de um utópico "drop out" sistêmico que se identificavam com a proposta hedonista da "geração beat", movimento inicialmente literário que, além dos três nomes já citados, incluía ainda Lawrence Ferlinghetti, Allen Ginsberg, Gregory Corso, entre outros. E que, em maior ou menor grau, seguiu influenciando autores como Charles Bukowski e logo se tornou um fenômeno comportamental.
Em linhas gerais, a trama do livro se resume às lembranças de duas viagens que Kerouack e Cassady fizeram, ainda na década de 1940, de costa a costa dos Estados Unidos, ao longo da mítica Route 66, parando em postos de beira de estrada para comer as folclóricas tortas de maçã norte-americanas e buscando sábios vagabundos e aloprados e garotas bonitas a fim de diversão. Gozando de uma liberdade pós-Guerra Mundial, mas já desconfiados em relação ao questionável "american way of life".
A questão é que, em literatura, importa mais o como se diz do que o que se quer dizer. E a forma como Kerouack narrou suas lembranças e conclusões, cuspindo as palavras em uma única bobina de papel para telex de 36 metros de cumprimento (diz a lenda que em apenas três semanas), dando livre fluxo a sua imaginação, resistindo ao máximo à auto-censura, fez a cabeça de milhares de jovens ao longo destas cinco décadas de mudanças às quais o livro resiste dignamente.
"Embarcamos juntos numa viagem tremenda. Estamos tentando nos comunicar com absoluta honestidade, transmitindo com absoluta exatidão tudo que se passa pelas nossas cabeças", diz o alter-ego do autor, no livro.
Sexo livre, drogas, filosofia oriental, desencanto político... Cada página do livro que melhor retratou parte importante do espírito norte-americano dos últimos 50 anos) traz algo destes elementos, descritos em um estilo literário que procurava se apropriar da liberdade inspiradora do aceleradíssimo jazz bebop...
"que, nessa época, se alastrava loucamente pela América e estava em algum ponto entre o período ornitológico de Charlie Parker e outro período que começou com Miles Davis [...]. E enquanto eu estava sentado ali ouvindo aquele som, pensei nos meus amigos espalhados de um canto a outro da nação. E pela primeira vez na minha vida, na tarde seguinte, segui para o Oeste".
NÃO OBSTANTE ... Kerouac mais tarde se revelaria um caipira nacionalista e alcoólatra fortemente influenciado pelo catolicismo. Vivendo como um eremita junto a sua mãe, antes de morrer, em 1969, o escritor concedeu raras entrevistas em que mencionava à ameaça comunista, destacava a distância entre o movimento beat e o escapismo hippie e apontava a deturpação do que considerava os ideais do movimento que ajudara a criar.
"Como bom católico, eu nunca usei as palavras rebelião ou insurreição [associadas ao termo] beatnik. A idéia que eu tinha imaginado era de que a "geração beat" seria uma geração de beatitude, de pessoas que amavam o prazer, a vida e a ternura".
Agora, é esperar que Hollywood tenha dado liberdade ao diretor Walter Salles. E que o brasileiro tenha feito juz ao convite e ao desafio de dirigir o filme, que lhe foi feito por ninguém mais, ninguém menos, que o "Poderoso Chefão" Francis Ford Coppola. A conferir.
quarta-feira, junho 06, 2012
Os Seis Manés
Feriado?
Eu vou é ficar quietinho no meu canto, fuçando velharias no youtube, como o oportuno vídeo abaixo, da banda de um único sucesso, Os Kmaradas.
Eu vou é ficar quietinho no meu canto, fuçando velharias no youtube, como o oportuno vídeo abaixo, da banda de um único sucesso, Os Kmaradas.
domingo, junho 03, 2012
Ligue-se, Sintonize-se, Libere-se
"Em mais um ou dois anos, todos os que tivessem ambições filosóficas e um desejo consciente de desenvolver sua inteligência poderiam aprender como utilizar as drogas de maneira efetiva. O contexto seria educacional. Cursos básicos em currículos das escolas serviriam para treinar os estudantes em como ativar seus próprios sistemas nervosos de acordo com as instruções dos fabricantes".
Embora colocado no papel no início dos anos 1980, o devaneio acima era uma reflexão a respeito da ingênua disposição de espírito com que muitos haviam encarado os distantes anos 1960, que muitos acreditavam ser o advento da "imaginação no poder".
