Brasília, 19 de maio de 2013. Embalos culturais econômicos de sábado a noite.
R$ 2
Dentro da mostra dedicada aos cineastas iranianos Mohammad Rasoulof e Jafar Pahani, em cartaz na Caixa Cultural até o próximo dia 26, assisto ao único filme não dirigido por um dos dois diretores perseguidos pelo regime de Mahmoud Ahmadinejad (ambos chegaram a ser presos e condenados a seis anos de prisão em 2010): o impactante A Onda Verde. O título do documentário de Ali Samadi Ahadi é uma alusão à onda de apoio popular ao candidato reformista Mir-Houssein Mousavi, reprimida violentamente pelas forças governamentais (com o aval do aiatolá) após as denúncias de fraude eleitoral para garantir a vitória do Ahmadinejad. Na impossibilidade de equipes de reportagem e de cinema gravarem livremente o que acontecia nas ruas de Teerã, Ahadi teve que recorrer a muitas e valiosas imagens gravadas com celulares pelos próprios cidadãos que participavam das passeatas pedindo a recontagem dos votos. Colou-as aos depoimentos gravados com iranianos perseguidos, presos e, em alguns casos, torturados pelo regime dos aiatolás que deixaram o país. E, para preencher o vazio dos dramáticos relatos de atos institucionalizados de violência, uso de animações. Um filme parcial, que toma partido, mas que deveria ser visto e discutido já que acusa (com supostas provas) o regime iraniano de ser uma ditadura por desrespeitar às liberdades individuais e os direitos humanos, e não pelo viés daqueles que dão sinais de só estarem preocupados com o petróleo ou com a possibilidade do Irã desenvolver a tecnologia nuclear.
NA FAIXA
Atravesso o Setor Bancário Sul a pé. A noite. E vou reencontrar, no Museu da República, a agora nacionalmente famosa cantora brasiliense Ellen Oléria. Dezoito meses após o semifosco divulgar as primeiras imagens colhidas durante a gravação do primeiro DVD da artista (clique aqui), enfim o trabalho vem à luz. Meus três habituais leitores sabem que meu entusiasmo vem de muito antes dela aparecer e ganhar o programa global The Voice Brasil. Não vão, portanto, estranhar eu afirmar que, até o momento, show da Ellen é como sexo: mesmo quando ruim, é bom. Por isso, mesmo esse tendo sido, na minha avaliação (e de outras duas pessoas com quem conversei), o show mais fraco de Ellen a que assisti até agora, foi acima da média (termo de comparação? Para ficar em exemplo recente, o fraquíssimo e entendiante show da incensada Maria Gadú, na Esplanada dos Ministérios, no aniversário de Brasília).
Por que achei o show mais fraco que de costume? Difícil explicar, mas arrisco uma crítica apressada e não-qualificada: Ellen incluiu ao seu show muito mais músicas de outros artistas que de costume. Interpretou Doces Bárbaros, Gil, Milton Nascimento, Chico, Jorge Ben. Embora tenha escolhido muito bem o repertório, foi justamente quando tocou suas próprias músicas, como Feira da Ceilândia e, principalmente, Testando, que ela mais empolgou o público, provando a força e a qualidade de seu trabalho autoral.
NA FAIXA
A surpresa maior viria quando eu já me preparava para encerrar a noite. Terminado o show da Ellen Oléria, uma versão de uma música da Legião Urbana soando ao longe e uma aglomeração ao lado da Biblioteca Demonstrativa chamaram minha atenção. Curioso e disposto, me aproximei. E fiquei extremamente empolgado ao ver uma marca característica do chamado B-Rock 80´s ressuscitada: os shows improvisados em plena rua. Quem já assistiu ao filme Somos Tão Jovens, sobre o surgimento das bandas brasilienses que marcaram o rock brasileiro durante a década de 1980 sabe do que estou falando. Passados 30 anos, o Trio Magnata revive a prática de ocupar o espaço público sem esperar por apoio estatal, patrocínio ou coisa que o valha, pelo simples prazer de se apresentar.
Resumo da ópera: Dois reais por um filme e dois shows. O que me leva a seguinte reflexão: Cinquenta reais a serem gastos no comércio de produtos culturais ou mais eventos públicos descentralizados, com melhor divulgação?
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