Caraco! Com alguns anos de atraso e graças à TV Brasil (a tv PÚBLICA que muitos insistem em continuar chamando de a tv DO governo federal), assisti hoje ao excelente documentário Fabricando Tom Zé, de 2006. Fabuloso. Vou além: mesmo incorrendo no pecado de abusar dos adjetivos, escrevo que é um dos melhores documentários musicais já produzidos no Brasil.
Entre os vários depoimentos, Caetano Veloso revela que sua então esposa, Paula Lavigne, ao assistir a um show de Tom Zé disse, na lata, que por mais que Caetano fosse bom e merecesse todo o sucesso que tem, o também baiano (de Irará) Tom Zé fazia "uma outra coisa", superior, "genial". O músico David Byrne, ex-vocalista do Talking Heads e autor do livro Diários da Bicicleta, explica que quando questionado por brasileiros que estranhavam sua decisão de lançar, nos Estados Unidos, os discos do, aqui, na época, quase esquecido Tom Zé, respondia que a originalidade de um disco como Estudando o Samba era o que mais se aproximava ao underground norte-americano. Mas é o jornalista Cláudio Tognolli o autor da melhor definição para o arretado e criativo artista septuagenário: "É o único punk brasileiro. Se você lhe oferecer dinheiro, ele vai recusar se não puder continuar fazendo aquilo que faz".
Bem pesquisado, o filme acompanha Tom Zé em incursões por sua cidade natal e por São Paulo, onde o músico vive há décadas. Além de documentar trechos de apresentações em vários países europeus. E é justamente durante a passagem de som de um destes shows que acontece uma das cenas mais inusitadas e ao mesmo tempo reveladoras sobre a personalidade do artista.
É quando Tom Zé bate-boca e chega a empurrar um dos membros da organização do mítico Festival de Montreaux, na Suíça, por se considerar desrespeitado pelos técnicos que não conseguem equalizar o som satisfatoriamente. Dá para imaginar um outro artista brasileiro ameaçando abandonar o palco do mais prestigiado festival de música por razões técnicas? O mesmo festival em que Elis Regina disse ter tremido e que consolidou a carreira internacional de Hermeto Pascoal? Pois Tom Zé faz questão de deixar claro, aos gritos: "Têm que entender que esta banda é doida e que se a noite a coisa não estiver do jeito que queremos, deixamos o palco".
Baita documentário. Pena que na maior parte do país, o sinal da TV Brasil ainda só é captado na tv paga. Mais pena ainda dá saber que mesmo onde ela está disponível na tv aberta, tem pouca audiência. Não porque seja pública e equivocadamente (muitas vezes de má-fé) associada ao governo, mas sim porque não conta em seu elenco com "nossos heróis" hipertrofiados e sem cérebro dos reality-shows.
Leia mais e veja os vídeos feitos pelo semifosco:
maio/2011 - Baiano Cumprido(r)
setembro/2010 - Bailão do Tom Zé
Se gostar de música e tiver condições, assista.
Leia mais e veja os vídeos feitos pelo semifosco:
maio/2011 - Baiano Cumprido(r)
setembro/2010 - Bailão do Tom Zé
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