Últimos dias para quem estiver em Brasília ver de perto as reproduções da série de gravuras que o pintor espanhol Francisco Goya [1746-1828] produziu durante a última década do século XVIII para, segundo ele próprio, "censurar os erros e os vícios humanos" e "apresentar as coisas ao ridículo, fustigar preconceitos, imposturas e hipocrisias".
Nas gravuras expostas até este sábado (18), no Espaço Cultural Instituto Cervantes, Goya retrata cenas com as quais comenta a prostituição, a educação, o casamento por conveniência, a crueldade, a hiprocrisia, a gula de frades e religiosos, a avareza, além de temas na sua época associados à bruxaria.
Cada gravura vem acompanhada por espirituosos comentários escritos pelo próprio pintor e que enriquecem a apreciação das obras.
Capricho 43
O Sonho da Razão Produz Monstros
"A fantasia abandonada da razão produz monstros impossíveis.
Unida a ela é mãe das artes, origem das maravilhas
Segundo o texto de apresentação da exposição, a carga crítica dos Caprichos de Goya chamaram a atenção da Inquisição, obrigando o artista a recolher as chapas e estampas que ainda não haviam sido vendidas. Ainda assim, as gravuras difundiram-se por outros países europeus, impondo uma nova maneira de retratar a realidade. Maneira esta que acabou influenciando artistas dos séculos posteriores. Eu, por exemplo, que não entendo nada do riscado, vi semelhanças de estilo entre o traço de Goya e muitas histórias em quadrinhos (graphic novels) e caricaturas recentes.
Capricho 40
Os Duendezinhos
Alguns brincalhões, serviçais e um pouco gulosos,
amigos que pregam peças, mas muito homens de bem
Como bem destacou o filósofo espanholo Ortega y Gasset na pequena biografia que dedicou a Goya, não há ninguém que se sinta indiferente a obra do pintor pois "ainda que uma parte dela dê continuidade às tradições do passado pictórico e se apoie em modos de seu tempo, há uma outra parte na qual Goya sacode a tudo isso e se volta ao imprevisto; um protótipo deste estranho fenômeno que é a originalidade [...] que não nos permite explicar como um homem pode escapar às tradições e, repentinamente, criar coisas que não preexistiam".
A visitação é gratuita. O Cervantes fica na 707/907 Sul e funciona de segunda à sexta-feira, das 8h às 21h, e aos sábados, das 8h às 14h.
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