sexta-feira, agosto 14, 2009

Um pai, um filho e três filmes semanais

Livro de fácil leitura, ideal para os momentos em que aguardamos por nossa vez em um consultório ou na fila do banco, O Clube do Filme fica a meio caminho entre as obras de auto-ajuda e as de crítica cinematográfica, pendendo muito mais para a primeira opção, o que não o torna menos prazeroso.

O autor, o crítico de cinema David Gilmour, recorda “com uma nostalgia quase dolorosa” o período em que ele e seu filho assistiam juntos a três filmes semanais. Escolhidos por Gilmour, os títulos tinham o propósito de complementar a educação formal que o garoto havia recebido até seus 15 anos, quando os pais, reconhecendo seu enfado com a escola, o autorizaram a abandoná-la. Ao fim de cada sessão, uma conversa sobre os mais diversos assuntos, bate-papo que ajudava a aproximar pai e filho.

Entre os filme escolhidos “de forma bastante aleatória”, “clássicos, quando possível, mas sobretudo películas envolventes, com uma boa trama, já que eu não podia ficar indiferente ao prazer de meu filho ou ao seu apetite por entretenimento”. Em meio a lembranças familiares e breves considerações sobre diretores e filmes, Gilmour registra as reações de seu filho a 113 títulos que vão de Cidadão Kane (de Orson Welles) – “Muito bom, mas de forma alguma o melhor de todos os tempos”, segundo o adolescente” – a Instinto Selvagem (de Paul Verhoeven,) – “Este sim um grande filme”.

Imagino que Gilmour, na condição de crítico, tenha uma boa coleção de fitas VHS e de DVDs em sua casa, no Canadá. Ou que as locadoras canadenses ofereçam a seus clientes um catálogo generoso. O fato é que, no Brasil, qualquer um que queira (re)assistir parte da filmografia citada ao fim do livro ou terá que gastar muito dinheiro para adquirir cópias originais ou terá que recorrer à criticada prática do dowload na internet.

Isso porque as locadoras de vídeo, após tomarem o lugar de cineclubes que existiam em algumas cidades brasileiras, levando-os à quase extinção, tornando-nos dependentes de seus acervos, deixaram sem outras alternativas aqueles que não se contentam em assistir apenas aos últimos lançamentos. Diante da limitação física de suas prateleiras, estes estabelecimentos têm que optar entre preservar uma cópia de Ladrões de Bicicleta (de 1948) ou abrir espaço para o quarto estojo do último blockbuster.

O Clube do Filme
Davido Gilmour
Editora Intrínseca
239 páginas
R$ 24,90

Um comentário:

Morillo Carvalho disse...

Companheiro conterrâneo,

Esse livro tá no prelo, comprado, aguardando o fim da minha leitura da biografia de Tim Maia. Comprei ao acaso, no Extra. Sempre bom ler antes os comentários semi-foscos como aperitivo. Valeu!!