fotos: Marcello Casal /ABr
Filas. Ingressos gratuitos esgotados em poucas horas. Pessoas entusiasmadas aplaudindo ao fim dos ensaios. Se havia alguma dúvida quanto à existência de público para espetáculos de ópera na capital federal, ela se desfez durante a abertura do 1º Festival de Ópera de Brasília, no último dia 7 de junho. Os organizadores tiveram de providenciar cadeiras extras para acomodar quem não conseguiu lugar entre as 1,6 mil poltronas da Sala Villa Lobos do Teatro Nacional.


“A ópera não é um bicho de sete cabeças e eu tenho certeza de que muitas pessoas se apaixonam na medida em que são apresentadas ao gênero. O que falta é mais informação e divulgação. Como a mídia, em geral, só exibe o que interessa ao mercado, algumas pessoas a consideram algo chato, difícil, mesmo sem nunca ter assistido a um espetáculo”, argumenta o maestro Emílio de César, convidado para reger Pagliacci. O espetáculo é apresentado, como outras obras, com tradução simultânea do texto (libreto). “Além disso, seria necessário maior atenção e estímulo por parte do Poder Público. Montar um espetáculo destes é muito caro e para formar público não bastam eventos pontuais. É necessária uma agenda regular”, acrescentou o maestro.
Criado, segundo Cohen, para atender “à demanda reprimida” da capital e para “baixar os custos necessários à realização de uma série de espetáculos exibidos isoladamente”, o festival não apenas trouxe a Brasília artistas já conhecidos para se apresentar com a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, como deu a muitos jovens cantores e estudantes de música de Brasília e Goiânia a oportunidade de cantar uma ópera em público pela primeira vez. Tudo isso, de acordo com Cohen, por aproximadamente R$ 600 mil. “O que não é nada para um evento deste porte. Logicamente, para o futuro, nós já estamos pensando em como montar óperas maiores, com um maior número de apresentações, e isso elevará os custos.”
Um dos músicos convidados, o tenor porto-alegrense Juremir Vieira, vive há 15 anos na Suíça, para onde se mudou com o intuito de viver exclusivamente da ópera. Para ele, embora haja público para o gênero, bons profissionais e professores para instruir “os muitos jovens que querem cantar ópera”, o Brasil ainda não conseguiu encontrar uma forma ideal de financiar as companhias artísticas. Segundo ele, mesmo na Europa, essas companhias não conseguem viver exclusivamente da bilheteria.
“Na Europa, além do patrocínio estatal, há casos de teatros e orquestras mantidos pela iniciativa privada. Aqui, há demanda, mas ainda é preciso mudar a mentalidade dos patrocinadores”, comentou Vieira, apontando uma razão para não voltar a viver no Brasil. “Gostaria de voltar, mas isso depende do mercado que, aqui, depende exclusivamente dos governos, que são burocráticos. Os cachês, aqui, demoram muito para serem pagos. Já tive que esperar um ano para receber o cachê de uma apresentação. Como sobreviver durante este tempo sem ter que fazer outras coisas?”.
O 1º Festival de Ópera de Brasília segue até o final do mês, sempre com entrada franca. Além da última apresentação do espetáculo Pagliacci, às 20h de hoje (18), o público poderá ver, nas próximas quinta (23) e sexta-feira (24), a montagem de Cavalleria Rusticana, composta pelo também italiano Pietro Mascagni (1863-1945). No dia 28, encerramento do evento, o maestro Cláudio Cohen irá reger o concerto no qual todos os solistas que tenham se apresentado durante o mês dividirão o palco.
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