Kennedy não havia sido assassinado. Colônias africanas lutavam por sua independência. Milhares de jovens ocidentais pareciam encontrar sua voz junto ao rebelde rock´n´roll. A geração dos baby-boomers (nascidos após o fim da Segunda Guerra Mundial) logo começaria a reivindicar seus postos. A Guerra Fria esquentava: Hiroshima Meu Amor. A cultura de massas se consolidava. E a política do êxtase surgia.
Junto a tudo isso, muitos passaram a defender publicamente a tese de que as drogas seriam a "chave" para as pessoas interessadas acessarem uma forma superior de inteligência. E, inicialmente, não eram os hippies maluco-beleza os que a defendia. Ao contrário. Eram os que, hoje, chamaríamos "formadores de opinião" ou "analistas qualificados".
A declaração com que abro este texto, por exemplo, é de um ex-professor de psicoterapia da prestigiada universidade norte-americana de Harvard.
Um jovem profissional careta que já fora cadete da conservadora academia militar de West Point e que tinha um futuro promissor a sua frente, até ter sua primeira experiência com os "cogumelos sagrados" mexicanos, ou seja, com a psilocibina. Só então Timothy Leary se deu conta de que, mesmo do alto de toda sua erudição, só conseguia acessar a uma ínfima parcela de seu potencial criativo e emocional. E se tornou o chamado "papa da lisergia", uma das figuras mais controvertidas dos loucos anos 1960.
"Nas quatro horas que se seguiram a minha primeira experiência com os cogumelos sagrados, aprendi mais sobre o cérebro, a mente e suas estruturas do que nos anos precedentes, enquanto aplicado psicólogo", conta Leary no livro de memórias Flashbacks: LSD, a Experiência Que Abalou o Sistema. Um livro que é um verdadeiro "quem é quem" da contracultura e das quatro últimas décadas do século passado, até que os yuppies, a cocaína e o império do consumismo varressem da face da terra qualquer expectativa quanto ao ser acima do ter.
"Naquele instante, sob efeito dos cogumelos, aprendi que o cérebro é um biocomputador subutilizado, contendo bilhões de neurônios cujo acesso é vedado. Aprendi que a consciência normal é apenas uma gota dentro de um oceano de inteligência, que a consciência e a inteligência podem ser expandidas sistematicamente, que o cérebro pode ser reprogramado e que o conhecimento de como o cérebro opera é uma das mais importantes descobertas científicas de nosso tempo", lembra Leary, atraído desde o primeiro momento pela possibilidade de "reprogramação do cérebro".
A reprogramação, ou re-imprinting (reimprimir) de novos sistemas de crenças e atitudes, defendia Leary, permitiria as pessoas reprogramarem suas estruturas psíquicas para lidar com traumas e eventuais problemas que, de outra forma, não conseguiriam sequer acessar conscientemente. O próprio Leary destaca que, cinquenta anos antes, Freud frisara que uma conversa no consultório médico jamais conseguiria reproduzir a intensidade original da fixação emocional infantil (?), sugerindo que estímulos fisiológicos (isto é, químicos) eram necessários para libertar as amarras neurológicas.
Além do mais, antes mesmo de mesmo de experimentar drogas, Leary já defendia que o psicólogo deveria trabalhar com seus pacientes em situações de vida real, como um naturalista em campo - "devemos tratar as pessoas como elas são naturalmente e não a partir da imposição de um modelo médico ou qualquer outro" -, nos envolvendo e nos engajando nos eventos estudados, sempre preparados para mudarmos tanto ou mais do que os indivíduos que estamos atendendo".
Daí não ter sido espantoso que sua primeira experiência para além dos muros da universidade tenha acontecido em um presídio.
Ainda contando com o aval da universidade de Harvard, Leary levou a cabo a experiência de administrar ácido lisérgico a presos. Segundo ele, quase todos os que participaram do experimento não voltaram a reincidir no crime.
"Parecia que havia duas forças muito grandes que impeliam os detentos para a mudança: a primeira era a percepção de novas realidades que os ajudava a reconhecer a existência de outras alternativas além da vida de ladrão versus tira. A segunda, a empatia gerada em meio aos membros do grupo, que os ajudava a manter sua opção por uma nova vida".
