segunda-feira, junho 27, 2011

Estilo Galinha

Porr não sei quais rrazões, começo a semana prevendo que ela irrá combinarr com o som do multi-instrumentista curritibano O Lendário Chucrobillyman (Klaus Koti) e sua viola caipirra mezzo Delta (do Mississipi) Blues, mezzo rrrrrock´n´roll. Reparem que a "baterria"  foi montada a partirr de objetos comuns e descarrtados como latas de tinta e um tamborrr de lixo que faz às vezes de bumbo.  

terça-feira, junho 21, 2011

Festival confirma interesse do público pela ópera

 fotos: Marcello Casal /ABr
 

Filas. Ingressos gratuitos esgotados em poucas horas. Pessoas entusiasmadas aplaudindo ao fim dos ensaios. Se havia alguma dúvida quanto à existência de público para espetáculos de ópera na capital federal, ela se desfez durante a abertura do 1º Festival de Ópera de Brasília, no último dia 7 de junho. Os organizadores tiveram de providenciar cadeiras extras para acomodar quem não conseguiu lugar entre as 1,6 mil poltronas da Sala Villa Lobos do Teatro Nacional.

“A qualidade musical dos espetáculos e dos artistas não deixam nada a desejar. Temos uma grande orquestra, importantes cantores do cenário nacional e músicos locais talentosos”, comentou o diretor musical da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional e diretor geral do festival, o maestro Cláudio Cohen. Empolgado com o interesse do público por um gênero musical tido por muitos como elitista, Cohen já dá como certo a transformação da iniciativa em um evento anual.

Ao acompanhar, na quinta-feira (16), o último ensaio antes das duas apresentações da obra Pagliacci, do italiano Ruggero Leoncavallo (1857-1919), comprovei que o público é heterogêneo, composto por entusiastas do gênero e por quem diz que só não havia ido a um espetáculo antes por falta de oportunidades. Como os músicos se apresentaram devidamente caracterizados, vestindo todo o figurino, com a orquestra sinfônica completa e a apresentação da peça na íntegra, boa parte do teatro foi ocupada por quem não havia conseguido um ingresso para as apresentações. Caso do jornalista Luis Joca que disse ter ficado satisfeito. “Gosto de ópera, mas, pela falta de oportunidades, tenho assistido a poucas. Deveria haver mais espetáculos na cidade e a ideia de tornar este festival anual é maravilhosa.”

“A ópera não é um bicho de sete cabeças e eu tenho certeza de que muitas pessoas se apaixonam na medida em que são apresentadas ao gênero. O que falta é mais informação e divulgação. Como a mídia, em geral, só exibe o que interessa ao mercado, algumas pessoas a consideram algo chato, difícil, mesmo sem nunca ter assistido a um espetáculo”, argumenta o maestro Emílio de César, convidado para reger Pagliacci. O espetáculo é apresentado, como outras obras, com tradução simultânea do texto (libreto). “Além disso, seria necessário maior atenção e estímulo por parte do Poder Público. Montar um espetáculo destes é muito caro e para formar público não bastam eventos pontuais. É necessária uma agenda regular”, acrescentou o maestro.

Criado, segundo Cohen, para atender “à demanda reprimida” da capital e para “baixar os custos necessários à realização de uma série de espetáculos exibidos isoladamente”, o festival não apenas trouxe a Brasília artistas já conhecidos para se apresentar com a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, como deu a muitos jovens cantores e estudantes de música de Brasília e Goiânia a oportunidade de cantar uma ópera em público pela primeira vez. Tudo isso, de acordo com Cohen, por aproximadamente R$ 600 mil. “O que não é nada para um evento deste porte. Logicamente, para o futuro, nós já estamos pensando em como montar óperas maiores, com um maior número de apresentações, e isso elevará os custos.”

Um dos músicos convidados, o tenor porto-alegrense Juremir Vieira, vive há 15 anos na Suíça, para onde se mudou com o intuito de viver exclusivamente da ópera. Para ele, embora haja público para o gênero, bons profissionais e professores para instruir “os muitos jovens que querem cantar ópera”, o Brasil ainda não conseguiu encontrar uma forma ideal de financiar as companhias artísticas. Segundo ele, mesmo na Europa, essas companhias não conseguem viver exclusivamente da bilheteria.

