Este é para o Gugu e para o Flavinho
Cada geração de adolescentes se identifica com o "bruxinho" que merece. Eu e meus amigos de infância, por exemplo, discutíamos o quão amoral e esperto era John Constantine, o mago inglês (ou trapaceiro, dependendo do ponto de vista) que, para passar de mero coadjuvante em histórias do Monstro do Pântano a uma das principais personagens dos HQs, com seu próprio título, precisou de apenas algumas poucas aparições. E que voltou a atrair a atenção de uma nova geração de leitores graças ao relançamento de HellBlazer - Origens, pela editora Panini Comics. Boa leitura para encerrar o ano. Até o momento, a editora
já lançou dois volumes.
Criado em 1986 pelo gênio Alan Moore (V de Vingança, Watchmen), Constantine é um anti-herói fruto de sua época, os pessimistas anos 1980 de Margareth Tatcher, e da conturbada experiência política de seu criador (como o mercantilista e liberal Harry Potter parece ser da década passada). Para nós, amigos adolescentes, era a encarnação do ainda pouco conhecido conceito de "ser cool", o que, na época, para nós, significava que o cara podia ser um ferrado e, ainda assim, ser capaz de andar de cabeça erguida e mandar à merda os poderosos deste e de outros mundos com um estilo muito pessoal. E se safar.
Sempre com um cigarro aceso entre os dedos, Constantine era o único protagonista das histórias em quadrinhos (ou graphic novels) a conviver com um câncer enquanto outras personagens sugerem ter sido infectadas por um novo vírus mortal transmitido através de relações sexuais e erroneamente associado a uma suposta "promiscuidade gay". Seu cinismo, oportunismo e senso de preservação a todo custo era, em parte, atribuído à infância idealizada pelo roteirista inglês Jamie Delano, que concebeu toda a vida pregressa de Constantine, um filho da classe operária londrina, adolescente rebelde, ex-integrante de uma banda punk chamada Membrana Mucosa (Delano chegou a inventar que, em 1978, a banda lançou seu primeiro single, Venus of The Hardsell) que, em dado momento, passa a ser interessar pelo ocultismo e pelo sobrenatural. Fuga à realidade? Escapismo? Talvez, embora os autores fizessem questão de lembrar aos seus leitores que
"Começo a pensar que a maioria dos místicos dos quadrinhos costuma ser de velhos, muito austeros, muito distintos, CLASSE MÉDIA em vários sentidos. Eles não dariam em nada nas ruas. Ocorreu-me que podia ser interessante fazer um buxo que fosse das ruas, classe operária, com um background diferente do padrão de místicos", explicou Moore sobre sua cria, desenhada originalmente por John Totleben e Steve Bissette com base em Sting, então baixista e vocalista da The Police.
A injustiça é que Hollywood tenha feito um filme tão ruim ao levar Constantine às telas, com Keanu Reeves no papel do mago.
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