O que li, vi e ouvi e recomendo embora ninguém tenha pedido
Na telona - A estréia nacional Pequena Miss Sunshine, comédia on the road sobre uma famíla autenticamente norte-americana que, apesar da esquisitice e desequilíbrio de seus membros - paranóicos por estarem à altura das promessas do american way of life - se assemelha demais à média das famílias ocidentais.
Particularmente, apesar de achar os personagens carismáticos e o filme divertido, tenho algumas ressalvas. Primeiro, após sugerir o que poderia ser entendido como a crise do modelo familiar tradicional, o filme defende-o da forma mais conservadora possível. Segundo, me parece pedante e desnecessária a opção por sustentar, ou mesmo relacionar, as idiossincrasias do adolescente que se recusa a falar após ter feito voto de silêncio, ou do tio homosexual, às figuras do filósofo alemão Nietzsche e do escritor francês Marcel Proust.
Mas minha principal ressalva é quanto ao fato de ambas as idéias centrais do filme, ou seja, a crítica ao modelo de sucesso imposto pela cultura norte-americana, aqui representado pelo concurso de beleza infantil (Miss Sunshine) e a própria possibilidade de superação dos problemas familiares através da união para atingir um objetivo comum, ou da simples fuga do cotidiano, já terem sido exploradas ao extremo pelo cinema norte-americano. De cabeça, lembro, no primeiro caso, Miss Simpatia. No segundo, Férias Frustradas, um filme também engraçado com o 'mala' do Chevy Chase.
Apesar desta minha rabugice, a platéia parece ter gostado muito do filme e eu próprio dei boas risadas. De forma que fica valendo a indicação. Melhor ainda que, no Brasília Shopping, até o dia 26, o ingresso é promocional, custando a metade do preço.
Na telinha - Um argentino. Sim, qualquer um argentino. A Nuvem, Nove Rainhas, O Pântano, O Filho da Noiva, Menina Santa, Clube da Lua, O Cachorro...Tudo bem. Talvez O Pântano e Menina Santa não sejam palatáveis à qualquer sensibilidade, mas uma década de ótimos filmes me fez concluir que não há, hoje, produção cinematográfica como a argentina.
Nessa semana, assisti a O Abraço Partido (El Abrazo Partido - 96 min.), dirigido por Daniel Burman e vencedor de dois prêmios do prestigiado Festival de Berlim. Conta a história de Ariel, descendente de judeus-poloneses que migraram para a Argentina fugindo aos horrores da Segunda Guerra e ao extermínio de judeus. Criado pela mãe após o pai ter abandonado à família para ir defender Israel durante a guerra do Yon Kipur (1973), o garoto cresce em meio à bugigangas made in china, às histórias pessoais e aos desencontros dos lojistas de uma galeria comercial decadente de Buenos Aires, onde sobrevive a loja de tecidos criada e deixada pelo pai e administrada pela mãe. Sem horizontes após ter largado a faculdade e abandonado a namorada, Ariel planeja tentar a sorte na Europa como cidadão polonês, porém, para isso, tem de remontar seu passado e o de sua família.
Um filme emocionante, engraçado, de atuações carismáticas e roteiro inteligente.
Para ler - A Louca da Casa (Ediouro, 196 pág.). Não li o romance em forma de ensaio da espanhola Rosa Monteiro durante a semana que passou, mas o fiz em igual tempo, no início deste ano. Após muito tempo, foi o primeiro livro que li de um só fôlego.
A louca a que a escritora alude é a imaginação. E o livro é, a bem da verdade, indefinível. Misto de romance, com elementos autobiográficos e, no fundo, um ensaio sobre a importância da imaginação para os criadores, sobretudo para os que lidam com a literatura, e desta para a humanidade. Tudo isso sem a chatice da erudição, como um bom bate-papo.
Para ouvir - Digam o que disserem, Deus salve o E-mule e similares programas de compartilhamento de arquivos. Pois graças a ele, e à dica valiosa de um amigo conhecedor de samba, fui apresentado à malandragem de Roberto Ribeiro (1940 - 1996). Estranho que eu nunca tivesse ouvido falar do carioca, nascido em Campos, ex-jogador do Fluminense e puxador de samba da Império Serrano. Na internet há muito dele para baixar. Eu fiz minha seleção. Mel pra minha dor; Todo menino é um rei, Acreditar, Conto de areia, Viola da Serrinha, Vazio, Favela, Só pra Chatear, Recordações de um Batuqueiro (com Elza Soares), Cartas Marcadas, Proposta Amorosa, Viva meu Samba, Me engana que eu gosto, Sereno da madrugada, Estrela da madureira, Ingenuidade, Cinzas da solidão, Desalento, Triste desventura e Ingenuidade. Só pérolas que, não fosse a democratização possibilitada pelas novas tecnologias, estariam jogadas nos espúrios arquivos das gravadoras multinacionais.
Um comentário:
Bah, rapá, Roberto Ribeiro é o ouro!
Grande sambista... não sabia que tinha sido jogador de futebol... todo menino é um rei é um troço que me faz chorar... de tão lindo... que viva o E-mule!
quanto ao cinemão norte americano... deixo pra quando passar na TV, não gasto meus suados caraminguás com sublixo.
Cinema argentino... olha, vou conferir, até hoje não me dignei a assistir... aliás, ultimamente ando longe das telas.
sorte e saúde pra todos1
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