“Na Europa, além do patrocínio estatal, há casos de teatros e orquestras mantidos pela iniciativa privada. Aqui, há demanda, mas ainda é preciso mudar a mentalidade dos patrocinadores”, comentou Vieira, apontando uma razão para não voltar a viver no Brasil. “Gostaria de voltar, mas isso depende do mercado que, aqui, depende exclusivamente dos governos, que são burocráticos. Os cachês, aqui, demoram muito para serem pagos. Já tive que esperar um ano para receber o cachê de uma apresentação. Como sobreviver durante este tempo sem ter que fazer outras coisas?”.

O 1º Festival de Ópera de Brasília segue até o final do mês, sempre com entrada franca. Além da última apresentação do espetáculo Pagliacci, às 20h de hoje (18), o público poderá ver, nas próximas quinta (23) e sexta-feira (24), a montagem de Cavalleria Rusticana, composta pelo também italiano Pietro Mascagni (1863-1945). No dia 28, encerramento do evento, o maestro Cláudio Cohen irá reger o concerto no qual todos os solistas que tenham se apresentado durante o mês dividirão o palco.

sexta-feira, junho 17, 2011

Festival de Ópera de Brasília


Ingressos esgotados em pouco mais de duas horas para o segundo final de semana de espetáculos do I Festival de Ópera de Brasília. Prova de que há demanda pelo gênero no país. Abaixo, o belíssimo cartaz do evento.

Ontem (16), assisti ao último ensaio de Pagliacci, de Ruggero Leoncavallo (1857-1919). Minha primeira ópera, diga-se de passagem. Como muita gente interessada não conseguiu ingresso para as apresentações de hoje e amanhã e os músicos se apresentariam devidamente caracterizados, com a orquestra sinfônica completa e a apresentação da peça na íntegra, ao menos um terço dos 1.6 mil assentos foram ocupados por um público que, ao final, aplaudiu entusiasticamente. Para os neófitos, como eu, a tradução simultânea do texto auxilia a compreensão da história, embora desvie um pouco a atenção da apresentação.

O Festival, que segundo o diretor musical da Orquestra Sinfônica do Teatro Naciona, o maestro Cláudio Cohen, vai se tornar um evento anual, com mais apresentações, segue até o final do mês. O próximo espetáculo, a ópera Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni, será encenado na próxima quinta-feira (23) e na sexta-feira (24). No dia 28 ocorre o concerto de encerramento, regido por Cohen e no qual todos os solistas que tenham se apresentado durante o mês irão dividir o palco. 

quinta-feira, junho 16, 2011

STF: discutir mudanças não é fazer apologia

Não se trata de fazer apologia à maconha ou ao uso de quaisquer outras drogas que, como tudo mais (por exemplo, a fé cega), pode fazer mal a quem as use e a terceiros. A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que, ontem (15), decidiu, por unanimidade, que a Justiça brasileira não pode proibir a realização de protestos em prol da descriminalização da maconha, deve sim é ser vista como uma vittória contra o obscurantismo e a favor da defesa de direitos constitucionais, como a liberdade de expressão. Mais que isso: é o reconhecimento de que se todo poder emana do povo, cabe-lhe o direito de discutir, de se informar e de se manifestar livremente sobre o que quer que seja.  E que, em última instância, leis não são imutáveis.

A proibição à realização da Marcha da Maconha por alguns juízes representava um perigoso precedente, inimaginável em um regime democrático. Que fique claro: o STF não apreciou ontem nenhuma mudança em relação às drogas, mas sim o direito das pessoas se manifestarem a respeito do tema. E, assim como já havia feito ao reconhecer os direitos civis decorrentes de uniões homoafetivas, voltou a dar esperança aos que desejam uma sociedade menos conservadora e mais aberta ao debate.

