quinta-feira, dezembro 15, 2011

Andando de Skate Em Cabul


Mursa não é um profissional e não disputa campeonatos representando grandes marcas de sportwear. Devido à violência, sua família deixou sua vila natal e se mudou para a capital de seu país, onde encontrou um ambiente tão hostil e violento quanto o que deixara para trás, mas onde o garoto de 17 anos adquiriu novos hábitos. 

Com apenas 12 anos de idade, a jovem Fazilla não aparece em revistas como a Transworld ou a Trasher. Não tem um shape com seu nome. Longe disso. Ela trabalha na rua, vendendo chicletes. E embora sua família às vezes não tenha o que comer, ela compartilha com Musa a descoberta de uma válvula de escape que lhes ajuda a lidar com a pobreza e a violência: equilibrar-se sobre um skate e saltar os obstáculos de ollie.

"No Skateistan eu não sinto que o meu redor está destruído. Me sinto em um lugar seguro", diz a garota sobre o projeto social responsável por manter a primeira (e, acredito, única) skatepark de Cabul, capital e mais populosa cidade do Afeganistão, país com mais de 3 mil anos de história e há dez anos ocupado por tropas militares da Otan, graças à declaração norte-americana de guerra ao terror, após os atentados de 11 de setembro de 2001. Guerra que, segundo algumas estimativas, já tirou a vida de mais de 12 mil civis, além de destruir de vez a já combalida economia local. 

"O skate se tornou um hábito. Se eu não andar, fico doente" diz Musa. O garoto, Fazilla e outros jovens afegãos que frequentam o projeto Skateistan ou que se divertem pelas ruas de Cabul andando de skate são as estrelas de um documentário, um curta-metragem de 10 minutos dirigido por Orlando Von Einsiedel e exibido no Brasil durante o último Festival Rocky Spirit, dedicados aos chamados esportes de natureza (ou outdoor). Reconheço no olhar e na expressão deles o prazer e a satisfação que os esportes radicais individuais podem proporcionar.

O filme mostra de forma original como o esporte, em particular o skate, pode, se não resolver a pobreza e os problemas cotidianos, ao menos contribuir para o aumento da auto-estima, indicando alternativas à criminalidade e dando esperanças de dias melhores. 

Vale a pena assistir e depois confrontar com um outro vídeo sobre jovens andando de skate, só que este bem mais estilizado, gravado em Brasília (DF) a fim de apresentar a capital brasileira como um destino turístico com espaços além dos normalmente exibidos nos telejornais.

Da minha parte, só posso prometer reclamar menos do péssimo asfalto brasileiro.




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