domingo, julho 15, 2012

Tulipa Ruiz - nada efêmera


                                   "Vou ficar mais um pouquinho para ver se eu aprendo alguma coisa nesta parte do caminho"

Olha, amigo,  insisto: não acredite no chavão de que a música popular brasileira anda uma merda só porque as rádios e os programas de auditório `só querem tchu, só querem tchá´ pensando em `se te pegam´ a fim de lobotomizar sua atenção, sedando seu espírito crítico e lançando-o em um estado de baixa reatividade emocional. (como já sabem meus três leitores, odeio clichês do tipo, "ah, mas Brasília não tem o que fazer!")  

Os verdadeiros artistas da nova safra musical ainda não chegaram aos comerciais anti-pirataria produzidos pela Abert ou à programação da maioria das rádios do país. E, talvez, nunca cheguem, embora sejam muitos, diversos entre si e estejam oxigenando a cena contemporânea. 

De Norte a Sul, de Leste a Oeste, os criadores com alguma chance de produzir algo que não seja tão efêmero quanto o maior sucesso mensal de todos os tempos estão nos palcos de pequeno e médio porte, nos blogs de opinião como A Musicoteca, nos palcos de entidades sócio-culturais como o Sesc e no youtube, disputando sua atenção com muita porcaria chancelada por quem segue a máxima que ninguém jamais deixou de ganhar dinheiro por subestimar a inteligência do público. E só alguns poucos receberão o visto para adentrar as terras da Grande Família, em Jacarepaguá, ou o Reino de Deus, por exemplo.

Cabe aos interessados pesquisar e fugir ao fast-food cultural servido frio pelos programadores desinteressados. Porque estes só querem manter as coisas como antes, indiferentes à realidade de que, embora não pareça, estão gradualmente perdendo audiência - já que, com mais e novos canais de comunicação, inclusive direta e pessoal, muita gente já se deu conta de que nem só de Big Mac vive o homem e decidiu montar seu próprio playlist.  

É a tal da Teoria da Cauda Longa, conforme divulgada, em 2006, pelo então editor-chefe da revista Wired, Chris Anderson.

 

A cantora paulista Tulipa Ruiz é uma destas "novas vozes brasileiras". Embora tenha lançado um único disco (o segundo já está pronto e deve sair em breve), já conquistou uma legião fiel de fãs e inscreveu ao menos uma composição (Efêmera, registrada acima) entre as mais queridas e lembradas por quem curte a nova cena. 

Filha de pai músico, a ex-jornalista e ilustradora de 33 anos demorou a decidir enveredar pela música. Quando o fez, precisou de pouco mais de um ano para lançar o elogiadíssimo cd Efêmera (2010) e ganhar o público com a qualidade de suas composições e sua simpatia.

Sempre acompanhada por bons instrumentistas, Tulipa conquista de cara. Na última sexta-feira (13), em Brasília (DF), ao se apresentar de graça na abertura do Festival Internacional de Humor e Arte em Aids, entrou no palco aplaudidíssima pelo público já devidamente entusiasmado com os shows anteriores do rapper Gog e da, para mim, maior aposta musical do país, a brasiliense Ellen Oléria. Bastou uma canção e ela já tinha a todos nas mãos, se permitindo inclusive ousadias como a louca e arrastada interpretação da música Da Maior Importância, do Caetano Veloso - algo que poderia ter custado a perda do interessa da plateia até mesmo para artistas com muito mais tempo de estrada que ela. 

No dia seguinte, conversando com amigas que estiveram na área externa do Museu Nacional, uma constatação que comprova minha impressão de que o show foi ótimo: todos acordamos assoviando ou cantando alguma das músicas de Tulipa. Um bem-estar nada efêmero.  


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