Leia abaixo as manifestações dos oito ministros do STF que "liberaram" a realização das marchas:
 
 
"Liberdade de expressão não é apenas o direito de falar aquilo que as pessoas querem ouvir. A liberade existe para proteger manifestações que incomodam agentes públicos e privados capazes de mudar de opinião”
Marco Aurélio Mello

“A marcha nada mais é do que uma reunião em movimento e, por isso, está garantida na Constituição. Não é lícito proibir qualquer manifestação a respeito do que quer que seja”
Ricardo Lewandowski


“Nenhuma lei pode se blindar contra a discussão de seu conteúdo. Nem a Constituição Federal está livre de questionamentos. É lícito discutir qualquer tema”
Carlos Ayres Britto

“O indivíduo é livre para posicionar-se publicamente a favor da exclusão da incidência da norma penal sobre o consumo de drogas, mas não ao consumo do entorpecente”
Luiz Fux

“Nada se revela mais nocivo e perigoso que a pretensão do Estado de proibir a livre manifestação”
Celso de Mello

“A liberdade é mais criativa do que qualquer proibição”
Cármem Lúcia (numa alusão às Marchas da Pamonha, forma encontrada pelos manifestantes para driblar a proibição às marchas a favor da regulamentação da maconha)

“Me sinto aliviada de que a minha liberdade de pensamento esteja garantida”
Ellen Gracie

“O silêncio autoritário não é o modo nem o meio mais curial de resposta ou de combate a ideias ou propostas discutíveis”
Cezar Peluso

quarta-feira, junho 15, 2011

Tirando Onda


Domingão modorrento, eu faxinando a casa após uma dura semana de trabalho e me vem um prego brasiliense tirar onda de aventureiro. Cerca de um mês após retornar a Brasília depauperado, sem grana para ir sequer a Cidade de Goiás (GO) acompanhar, neste próximo final de semana, o Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica) e o show do Manu Chao, meu amigo Carlos Leite encontrou um jeito peculiar de viajar. SE LIGA, CARLOS!


De: Carlos Leite leiteempedra@ig.com.br
Assunto: Surf Music
Para : semifosco semifosco@blogspot.com
12 de junho de 2011 11:25


Velho! Vc nem vai acreditar. Na quinta-feira [9] eu acordei em Brasília, tomei café da manhã em Manaus, almocei em Boa Vista e voltei pra casa, em Brasília, a tempo de jantar. Sério. Viagem doida, mas mais doido é como eu me meti nesta.
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Na quarta-feira eu tava de bobeira no Conic quando me aparece um boiadeiro com que fui falar nem sei o quê. E o boiadeiro tinha uma passagem e um servicinho fácil que renderia um dinheiro para quem fizesse um bate-volta até a capital roraimense no dia seguinte.
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O serviço, segundo o sujeito, era fácil: bastava levar uma mala para um parente dele que estaria aguardando no aeroporto de Boa Vista. Não entendi direito o que tinha na mala, mas o boiadeiro comentou que tinha prometido entregá-la antes do final da semana pois alguém precisava muito do que estava guardado nela.
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Você me conhece, não? Nem preciso dizer que topei a parada. Nem tanto pelo dinheiro, mas principalmente pela viagem em si. Sobrevoar a Amazônia é algo espetacular e que compensa o cansaço. Saí de Brasília as 5h30. Cheguei em Manaus por volta das 9 horas e tivemos que esperar até que a chuva em Boa Vista parasse para podermos seguir viagem até nosso destino.
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O boiadeiro só se esqueceu de me avisar que Roraima enfrenta o pior inverno dos últimos 35 anos e que a maior parte do estado, inclusive a capital, está sob água. Por isso, não daria para fazer nem conhecer nada nas poucas horas que eu tinha na cidade. Ainda pensei em trocar a data de volta, mas os voos na Região Norte são caríssimos e eu desisti da ideia.                           
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Não deu para conhecer nada além do aeroporto e das ruas próximas, mas só de sobrevoar aquele tapete verde que é a floresta amazônica e ver do alto a grandiosidade dos rios Negro e Amazonas (além de ganhar uma graninha) já valeu a pena.


Abraço, semifosco.


terça-feira, junho 14, 2011

Os Caprichos de Goya


Últimos dias para quem estiver em Brasília ver de perto as reproduções da série de gravuras que o pintor espanhol Francisco Goya [1746-1828] produziu durante a última década do século XVIII para, segundo ele próprio, "censurar os erros e os vícios humanos" e "apresentar as coisas ao ridículo, fustigar preconceitos, imposturas e hipocrisias".

Nas gravuras expostas até este sábado (18), no Espaço Cultural Instituto Cervantes, Goya retrata cenas com as quais comenta a prostituição, a educação, o casamento por conveniência, a crueldade, a hiprocrisia, a gula de frades e religiosos, a avareza, além de temas na sua época associados à bruxaria. 

Cada gravura vem acompanhada por espirituosos comentários escritos pelo próprio pintor e que enriquecem a apreciação das obras.

