Freud chegou a interromper uma sessão para perguntar a seu paciente, um ator, se ele acreditava que Shakespeare havia de fato escrito a obra que lhe é atribuída. Tolstoi dizia detestar o dramaturgo inglês. Diversos outros homens extraordinários chegaram a questionar a possibilidade do filho de um artesão de luvas ser o maior autor da língua inglesa, um gênio universal, um artista não só incrivelmente criativo, mas, como dizem, que compreendeu e expôs a essência humana como nenhum outro, condensando-a em uma frase lapidar, a existencialista ser ou não ser, eis a questão.
Os esforços de alguns para negar a William Shakespeare (1564/1616) a autoria de sua obra foi um dos pontos discutidos pelo professor de literatura da Universidade de Columbia, James Shapiro, e o professor de literatura em Berkeley e Harvard, Stephen Greenblatt, durante a mesa seis da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), esta manhã (6). Ambos minimizaram o fato de existirem poucos registros da vida privada do dramaturgo, o que ajudou a alimentar as especulações de que parte das peças que hoje levam seu nome tenha sido escrita por outros autores.
"Shakespeare era um ator e dramaturgo que dirigia sua própria companhia, a Lord Chamberlain's Men. Não era um nobre ou um homem proeminente. Daí não ser um mistério o fato de haver tão poucos documentos e sabermos tão pouco sobre ele. Existe o registro de batismo, declarações de impostos e atestado de óbito. Infelizmente, não há o tipo de documento que os leitores contemporâneos exigem, mas creio que mesmo que houvesse, a dúvida persistiria, pois o que nos surpreende é como ele foi capaz de escrever tal obra", disse Shapiro.
"Freud não acreditava que Shakespeare fosse o autor de sua obra. Ele era tão obcecado com isso, quanto era influenciado pela obra dramatúrgica. A teoria do Complexo de Édipo tem muito o que ver com o drama vivido por Macbeth", afirmou Greenblatt, defendendo a tese de que, em seus últimos anos de vida, o bardo inglês trabalhou em parceria com outros autores. "Ele era um ator que precisava ensaiar muito e, como diretor, estava sempre promovendo mudanças de última hora em suas peças, o que lhe deixava pouco tempo para escrever. A primeira metade de Péricles, Príncipe de Tiro, visivelmente não foi escrita por ele", concluiu Greenblatt.
Shapiro e Greenblatt destacaram o fato de que Shakespeare foi o primeiro dramaturgo a ganhar muito dinheiro com sua obra. E que, como sócio de sua companhia teatral, tinha pleno domínio estético sobre suas peças, das quais conhecemos 38, além de 154 sonetos, dois longos poemas narrativos e vários outras poesias - tudo traduzido para os principais idiomas e, no caso das peças, constantemente encenadas.
* Para quem quiser saber mais sobre o assunto, vale ler o excelente livro Falando de Shakespeare, da crítica teatral Barbara Heliodora, brasileira mundialmente reconhecida como uma das maiores especialistas na obra do dramaturgo inglês
* Para quem quiser saber mais sobre o assunto, vale ler o excelente livro Falando de Shakespeare, da crítica teatral Barbara Heliodora, brasileira mundialmente reconhecida como uma das maiores especialistas na obra do dramaturgo inglês
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