quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Quarta-feira de Cinzas em Brasília

Hoje aprendi duas coisinhas interessantes observando os jornalistas que trabalhavam na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, local onde o governador afastado José Roberto Arruda está preso desde a última quinta-feira. As duas mais significativas foram protagonizadas pelo repórter da Rede Bandeirantes, Fábio Panunzzio.

A primeira foi sobre o respeito que inspira um microfone e uma câmera de tevê, principalmente se usados por um profissional convicto de estar agindo corretamente.


Como um pequeno grupo de simpatizantes de Arruda estava atrapalhando o trabalho dos repórteres, gritando próximo às câmeras para tentar convencer o advogado de defesa de Arruda a não falar com os “urubus”, Pannunzio, ao fim da entrevista, não se conteve e reclamou com um dos homens, que elevou o tom das acusações, passando a xingar os repórteres.


Diante da intolerância e da má-educação da claque do governador, e vendo que o homem de cerca de dois metros e no mínimo 100 quilos, começava a se encher de razão, Pannunzio não pensou duas vezes. Chamou seu câmera, ligou o microfone e foi para cima do sujeito, visivelmente intimidado pelos equipamentos e por perguntas como se ele acreditava na inocência de Arruda, se tinha emprego e, se sim, o que estava fazendo no meio da tarde gritando em frente à PF.


A segunda lição, infelizmente protagonizada pelo próprio Pannunzio, foi de algo que, acredito, um jornalista deve evitar ao máximo: discutir com esse tipo de energúmeno. Não há razão capaz de se contrapor aos interesses que movem um sujeito como este. Não há sequer o que garanta que esses grupos sejam adeptos da discussão de pontos-de-vista sem que ela descambe para a violência.


Mais tarde, o clima voltou a esquentar após um sem-noção (este “contrário à corrupção que atinge os três poderes nacionais”) se aproximar do grupo de cerca de 70 pessoas e, sozinho, atear fogo a três bonecos de isopor com as fotos de Arruda e dos presidentes do Senado, José Sarney, e do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Além disso, o fogo também chamuscou uma bandeira do Brasil e isso foi a deixa para que o grupo que apóia Arruda fosse para cima do sujeito, que só conseguiu escapar ileso graças à presença e à intervenção dos jornalistas que praticamente o escoltaram para longe, enquanto policiais militares observavam a confusão sem nada fazer.

Torço para que o governador Arruda ou renuncie logo ao cargo, ou para que a PF o transfira para outro lugar mais afastado pois ao longo de dois meses e meio de crise política, a tensão vem crescendo dia a dia e, se as coisas continuarem como estão, não tardaremos a testemunhar algo mais grave.

(PRESTEM ATENÇÃO A PARTIM DOS 3MIN36 - Se não conseguir assistir na janela abaixo, acesse http://videos.band.com.br/v_49907_manifestantes_a_favor_de_arruda_hostilizam_jornalistas.htm)

Nos bastidores, o boato é de que Arruda deve renunciar ao cargo nesta quinta-feira (18). Se isso de fato acontecer, não está descartada a possibilidade de o governador seja transferido para a Penitenciária da Papuda, onde continuaria preso.

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