Capricho 43
O Sonho da Razão Produz Monstros 

"A fantasia abandonada da razão produz monstros impossíveis.
 Unida a ela é mãe das artes, origem das maravilhas

Segundo o texto de apresentação da exposição, a carga crítica dos Caprichos de Goya chamaram a atenção da Inquisição, obrigando o artista a recolher as chapas e estampas que ainda não haviam sido vendidas. Ainda assim, as gravuras difundiram-se por outros países europeus, impondo uma nova maneira de retratar a realidade. Maneira esta que acabou influenciando artistas dos séculos posteriores. Eu, por exemplo, que não entendo nada do riscado, vi semelhanças de estilo entre o traço de Goya e muitas histórias em quadrinhos (graphic novels) e caricaturas recentes.

Capricho 40
Os Duendezinhos

Alguns brincalhões, serviçais e um pouco gulosos,
amigos que pregam peças, mas muito homens de bem

Como bem destacou o filósofo espanholo Ortega y Gasset na pequena biografia que dedicou a Goya, não há ninguém que se sinta indiferente a obra do pintor pois "ainda que uma parte dela dê continuidade às tradições do passado pictórico e se apoie em modos de seu tempo, há uma outra parte na qual Goya sacode a tudo isso e se volta ao imprevisto; um protótipo deste estranho fenômeno que é a originalidade [...] que não nos permite explicar como um homem pode escapar às tradições e, repentinamente, criar coisas que não preexistiam". 

A visitação é gratuita. O Cervantes fica na 707/907 Sul e funciona de segunda à sexta-feira, das 8h às 21h, e aos sábados, das 8h às 14h.  

quarta-feira, junho 08, 2011

Basalto que emana de seus poros...


Devagar, devagarzinho, essa menina vai: ampliar seu fã-clube para além de Brasília, consolidar seu trabalho, fazer sucesso e se firmar como uma das boas surpresas da nossa música. Ellen Oléria está pronta. E, aos poucos, mais gente além do público brasiliense vai descobrindo isso. Nesta sexta-feira (10), o clipe de sua música Testando estreia na MTV Brasil. Seu cd está disponível na Rádio Uol. Matérias começam a pipocar na imprensa.

O Semifosco não perde uma única oportunidade de prestigiar seus shows e alardear seu nome. A última apresentação ocorreu na boate La Ursa, no último domingo (5), para um público privilegiado de cerca de 30 pessoas que optaram pela “negra carne dura” em detrimento de várias outras festas e eventos que movimentavam a noite brasiliense. Com a participação especial da cantora paulista de hip-hop Lurdez da Luz, Ellen entregou-se como se a casa estivesse lotada. E não bastasse o talento individual da cantora, todos os músicos que a acompanham são excelentes, com destaque para a baixista Paula Zimbres, um charme sobre o palco (espero que ninguém veja neste elogio uma consideração machista). Aliás, por falar nela, cliquem aqui e conheçam as composições jazzísticas da contrabaixista formada pela Escola de Música de Brasília e pela UNB.

LEIA TAMBÉM: APOSTA NO FUTURO



Objeto semifosco detectado

Eu sempre achei estranho os estúdios de cinema ou as distribuidoras de filmes utilizarem pequenas frases pinçadas de críticas ou resenhas de filmes para divulgarem seus lançamentos, principalmente os dvds. Pois não é que agora, eu próprio caí no radar dos produtores do documentário José e Pilar, que retrata a relação entre o escritor português José Saramago e sua mulher, a jornalista espanhola Pilar Del Río. Escrevi sobre o filme em 10 de março deste ano, sob o título Um português pessimista, mas não tanto (ou como era doce o comunista)

A menção ao Semifosco, Míope e Resiliente está lá, no site oficial do filme do diretor português Miguel Gonçalves Mendes:

"(...) o filme é ótimo, prende e emociona" - Semifosco, míope e resiliente

Genial avaliação a minha, não? Te cuida Rubens Edwald Filho.

terça-feira, junho 07, 2011

Um tabu brasileiro: conceder autonomia aos cidadãos


No último dia 20 de maio, o desembargador Teodomiro Mendez, da 2ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proibiu a realização da Marcha da Maconha que deveria acontecer no dia seguinte, na Avenida Paulista. Mesmo assim, cerca de mil pessoas compareceram ao local sob o pretexto de participar do ato então reclassificado como uma passeata pela liberdade de expressão e o direito de debater a legalização e a regulamentação da produção, venda e consumo da canabis. O ato foi violentamente reprimido pela Polícia Militar.

