"Crescimento econômico brasileiro e crise europeia tornam futebol nacional atraente para organizações criminosas internacionais lavarem dinheiro ilícito"
Talvez porque não acompanhe futebol (embora jogue) e não me ufane de nossas chuteiras milionárias, vejo a modalidade com muitas ressalvas. Não se trata de ter espírito de porco, mas sim de achar que se nossa pretensa habilidade futebolística reflete muito do que chamamos brasilidade, a gestão do futebol brasileiro reflete o que temos de pior em nosso país: a corrupção, a apropriação privada dos bens e patrimônios públicos, o desmando, a falta de transparência e de respeito aos direitos mínimos, o enriquecimento de uns poucos, o compadrio.
Parte da responsabilidade por este quadro é, a meu ver, da chamada imprensa futebolística (há pouco de jornalismo realmente ESPORTIVO). Um exemplo? Imagine como os jornalistas políticos reagiriam caso alguém na mesma situação do presidente do Corinthians, André Sanches, fosse convidado a assumir a secretaria ou o departamento de um ministério ou de um órgão público. Qual a situação de Sanches? Ele é alvo de diversas denúncias e, segundo matérias recentes (a maioria delas feita por jornalistas de outras áreas que não a esportiva) está sendo investigado até pela PF. Ainda assim, foi nomeado diretor de seleção da CBF. Se bem que é ingenuidade minha questionar uma decisão desta natureza quando a entidade máxima do futebol brasileiro é comandada por Ricardo Teixeira.
Para mim, o maior legado que a Copa do Mundo pode deixar para o país é uma nova forma de enxergar o futebol, menos passional e ingênua.
Bird alerta que muito dinheiro e fiscalização frouxa dos países emergentes atraem o crime organizado para o futebol
Da Agência Brasil
A crise financeira europeia e o bom momento da economia brasileira têm favorecido o futebol brasileiro. Embora endividados, os clubes do país oferecem salários cada vez maiores não só para trazer de volta atletas que jogam no exterior, mas também, para manter os novos talentos, como Neymar, que recusou várias propostas para se transferir para clubes europeus e decidiu permanecer no Santos. Este bom momento do futebol nacional, contudo, acaba sendo um atrativo também para organizações criminosas internacionais.
O alerta é da consultora do Banco Mundial (Bird) Brigitta Maria Jacoba Slot. Uma das autoras do primeiro estudo a avaliar mundialmente o envolvimento do crime com o futebol, Brigitta garante que países emergentes como Brasil, Rússia e China estão na mira de quadrilhas internacionais que precisam legalizar o dinheiro obtido de forma ilegal.
De acordo com Brigitta Slot, que é holandesa, a lógica é simples: quanto mais dinheiro circular no mundo do futebol, mais interesse esse mercado despertará o interesse do crime organizado. “É necessário que o país combata o problema desde já, pois, mais tarde, será ainda mais difícil. O futebol segue o dinheiro, de forma que as mudanças na economia global levarão a mudanças também na destinação do dinheiro dessas organizações criminosas”, disse ela em um seminário sobre lavagem de dinheiro no futebol brasileiro, promovido pelo Ministério da Justiça, em Brasília.
Segundo a consultora, o estudo concluído em 2009 identificou que os mecanismos de regulação e fiscalização do futebol são frágeis e insuficientes em praticamente todo o mundo. Além disso, falta transparência na condução dos negócios futebolísticos, como contratação de atletas e investimentos feitos por dirigentes de clubes e federações.
“Concluímos que o futebol é vulnerável à lavagem de dinheiro e a outros crimes, como tráfico de pessoas e corrupção”, disse Brigitta Slot. Para ela, o endividamento e a má governança dos clubes – inclusive os milionários times europeus, que também têm alto grau de endividamento -, a falta de fiscalização adequada por parte dos governos e a paixão que o esporte desperta são alguns dos fatores que contribuem para agravar o problema.
Como os demais palestrantes que participaram do seminário, a consultora do Bird classificou como injustificáveis e insustentáveis os altos salários pagos a jogadores e treinadores, além dos valores envolvidos nas transações entre clubes. “O futebol é intocável na maioria das sociedades. Às vezes, as pessoas se perguntam quem controla quem? São os governos que impõem regras aos clubes ou é o contrário?”, perguntou ela, provocando na plateia.
A íntegra do estudo do Bird está disponível, em inglês e em espanhol na página eletrônica do banco.
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