Na mesma época, Leary tomou conhecimento da existência de uma rede internacional de cientistas e intelectuais que estavam experimentando a psilocibina, o LSD e a mescalia (fora, óbvio, a maconha). E, mais uma vez, não se tratavam de malucos-belezas. "Muitos desses homens e mulheres eram psiquiatras que haviam experimentado pessoalmente uma ou mais drogas e esperavam encaixá-las em alguma espécie de tratamento médico".
Infelizmente, nos anos subsequentes, Nixon chegaria ao poder e os Estados Unidos encabeçariam uma guerra infrutífera contra as drogas. Além disso, o debate conservador e rasteiro em reação à aparente "libertinagem" comportamental encobriu as implicações éticas e científicas do uso individual de substâncias alteradoras da percepção, uma prática comum a todas as sociedades ao longo da história humana.
Ao contrário do que acreditava Leary e outros defensores do indíviduo dispor de seu organismo e sistema nervoso, desde que sem causar mal a terceiros, a repressão às drogas inviabilizou o uso controlado de tais substâncias, além de provocar milhares de mortes e o desperdício de milhões de dólares, sem com isso impedir que o narcotráfico se tornasse um dos negócios mais rentáveis do último século. Os resultados da pesquisa conduzida pelo grupo de Leary na Prisão Estadual de Concord, por exemplo, jamais foram colocados à prova.
Ainda assim, Leary seguiu por quase três décadas provocando e testando os limites do sistema. E ora protagonizando, ora testemunhando o melhor de seu tempo. Pelas 400 páginas de sua autobiografia, desfilam escritores, intelectuais, artistas, músicos, ativistas e políticos como Allen Ginsberg, Jack Kerouac, Aldous Huxley, Willian Burroughs, Arthur Koestler, Marshal McLuhan, Ralph Metzner, John Lennon, Charles Manson, agentes da CIA, do FBI, Panteras Negras e os integrantes da improvável Confraria do Amor Eterno - "gente bronzeada que distribuía praticamente de graça um fumo forte e um ótimo ácido [...] um bando de vinte homens e mulheres, foras-da-lei, que criaram uma lenda global e então desapareceram silenciosamente, sem jamais serem julgados, embora fossem conhecidos e caçados pela polícia".
"Com o tempo, começamos a perceber que algumas pessoas se sentem mais inclinadas a mudanças pessoais que outras. A maior parte de nossos voluntários voltaram de suas experiências dispostos a tornar a expansão da consciência parte de suas carreiras, de suas vidas. Infelizmente, para nosso degosto, quanto mais velha a pessoa, maior é seu medo da experiência visionária".
Foram, segundo o próprio Leary, sete décadas de mudanças rápidas, durante as quais ele praticou o "surf em cada uma das ondas dos século XX com algum sucesso e diversão", numa louca trajetória que o levou da casa no subúrbio, bebendo martinis, à prisão por tráfico de drogas. E que passou inclusive pela fase de entusiasmo com a tecnologia, principalmente dos computadores.
Com o tempo, como não poderia deixar de ocorrer, Leary foi cada vez mais associado à figura do "tio doidão", seu discurso desqualificado e, em muitos momentos, ele próprio adotou posturas muito próximas ao charlatanismo. Ainda assim, reler Flashbacks pela terceira vez em quase 20 anos ainda provoca em mim boas e pertinentes dúvidas quanto a eficácia do combate às drogas
Hellblazer
A editora Panini lançou, há duas semanas, o terceiro volume da coleção Hellblazer - Origens, sobre a qual já escrevi entusiasticamente aqui.
São sete histórias publicadas entre os anos de 1988 e 1989, reunidas em quase 200 páginas fundamentais para compreender a saga do mago-punk inglês John Constantine, que trapaceou inclusive ao demônio (Nergal, "um dos arquiduques da Perfídia"), de quem carrega parte do sangue nas próprias veias.
Escritas pelo roteirista Jamie Delano, destacam-se pelas características que tornaram o anti-herói cínico e pragmático uma das personagens mais carismáticas do universo da DC Comics, ou seja, o tratamento de assuntos polêmicos como política, ameaça de guerra, desemprego, ambientalismo, economia, como pano de fundo para o desenrolar das histórias sobrenaturais, negociatas de almas e idas e vindas ao inferno.
"Mesmo passados mais de vinte anos, a influência de Delano segue e continuará viva [...] enquanto um mago encapotado cruzar Londre ao sabor do destino, cum um sorriso sarcástico (e talvez um cigarro aceso) em seus lábios".
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