Duas semanas depois foi a vez do desembargador da 4ª Vara de Entorpecentes do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, João Timóteo de Oliveira, proibir a realização da Marcha da Maconha em Brasília, também transformada em um ato pela liberdade de expressão. O ato foi realizado após ser renomeado como Marcha da Pamonha e todas as referências à maconha terem sido camufladas.

Manifestações semelhantes já ocorreram em Florianópolis, Salvador, Belém, Recife, Rio de Janeiro e em várias outras cidades. Todas divulgadas e registradas no site mantido pelo Coletivo Marcha da Maconha Brasil, um grupo de indivíduos e instituições que trabalham de forma majoritariamente descentralizada com, entre outros objetivos, estimular reformas nas leis e políticas públicas relativas à maconha e seus usos e promover o debate do tema.

Em meio à polêmica em torno da iniciativa popular de organizar atos interpretados como apologia às drogas, chegou aos cinemas o documentário Quebrando o Tabu, uma produção de cerca de R$ 3 milhões recolhidos, entre outros, de grandes empresas beneficiadas pela lei de estímulo à cultura em troca de renúncia fiscal. Ou seja, o Estado financia o que o própro Estado procura coibir: o debate.

Apesar do título, o filme não acrescenta nada de novo ao tema, a não ser para aqueles acostumados a enxergar o assunto pelo viés moralista. Talvez por isso, talvez porque a cultura do “sabe com quem está falando” em um país de doutores permita a um político ou “especialista” emitir sua opinião sobre algo que é vedado à juventude discutir e defender, nenhum juiz teve coragem de proibir que o filme fosse exibido, o que seria interpretado como um ato contra a liberdade de expressão, ao passo que a proibição das marchas populares é visto como um gesto legal para impedir a apologia às drogas. 

A 3ª Guerra Mundial, proclamada pelos Estados Unidos em 1971 contra às drogas, matam muito mais inocentes do que as substâncias ilícitas em si? O foco na repressão e a proibição custam mais aos Estados que a prevenção e a recuperação dos usuários? A ideia de um mundo livre das drogas é uma utopia mais difícil de atingir que a superação do capitalismo já que nunca houve, na história, uma única civilização cujos cidadãos não recorressem a alguma substância alucinógena? Proibir a maconha e permitir a venda do tabaco e do álcool é uma hipocrisia? Descriminalização é diferente de liberação e nenhuma das duas significa, em absoluto, estimular o uso? Alguém minimamente informado ainda não sabia destas coisas?

Se o filme do paulistano Fernando Grostein Andrade (Coração Vagabundo) quebra algum tabu é o de colocar vários ex-presidentes (Fernando Henrique Cardoso (Brasil), Bill Clinton (Estados Unidos), César Gaviria (Colômbia)) admitindo que erraram ao tentar resolver a questão das drogas pela via policial e judiciária. Com isso, tudo que conseguiram foi lotar os presídios e tornar as drogas mais caras, o que favoreceu a popularização do crack e da merla (agora chamada de oxi) entre os que não tem como pagar por um fumo ou mesmo pela cocaína, que dirá por duas doses de whisky.

Para quem assistiu o documentário Notícias de Uma Guerra Particular, dirigido por João Moreira Salles há mais de 11 anos, ou para os que não aceitam simplificar o debate e demonizar as drogas, Quebrando o Tabu não avança em nada. Pelo contrário. Em alguns momentos, chega a ser constrangedor. Ou você, que faz parte do grupo acima, tem outro termo para definir a seguinte declaração do "príncipe dos sociólogos": “Eu [quando presidente] não tinha consciência da gravidade dessa questão das drogas e do que ela significava como tenho hoje. Além disso, na época, no Brasil, a consciência média era de que isso se resolvia com ação policial, mas isso não funcionou. E eu não vi tudo isso. Errei”.

FHC, que presidiu o país entre 1995 e 2002, deveria ter promovido, no Palácio da Alvorada, a Notícias de Uma Guerra Particular, de 1999. Ou lido (se é que não leu) a autobiografia (Flashbacks) do neurocientista, psicólogo e ex-professor de Harvard (sim, da prestigiada Harvard, onde, ainda na década de 1960, levou adiante seus primeiros experimentos com drogas como auxiliares na reabilitação de detentos), Timothy Leary. Ou chamado para um papo algum dos muitos jovens presos por portar um baseado.

