sábado, dezembro 22, 2012

Desacordo Ortográfico



A Agência Brasil (ABr) - uma agência PÚBLICA de notícias, vinculada a EBC e à estrutura do governo federal, mas editorialmente independente - publicou, ontem (21), um apurado material a respeito do acordo ortográfico assinado por sete países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, em 2008, e cuja entrada em vigor (que estava prevista para o início do próximo ano) deverá ser adiada nos próximos dias. São, ao todo, 15 matérias que valem uma olhada com calma. Para tanto, basta clicar sobre o título das matérias abaixo.

ABL já propõe mudanças e ampliação do acordo

As novas regras ortográficas da língua portuguesa ainda não entraram plenamente em vigor, mas a Academia Brasileira de Letras (ABL) já tem propostas de mudanças e ampliação no acordo. Segundo o acadêmico Evanildo Bechara, as alterações são “coisa muito pequena” diante da abrangência do acordo ortográfico.

Portugueses criticam adoção do acordo ortográfico

A despeito de Portugal ter aceito formalmente o acordo ortográfico antes do Brasil, a mudança de algumas regras na escrita ainda gera polêmica e divide opiniões no país de origem da língua portuguesa. Alguns lusitanos sentem que a reforma os força a escrever (e até a falar) como os brasileiros. Em Portugal, o acordo está em vigor desde 13 de maio de 2009. A resolução de adotá-lo prevê um prazo transitório de até seis anos para implementação definitiva da nova grafia.

 

Professor critica forma como acordo foi discutido

O professor Ernani Pimentel criticou a forma como o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi discutido, já que segundo ele apenas dois gramáticos formularam as regras, que passam a ser obrigatórias no país a partir de 2013: Antonio Houaiss, da Academia Brasileira de Letras (ABL), e Malaca Casteleiro, da Academia da Ciência de Lisboa.

Escritores acreditam que acordo não altera a prosa

Dez anos antes da Academia Brasileira de Letras (ABL) estabelecer o Formulário Ortográfico (1943) - uma das primeiras tentativas de se organizar, no Brasil, o vocabulário ortográfico da língua portuguesa -, o compositor Noel Rosa indicava que  os brasileiros se apropriavam de modo peculiar do idioma de matriz europeia. E que a língua é de quem a usa. “Tudo aquilo que o malandro pronuncia com voz macia é brasileiro, já passou de português”, escreveu o “Poeta da Vila” na canção Cinema Falado.

O mesmo fenômeno de apropriação, enriquecedor nos vocábulos e na expressão de sentimentos, também pode ser notado no trabalho de escritores de outros países lusófonos. Para eles, assim como para Noel Rosa, “já passou de português” o que se quer dizer aos leitores e as regras do idioma escrito, não alteram as intenções autorais e a maneira de como escrevem.

“O escritor, enquanto artista, deve poder trabalhar a língua da maneira que ela gere uma linguagem estética capaz de acompanhar seu processo criativo, pois isso gera uma marca identitária [adjetivo relativo a identidade] própria a cada escritor. Isto é uma urgência que vem de dentro. Partimos de pressupostos, de uma gramática semelhante, mas aquilo que faz a literatura de cada um nem sequer é o fato de ser angolano, moçambicano ou brasileiro, mas sim as urgências, os anseios e os medos de cada um”, explica o o escritor angolano Ndalu de Almeida, que assina com o pseudônimo de Ondjaki.

Ele defende a supremacia da literatura como “espaço de mediação identitária entre os países de língua portuguesa” acima do idioma oficial. A escritora moçambicana Paulina Chiziane é clara ao dizer “o acordo não afeta a minha produção”, apesar de sentir “pena” de ter que comprar “novos livros, novas gramáticas, novos dicionários”. O escritor cabo-verdiano Germano de Almeida concorda com seus colegas e avalia que, embora novas regras possam alterar “hábitos instalados”, o acordo não acarretará maiores transtornos.

“Em Cabo Verde não há problemas quanto ao acordo. A língua é um instrumento e defendemos que temos que nos preocupar com [o fato de ] que cada um de nós [países de língua portuguesa] tenha um português. Na medida em que conseguimos aproximar a língua, que todos tenhamos um português próximo, fazemos isso”, diz Germano.

Germando, Ondjaki e Chiziane estiveram em Brasília em abril passado para participar da 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura; assim como a historiadora e poetisa angolana, Ana Paula Tavares. Na ocasião, ela também revelou boa vontade com a reforma ortográfica. “Não tenho problema nenhum em escrever segundo o novo acordo para minha comunicação normal”. Ela ressalvou, no entanto, a diferença entre escrever em prosa ou em verso. “Quando escrevo poesia, surgem algumas dificuldades, já que a palavra poética obedece a um ritmo, a uma musicalidade, que lhe está implícita. Se eu de repente tiro o "p" de egípcio, esta simples letra faz falta”.

Feita a ponderação, ela salienta que “algumas pessoas que recusam o acordo escondem preconceitos como se acharem as donas do idioma e não aceitarem que este seja modificado ao sabor do que consideram um serviço aos [países] herdeiros da língua. Não tenho esse preconceito. Acho que, se é possível simplificar a comunicação, deve-se seguir este caminho. Já os escritores, os criadores, vão ter que pensar esta questão. 

O acordo é ortográfico. Não tem implicações no sentido fundamental da escrita. A escolha da ortografia, contudo, vai depender muito do autor. Se o poema me exigir que eu fique com a grafia antiga, vou optar por ela”, afirma, para destacar que a criação tem liberdade ortográfica.

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