A Agência Brasil (ABr) - uma agência PÚBLICA de notícias, vinculada a EBC e à estrutura do governo federal, mas editorialmente independente - publicou, ontem (21), um apurado material a respeito do acordo ortográfico assinado por sete países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, em 2008, e cuja entrada em vigor (que estava prevista para o início do próximo ano) deverá ser adiada nos próximos dias. São, ao todo, 15 matérias que valem uma olhada com calma. Para tanto, basta clicar sobre o título das matérias abaixo.
ABL já propõe mudanças e ampliação do acordo
As novas regras ortográficas da língua portuguesa ainda não entraram plenamente em vigor, mas a Academia Brasileira de Letras (ABL) já tem propostas de mudanças e ampliação no acordo. Segundo o acadêmico Evanildo Bechara, as alterações são “coisa muito pequena” diante da abrangência do acordo ortográfico.
Portugueses criticam adoção do acordo ortográfico
A despeito de Portugal ter aceito formalmente o acordo ortográfico antes
do Brasil, a mudança de algumas regras na escrita ainda gera polêmica e
divide opiniões no país de origem da língua portuguesa. Alguns
lusitanos sentem que a reforma os força a escrever (e até a falar) como
os brasileiros. Em Portugal, o acordo está em vigor desde 13 de maio de 2009. A resolução de adotá-lo prevê um prazo transitório de até seis anos para implementação definitiva da nova grafia.
Professor critica forma como acordo foi discutido
O professor Ernani Pimentel criticou a forma como o Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa foi discutido, já que segundo ele apenas dois
gramáticos formularam as regras, que passam a ser obrigatórias no país a
partir de 2013: Antonio Houaiss, da Academia Brasileira de Letras
(ABL), e Malaca Casteleiro, da Academia da Ciência de Lisboa.
Escritores acreditam que acordo não altera a prosa
Dez anos antes da Academia Brasileira de Letras (ABL) estabelecer o Formulário Ortográfico
(1943) - uma das primeiras tentativas de se organizar, no Brasil, o
vocabulário ortográfico da língua portuguesa -, o compositor Noel Rosa
indicava que os brasileiros se apropriavam de modo peculiar do idioma de matriz europeia. E que a língua é de quem a usa. “Tudo aquilo
que o malandro pronuncia com voz macia é brasileiro, já passou de
português”, escreveu o “Poeta da Vila” na canção Cinema Falado.
O mesmo fenômeno de apropriação, enriquecedor nos vocábulos e na
expressão de sentimentos, também pode ser notado no trabalho de
escritores de outros países lusófonos. Para eles, assim como para Noel
Rosa, “já passou de português” o que se quer dizer aos leitores e as
regras do idioma escrito, não alteram as intenções autorais e a maneira de como escrevem.
“O escritor, enquanto artista, deve poder trabalhar a língua da
maneira que ela gere uma linguagem estética capaz de acompanhar seu
processo criativo, pois isso gera uma marca identitária [adjetivo
relativo a identidade] própria a cada escritor. Isto é uma urgência que
vem de dentro. Partimos de pressupostos, de uma gramática semelhante,
mas aquilo que faz a literatura de cada um nem sequer é o fato de ser
angolano, moçambicano ou brasileiro, mas sim as urgências, os anseios e
os medos de cada um”, explica o o escritor angolano Ndalu de Almeida,
que assina com o pseudônimo de Ondjaki.
Ele defende a supremacia da literatura como “espaço de mediação
identitária entre os países de língua portuguesa” acima do idioma
oficial. A escritora moçambicana Paulina Chiziane é clara ao dizer “o
acordo não afeta a minha produção”, apesar de sentir “pena” de ter que
comprar “novos livros, novas gramáticas, novos dicionários”. O escritor
cabo-verdiano Germano de Almeida concorda com seus colegas e avalia que,
embora novas regras possam alterar “hábitos instalados”, o acordo não
acarretará maiores transtornos.
“Em Cabo Verde não há problemas quanto ao acordo. A língua é um
instrumento e defendemos que temos que nos preocupar com [o fato de ]
que cada um de nós [países de língua portuguesa] tenha um português. Na
medida em que conseguimos aproximar a língua, que todos tenhamos um
português próximo, fazemos isso”, diz Germano.
Germando, Ondjaki e Chiziane estiveram em Brasília em abril passado
para participar da 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura; assim como a
historiadora e poetisa angolana, Ana Paula Tavares. Na ocasião, ela
também revelou boa vontade com a reforma ortográfica. “Não tenho
problema nenhum em escrever segundo o novo acordo para minha comunicação
normal”. Ela ressalvou, no entanto, a diferença entre escrever em prosa
ou em verso. “Quando escrevo poesia, surgem algumas dificuldades, já
que a palavra poética obedece a um ritmo, a uma musicalidade, que lhe
está implícita. Se eu de repente tiro o "p" de egípcio, esta simples
letra faz falta”.
Feita a ponderação, ela salienta que “algumas pessoas que recusam o
acordo escondem preconceitos como se acharem as donas do idioma e não
aceitarem que este seja modificado ao sabor do que consideram um serviço
aos [países] herdeiros da língua. Não tenho esse preconceito. Acho que,
se é possível simplificar a comunicação, deve-se seguir este caminho.
Já os escritores, os criadores, vão ter que pensar esta questão.
O
acordo é ortográfico. Não tem implicações no sentido fundamental da
escrita. A escolha da ortografia, contudo, vai depender muito do autor.
Se o poema me exigir que eu fique com a grafia antiga, vou optar por
ela”, afirma, para destacar que a criação tem liberdade ortográfica.
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