Mas é como dizem: a caravana passa e os cães a seguem ladrando. E as passeatas que se espalham por todo o país indicam que a sociedade já não suporta mais o debate hipócrita e começa a enxergar que, como diz o médico Dráuzio Varella no documentário em cartaz, um dia, no futuro, as pessoas olharão para trás e irão se questionar, pasmas, “mas eles prendiam as pessoas que usavam drogas”, estigmatizando-as e dando-lhes a oportunidade de cursar um mestrado no crime? Pior. Ao ler os jornais de hoje, elas vão ver que, em pleno regime democrático, a Justiça proibia manifestações pacíficas por mudanças comportamentais.

segunda-feira, junho 06, 2011

Surf Music Caipira

Muito prazer. Nós somos a Dead Rocks”, bradou, desnecessariamente, o guitarrista Johnny Crash, minutos antes de desplugar sua guitarra e descer do pequeno palco da boate Cult 22, em Brasília, para o meio da plateia formada por fans e conhecedores da banda de São Carlos, cidade do interior paulista a cerca de 350 quilômetros do litoral, e apontada como uma das melhores bandas de surf music do país.

Formado por Crash, Paul Punk (baixo) e Marky Wildstone (bateria), o power trio `incendiou´ a boate com sua mistura de rockabilly, rock´n´roll, surfmusic e algo que, em alguns momentos, soa muito próximo à cúmbia ou à guitarrada, compensando a paciência de quem aguardou até altas horas pelo início da apresentação. Só não dançou quem ficou enfeitiçado com a técnica dos três músicos. 
 



sábado, junho 04, 2011

Registro de uma boa lembrança

Acho compreensível que alguns considerem pueris as letras do músico e ex-surfista profissional Jack Johnson só porque o cara insiste em falar sobre a magia do oceano, ondas, amizade e amor. Ou que haja quem considere sua música um pastiche, som de consultório, só porque a fórmula violãozinho e piano ao mesmo tempo que destaca a beleza melódica de suas baladas pop-folk semiacústicas faz tudo parecer muito simples e "fofo". Falsa impressão reforçada pela postura desencanada e a visível alegria de estar no palco. Algo que, em alguns momentos, nos faz esquecer de que o sujeito que poderia muito bem ser um de nossos amigos já vendeu milhões de discos em todo o mundo. E que isso aconteceu gradativamente, inicialmente sem o apoio de marketing de grandes gravadoras.

Acho compreensível. Contudo, gostaria de deixar registrado que, dez dias após o havaiano ter se apresentado em Brasília para cerca de 12 mil pessoas (segundo o jornal Correio Braziliense), concluí que este foi um dos melhores shows que vi na minha vida (e olha que não foram poucos).

Simples, alegre, generoso (ouvi gente comentando, satisfeita, "Pô, não acaba não?"). E generoso é um adjetivo que não se pode empregar com muitos artistas. Ou você conhece muitos como Johnson, que cede tamanho espaço para os músicos de sua banda brilharem que chegamos a brincar que o grupo deveria se chamar Jack and Zach band, numa alusão ao versátil pianista Zach Gill, que conquistou a platéia cantando e tocando excelentemente.

E isso para não falar da relação entre Johnson e seu amigo G. Love, a quem coube abrir a noite. Um gesto com o qual Johnson retribui o estímulo que Garrett Dutton lhe deu há anos atrás, quando o havaiano deixava as competições de surf e a direção de premiados documentários sobre surf para tentar consolidar-se como músico.

Além de abrir o show, G. Love cantou e tocou gaita como convidado durante metade do show de seu amigo. E aí eu não sei o que foi mais inusitado. Se ver G. Love como mero figurante em um canto do palco, ou se ver Johnson voltando a compartilhar o centro das atenções com outro artista.

É um clichezão, mas fazer o quê: grande show com cara de luau. Ainda mais sob o famoso céu estrelado brasiliense, o que ajudou muito a compor a noite. Desde o último dia 25, já perdi a conta do número de vezes que ouvi a Broken, uma senhora balada pop. Pueril para uns, reveladora para outros. Pena não ter um clip oficial.