sábado, março 05, 2011

Este tal Lope de Vega

Estreou ontem (4), em algumas cidades brasileiras, o filme Lope, uma co-produção Brasil/Espanha dirigida por Andrucha Waddington (Eu Tu Eles - Casa de Areia) sobre os anos de formação do dramaturgo e poeta espanhol Lope de Vega (1562-1635), um dos mais importantes e produtivos de seu país.

Produção de época, o filme é técnicamente impecável. Roteiro, figurinos, fotografia, maquiagem e direção de atores corretíssimos. No entanto, falta paixão à narrativa. Principalmente na elaboração da personagem principal, interpretada pelo argentino Alberto Ammann.

Ammann parece ser um bom ator (em 2010 recebeu o prêmio Goya de ator revelação por sua participação em `Celda 2011´, até onde sei, inédito no Brasil) e não está mal, mas sua atuação excessivamente contida reduz ao mínimo uma das características mais comentadas da personalidade de Lope, ou seja, sua capacidade de despertar e de viver grandes paixões. Característica esta que se vê derramada em sua obra, como no poema que encerra o filme: 

                                    
                                            DEFINIÇÃO DO AMOR

                                        Desmaiar-se, atrever-se, estar furioso
                                        áspero, terno, liberal, esquivo,
                                        alentado, mortal, defunto, vivo,
                                        leal, traidor, covarde e valoroso;
                                        não ver, fora do bem, centro e repouso,
                                        mostrar-se alegre, triste, humilde, altivo,
                                        enfadado, valente, fugitivo,
                                        satisfeito, ofendido, receoso;
                                        furtar o rosto ao claro desengano,
                                        beber veneno qual licor suave,
                                        esquecer o proveito, amar o dano;
                                        acreditar que o céu no inferno cabe,
                                        doar sua vida e alma a um desengano,
                                        isto é amor; quem o provou bem sabe.


Apesar disso, os acertos fazem valer o ingresso. Além da oportunidade de conhecer um pouco mais sobre o escritor (infelizmente, bem pouco sobre o que de fato interessa, ou seja, sua obra), é a prova de que, com os recursos necessários, um brasileiro sabe como fazer filmes de época tão ao convencional gosto do mercado.  

Detalhe: há brasileiros também diante das câmeras. Sônia Braga vive a mãe de Lope, mas sua participação se resume a não mais que dez minutos, e Selton Mello interpreta um nobre que contrata os serviços do poeta para tentar conquistar, sem o saber, a amiga de infância deste. Clichê? Sim, é, mas, enfim... 

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