quarta-feira, dezembro 22, 2010

Tetro: A dificuldade da crítica

Embora nos últimos tempos este blog esteja parecendo uma versão on-line do livro Clube do Filme (sem o viés de auto-ajuda), eu acho que jamais seria um crítico de cinema. Imagino que se uma publicação estivesse me pagando para assistir e dar minha opinião sobre algo como este último filme de Francis Ford Coppola, Tetro, não pegaria nada bem eu admitir que não o entendi direito e que precisaria ou de mais tempo ou de assistí-lo novamente para formar minha opinião.

No geral, a ótima fotografia em preto e branco e as boas atuações de Vincent Gallo, Alden Ehrenreich e Maribel Verdu me levaram a acompanhar com interesse a história do jovem garçom de navio de 17 anos que, em busca de informações sobre sua mãe morta e tentando compreender sua própria família, desembarca em Buenos Aires para encontrar o irmão mais velho, Tetro (Gallo), um escritor promissor, mas que, atormentado pela dimensão da figura paterna - um maestro mundialmente conhecido - e pelas relações familiares conturbadas, abandona seu país e rompe qualquer contato com quaisquer parentes. A indesejada chegada de Bennie (Ehrenreich), portanto, é algo que transtorna a rotina de Tetro.

Só que a trama do filme é complexa e, em certos momentos,a impressão que se tem é que Coppola tenta dizer mais do que dá conta de colocar na tela. Para isso, ele inclusive recorre à música, à dança e a elementos teatrais que, filmados com maestria pelo diretor, enriquecem a história.

O fato é que, hoje, Coppola já não depende das bilheterias de cinemas para complementar sua renda. Dono de vinícolas e de um hotel, além de detentor de alguns sucessos comerciais como Drácula de Bram Stoker, o diretor pode se dar ao luxo de financiar ele próprio seu projetos pessoais, filmando o que quer e como quer. Ou seja, cinema autoral de fato, o que, por si só já é um luxo. Felizmente, mesmo com a suposta liberdade, Coppola não faz fil
mes herméticos. Rebuscados sim, mas não incompreensíveis.

Tetro, evidentemente, não faz sombra aos filmes pelos quais o diretor será lembrado, clássicos como Apocalypse Now e a trilogia O Poderoso Chefão. E, aparentemente, alguns criticos não o perdoam por isso. Caso do santista enciclopédico Rubens Ewald Filho, que sustenta que Coppola "não existe mais" e em quem eu pensava ao, no início, citar a figura do profissional de quem se espera, de afogadilho, uma opinião definitiva sobre uma obra que permite diferentes leituras.
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É verdade que eu nunca espero nada muito profundo do meu conterrâneo, principalmente depois do que ele escreveu sobre o diretor David Fincher ("Nunca gostei muito de David Fincher porque ele fez Clube da Luta,um filme moralmente discutível que provocou, justamente no Brasil, um assassinato num cinema"), mas a crítica dele ao filme de Coppola é algo tão absurdamente equivocado que tive a impressão de que vimos a filmes diferentes.

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Tetro é um primor de equívocos, começando por dar o papel central a Vincent Gallo", afirmou Filho, fazendo o que se espera dele, ou seja, emitir um parecer. O problema é quando o crítico "que mais entende de cinema no Brasil", segundo alguns, tem que justificar sua opinião. "Não sei porque [Coppola] insistiu em filmar em preto e branco, um convite certo ao suícido comercial já que os jovens não gostam". Putz!
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Também o que esperar de alguém que ao assistir Tetro se vê a vontade para revelar ter uma teoria de que "(infelizmente) os cineastas têm no máximo dez ou 15 anos de apogeu. Depois viram meros fotógrafos, imitações de si mesmo"? Além de Clint Eastwood e de Robert Altman, por ele mesmo citados como "exceções que confirmam a regra", eu perguntaria: e se incluirmos neste time os cineastas não-norte-americanos (que parecem ser o máximo referencial do crítico)? E Kurosawa? Almodóvar? Os franceses e outros tantos de que não me recordo agora, mas que, estou certo, somados, derrubam por terra esta teoria insustentável?

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