quinta-feira, dezembro 20, 2012

Pode Pará Não!


Pode Pará não!

Calor? Aproveita. É o cálido vapor amazônico grudando na epiderme.

Princípio da tarde, toca pros lados do Guamá, tomar um picolé Cairu, nas Docas, bancando o barão.

Pega o moto-taxi na Presidente Vargas e segue lá pra NÁ que vai ter microfonia. Pra abrir os trabalho, apanha uma Cerpa Golden. Chega frescando na menina empiriquetada de all-star e tattoo, mas, quase dispré, leva o farelo.

Sem mais, espoca fora e volta à rua abafada. Mas como então? Tá ainda mais quente e os ouvidos zuindo. Vai se refrescar no Jardim Botânico, mas logo se enche de verde, procura mais uma Cerpa e segue pra Cidade Velha de ônibus, passando direto pelo Ver-O-Peso, sem se deter porque a fome aperta e o objetivo é chegar a Dona Dica, na Almirante Tamandaré.

O qual? Pirarucu com pupunha; mexilhão com jambu; mortadela defumada com tomate seco e queijo de búfala regados ou não ao molho de pimenta-de-cheiro com tucupi. Na dúvida, fica com dois. Satisfeito, arreda prometendo voltar pra cear sopa de caranguejo com ovo de codorna. Barriga cheia, vai se refestelar em um banco do jardim da Casa das Onze Janelas com Kerouac On The Road.

Varejeiras bijuzadas passeiam à beira-rio, ambicionando passeios em vuadeira. E você, nem tchuns! Volta pro hotel mequetrefe diante do Ver-O-Peso desviando dos pedintes, bêbados caídos na calçada e urubus. A resistência do chuveiro queimada não é problema com o calor senegalesco que a brisa do Guamá não afasta.

Troca de roupa maldizendo o ar-condicionado disfuncional e sai de volta pra Cidade Velha, onde, a esta altura, o Palafita já está balançando, parecendo que vai cair ao som de Tim Maia Racional, mas, com a proteção do síndico, não cai. Você quer gravar, você quer beber, você quer tirar pra dançar a filha dos caboclos ou até mesmo a loirinha descendente de alemães que vieram comercializar látex...você quer, mas você é cool, você é paulista, você é a terceira geração de caiçaras, você simplesmente não sabe dançar. Ou não sabia. Até que a coroa baixinha e gordinha se aproxima e diz, “bora, dançá!”. Você ainda balbucia que não sabe, mas quando vê, já está a segurando pela cintura, rodando parado no salão lotado e olhando entre as frestas do chão de ripas o rio seguindo seu curso.

Você pede mais uma Cerpa Golden e deixa a vida também seguir seu curso. Afinal, mais tarde ainda tem Se Rasgum, no African Bar.

E pode Pará não!

#005 Pará by Alex Rodrigues on Grooveshark
Ouça também: _  

Nenhum comentário: