segunda-feira, outubro 17, 2011

Desocupem Wall Street

Três vivas à madrinha Naninha. Uma das poucas ou pelo menos a única pessoa que conheço que não tem cartão de banco, celular, contas em redes sociais e que não sabe dirigir. Limitada? Talvez, mas posso lhes garantir que ela não parece nem um pouco infeliz por não saber usar um caixa eletrônico.

Toda vez que precisa sacar um dinheirinho da pensão que o governo deposita em uma conta que ela foi obrigada a abrir contra sua vontade a madrinha apresenta o RG às "mocinhas" da casa lotérica, onde aproveita para trocar suas Telesenas. E quando uma irmã ainda mais "vivida" se põe a criticá-la dizendo que ela perde tempo em filas, ela se limita a lembrar que máquina não precisa de emprego, salário, comida, nem moradia. "Imagina, meu filho. É tanto velho conversando fiado na fila que a gente se põe a par de tudo de que precisa saber para ir tocando a vida". 

Se alguém precisa falar com ela sabe onde, como e quando encontrá-la. E a própria madrinha reconhece: na sua idade, nada mais é tão urgente que não possa esperar até ela voltar das compras. Além do mais, sua rede social está ao alcance de uma boa caminhada ou, na pior das hipóteses, de uma viagem de ônibus. Ônibus que, apesar do descaso público e com um pouco de paciência, pouparam a ela o sacrifício de ter que ter um carro. 

Sim. O mundo da madrinha Naninha é anacrônico, ultrapassado e aos poucos vai desaparecendo. Ela não sabe o que é um Ipod, um Iphone ou um tablet. Por outro lado, já viveu o bastante para saber que independentemente de sua indiferença ou entusiasmo pelas últimas invenções do homem, elas se tornarão peças de museu antes dela. Mais rapidamente que o bip, o walkman ou o orkut que ela nunca chegou a usar, mesmo todos dizendo que eram imprescindíveis. 

Se precisasse se justificar, a madrinha diria já ter vivido o bastante para saber que estar a par da última tendência não é o bastante para retardar a passagem do tempo. Ela, no entanto, nunca refletiu sobre isso. Assim como não pensa nos custos dos empréstimos bancários, na Bolsa de Valores ou em Wall Street. Ainda assim, provocada pelo seu repórter de tv preferido, a madrinha vaticina à televisão ligada sobre o altar da santa de sua devoção. 

"Ocupar [Wall Street]?!?! Se esses homens fazem o que eles [os manifestantes] estão dizendo que fazem, as pessoas deviam era estar brigando para DESOCUPAR este lugar. Imagina todos estes prédios transformados em moradia para quem não tem casa". Imagina, madrinha, imagina.


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Nomes Anacrônicos (clique aqui)   
Madrinha Naninha e o Pós-Sentimento (clique aqui)
E agora, José (clique aqui)

2 comentários:

GUILHERME disse...

hahaha...pela transformação dos prédios de Wall Street em canteiros urbanos!

Semifosco disse...

ah, não leve a querida Naninha tão a sério. O ponto-de-vista dela é, digamos, rudimentar. Coitada. O pouco que sabe de economia ela aprendeu na prática, mas num tempo em que produto eram pentes de osso, palha de aço, comida e por aí vai. E não derivativos e debêntures