Cotado para o Nobel de literatura e só agora publicado no Brasil (Poemas, R$ 42, Cia das Letras), o poeta sírio Adonis injetou indignação nos até agora mornos debates desta 10ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), cujos organizadores o apresentaram ao público como "o grande renovador da poesia árabe do século XX" - justamente por Adonis ter explorado novos temas para além do que ele próprio classifica como o polo estático (al thabit wa) da cultura árabe, ou seja, a religião.
Hoje (6), entre críticas aos Estados Unidos e ao regime do presidente sírio Bashar Al Assad (que desde março de 2011 enfrenta manifestações de populares que exigem sua renúncia), o poeta de 82 anos defendeu a transgressão e o constante questionamento como características que distinguem a legítima arte, destacando-a do proselitismo político ou religioso.
A seguir, algumas poucas declarações de Adonis anotadas durante o bate-papo do sírio com o escritor e jornalista libanês Amim Maalouf.
"O Ocidente se tornou refém da energia fornecida pelo petróleo e, portanto, do Oriente Médio, que o produz. Além disso, se tornou refém também da indústria armamentista"
"Obama é simplesmente uma máscara negra em um rosto branco"
"Não se pode defender o atual regime político sírio, mas se a mudança não for completa, com a necessária separação entre Estado e religião e com maior liberdade feminina, a mudança do regime não significará nada. É preciso mudar o regime, mas também nos perguntarmos o que vamos fazer depois [de mudá-lo]"
"Uma literatura árabe devidamente humana e criadora deve ser fundada na transgressão. Se não questionar nossas tradições, não haverá uma grande literatura árabe"
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