Acho compreensível que alguns considerem pueris as letras do músico e ex-surfista profissional Jack Johnson só porque o cara insiste em falar sobre a magia do oceano, ondas, amizade e amor. Ou que haja quem considere sua música um pastiche, som de consultório, só porque a fórmula violãozinho e piano ao mesmo tempo que destaca a beleza melódica de suas baladas pop-folk semiacústicas faz tudo parecer muito simples e "fofo". Falsa impressão reforçada pela postura desencanada e a visível alegria de estar no palco. Algo que, em alguns momentos, nos faz esquecer de que o sujeito que poderia muito bem ser um de nossos amigos já vendeu milhões de discos em todo o mundo. E que isso aconteceu gradativamente, inicialmente sem o apoio de marketing de grandes gravadoras.
Acho compreensível. Contudo, gostaria de deixar registrado que, dez dias após o havaiano ter se apresentado em Brasília para cerca de 12 mil pessoas (segundo o jornal Correio Braziliense), concluí que este foi um dos melhores shows que vi na minha vida (e olha que não foram poucos).
Simples, alegre, generoso (ouvi gente comentando, satisfeita, "Pô, não acaba não?"). E generoso é um adjetivo que não se pode empregar com muitos artistas. Ou você conhece muitos como Johnson, que cede tamanho espaço para os músicos de sua banda brilharem que chegamos a brincar que o grupo deveria se chamar Jack and Zach band, numa alusão ao versátil pianista Zach Gill, que conquistou a platéia cantando e tocando excelentemente.
E isso para não falar da relação entre Johnson e seu amigo G. Love, a quem coube abrir a noite. Um gesto com o qual Johnson retribui o estímulo que Garrett Dutton lhe deu há anos atrás, quando o havaiano deixava as competições de surf e a direção de premiados documentários sobre surf para tentar consolidar-se como músico.
Além de abrir o show, G. Love cantou e tocou gaita como convidado durante metade do show de seu amigo. E aí eu não sei o que foi mais inusitado. Se ver G. Love como mero figurante em um canto do palco, ou se ver Johnson voltando a compartilhar o centro das atenções com outro artista.
É um clichezão, mas fazer o quê: grande show com cara de luau. Ainda mais sob o famoso céu estrelado brasiliense, o que ajudou muito a compor a noite. Desde o último dia 25, já perdi a conta do número de vezes que ouvi a Broken, uma senhora balada pop. Pueril para uns, reveladora para outros. Pena não ter um clip oficial.
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