domingo, setembro 16, 2012

O Mundo Precisa do Wikileaks?



Ao contrário do que pode parecer, Wikileaks - A Guerra de Julian Assange Contra os Segredos de Estado (Verus Editora) não é uma biografia oportunista do polêmico hacker australiano, ganhador de dois importantes prêmios internacionais pela contribuição dada por sua organização ao jornalismo investigativo e atualmente perseguido pelos governos suecos e norte-americano.   

Escrito pelos jornalistas David Leight e Luke Harding, do prestigiado diário britânico The Guardian, o livro analisa parte da errante infância do australiano (nascido em 1971, da relação fugaz de dois jovens hippyes que se conheceram durante protestos contra a Guerra do Vietnã) para sugerir o que o motivou a criar o site destinado a receber cópias de documentos sigilosos de interesse público e divulgá-las garantindo absoluto sigilo às fontes. 

Além de descrever em minúcias o funcionamento do Wikileaks, os autores revelam um pouco mais sobre quem é e o que levou o soldado norte-americano Bradley Manning a copiar e repassar ao site informações militares sigilosas. 

Entre os milhares de arquivos e documentos copiados pelo soldado estava a íntegra do vídeo do momento em que um helicóptero Apache do Exército norte-americano, a quilômetros de altitude, dispara contra pessoas aparentemente desarmadas reunidas em um subúrbio da capital iraquiana, Bagdá. Entre os doze mortos estavam dois funcionários da agência de notícias Reuters. Entre os feridos, duas crianças. Ao saber da presença das crianças, um dos pilotos tenta se justificar: "Bem, a culpa é deles por trazerem os filhos para uma batalha". 

Embora não tenha causado a comoção pública que Assange esperava, o vídeo ajudou os críticos da guerra do Iraque a comprovar que a chamada "guerra cirúrgica" não passava de discurso oficial. 

Neste sentido, muito mais efeito tiveram as informações que Manning vazou e o Wikileaks publicou com a ajuda de cinco dos mais importantes veículos de imprensa do mundo a respeito do número de civis mortos durante a guerra do Afeganistão; das torturas, desmandos e atos covardes perpetrados pelas forças de coalizão no Iraque, além do imenso conjunto de documentos diplomáticos que obrigariam a opinião pública mundial a olhar de forma menos complacente e ingênua as interesseiras, intrincadas e pragmáticas disputas geopolíticas. 


O vazamento levou Manning à prisão, onde aguarda ser julgado pela acusação de "fornecer informações sobre a defesa nacional a uma fonte não autorizada, informações sigilosas cuja divulgação, se acredita, poderia trazer prejuízos aos Estados Unidos". Segundo seus defensores, mesmo que não seja condenado à execução sumária, o soldado corre risco de morte, pois o isolamento e as condições subumanas em que vem sendo mantido há anos vem provocando a deterioração de suas faculdades físicas e mentais.

"Se eu fosse alguém mal-intencionado poderia ter vendido as informações a Rússia ou a China e ganhado muito dinheiro. Não fiz isso porque são dados públicos. Pertencem ao domínio público", revelou Manning, em uma sala de bate-papo, ao hacker que em seguida o denunciaria às autoridades como traidor. "Acredito que a informação deve ser livre. Outro Estado simplesmente se aproveitaria das informações e tentaria conquistar alguma vantagem. Eu quero que as pessoas vejam a verdade, independentemente de quem são, porque, sem informação, você não pode tomar decisões fundamentadas".

Enquanto Manning, há 850 dias na prisão, recebe pouca atenção da mídia, Assange se encontra asilado na embaixada equatoriana no Reino Unido. Se for detido e extraditado para a Suécia, onde responde a dois controversos processos por estupro, Assange pode ser condenado à prisão perpétua. Ou, pior: à morte, conforme clamam alguns parlamentares republicanos, alegando que o australiano contribuiu com os inimigos dos EUA, colocando a vida de milhares de pessoas em risco ao divulgar documentos sigilosos. 

Sem tomar partido de Assange e não se furtando a apontar suas idiossincrasias, Leigh e Harding sugerem as mudanças impostas pela internet não só ao jornalismo, mas ao conceito de comunicação como um direito. A leitura do livro sugere tantas e diferentes discussões, que seria impossível resumir, com riqueza, tudo em um único post.





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