quinta-feira, dezembro 29, 2011

Nyom Nyom Nyom Nyom Nyomnyum



Caetano é um daqueles casos de artista cujo conjunto da obra só poderemos adjetivar com segurança daqui a um tempo. Até lá, resta aguardar e ouvir com certa resignação algumas de suas opiniões políticas. De qualquer forma, já é possível olhar para seus primeiros discos e se espantar positivamente com a modernidade tropicalista de suas composições. Ouça a primeira música do primeiro disco de Caetano, The Empty Boat e imagine o espanto que o arranjo musical, a forma de cantar e o uso da guitarra solando não deve ter causado no distante ano de 1969.

Caetano Veloso (1969) - o primeiro com sua assinatura

Empty Boat - Lost In The Paradise - Atrás Do Trio Elétrico - Carolina - Cambalache - Não Identificado - Chuvas De Verão - Alfômega


Caetano Veloso (1971) - O disco do exílio
A Little More Blue - London, London - Maria Bethânia - If You Hold a Stone - Shoot Me Dead - In The Hot Sun Of a Christmas Day - Asa Branca





Dar antes é melhor

"Matar pode matar. O corpo acaba, mas a terra nunca acabará"


O semifosco furou o prestigiado Le Monde Diplomatique.

Sete meses após este blog ter publicado uma entrevista exclusiva com o jornalista Cristiano Navarro e um mês após o semifosco ter voltado ao tema, disponibilizando o link do documentário À Sombra De Um Delírio Verde, a edição brasileira do periódico francês traz, este mês, uma matéria do jornalista santista Renato Santana com as contundentes opiniões de Navarro sobre o conflito fundiário e a resultante violência contra os indíos no Mato Grosso do Sul. 

Infelizmente, apenas assinantes do Le Monde tem acesso à matéria disponibilizada no site da publicação. A edição impressa de dezembro, contudo, ainda pode ser encontrada nas bancas de jornais. Já o curta-metragem continua disponível no site http://vimeo.com/32440717

Mês passado, eu próprio estive na região da Grande Dourados, próximo à fronteira com o Paraguai, e presencie a situação de extrema miséria em que vivem os guaranis kaiowás, vítimas da ação de pistoleiros contratados por donos de terras e alijados de suas terras pelas extensas fazendas de soja e cana-de-açúcar.

As fotos deste post foram tiradas durante minha passagem pelo estado.

Morte de estudante motiva protesto contra condições do sistema de saúde no DF



Enquanto a imprensa, sobretudo as tvs, dedicavam preciosos minutos para satisfazer o desejo de aparecer de boleiros, periguetes, policiais e advogados cariocas, 120 pessoas protestavam, ontem (28), em Brasília (DF), contra as péssimas condições de atendimento no Hospital de Base e o sistema público de saúde do Distrito Federal. A informação sobre o ato que não foi publicado por nenhum veículo é da Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília (UNB).  

A mobilização foi convocada por meio de um vídeo postado no You Tube por um primo do  estudante de ciências sociais Júlio Cesar Pinto Lima, de 22 anos. Dizendo se chamar Rafa [Gustavo], ele explica que Lima foi baleado em 26 de novembro, ao ser assaltado quando saía de uma festa organizada por estudantes da própria UNB para arrecadar fundos para a formatura. A festa aconteceu no Rotary Club, em Taguatinga. O autor do disparo que atingiu o pescoço de Lima levou o carro do estudante e ainda não foi preso. 

Após passar por uma cirurgia e deixar a UTI, Lima foi levado ao Hospital de Base, onde, de acordo com Rafa, foi tratado com extremo descaso pela equipe médica e sofreu um "choque pirogênico".

Não bastasse ser mais uma vítima da falta de segurança pública, o estudante, que se recuperou do tiro e chegou a apresentar melhoras, acabou contraindo uma pneumonia que o deixou em coma no último dia 20. Lamentavelmente, Lima morreu na véspera do protesto. "Ele foi vítima da rede hospitalar deficiente da capital do país e de um corpo clínico irresponsável", diz Rafael no vídeo.

terça-feira, dezembro 27, 2011


Este é para o Gugu e para o Flavinho


Cada geração de adolescentes se identifica com o "bruxinho" que merece. Eu e meus amigos de infância, por exemplo, discutíamos o quão amoral e esperto era John Constantine, o mago inglês (ou trapaceiro, dependendo do ponto de vista) que, para passar de mero coadjuvante em histórias do Monstro do Pântano a uma das principais personagens dos HQs, com seu próprio título, precisou de apenas algumas poucas aparições. E que voltou a atrair a atenção de uma nova geração de leitores graças ao relançamento de HellBlazer - Origens, pela editora Panini Comics. Boa leitura para encerrar o ano. Até o momento, a editora
já lançou dois volumes.

Criado em 1986 pelo gênio Alan Moore (V de Vingança, Watchmen), Constantine é um anti-herói fruto de sua época, os pessimistas anos 1980 de Margareth Tatcher, e da conturbada experiência política de seu criador (como o mercantilista e liberal Harry Potter parece ser da década passada). Para nós, amigos adolescentes, era a encarnação do ainda pouco conhecido conceito de "ser cool", o que, na época, para nós, significava que o cara podia ser um ferrado e, ainda assim, ser capaz de andar de cabeça erguida e mandar à merda os poderosos deste e de outros mundos com um estilo muito pessoal. E se safar.

Sempre com um cigarro aceso entre os dedos, Constantine era o único protagonista das histórias em quadrinhos (ou graphic novels) a conviver com um câncer enquanto outras personagens sugerem ter sido infectadas por um novo vírus mortal transmitido através de relações sexuais e erroneamente associado a uma suposta "promiscuidade gay". Seu cinismo, oportunismo e senso de preservação a todo custo era, em parte, atribuído à infância idealizada pelo roteirista inglês Jamie Delano, que concebeu  toda a vida pregressa de Constantine, um filho da classe operária  londrina, adolescente rebelde, ex-integrante de uma banda punk chamada Membrana Mucosa (Delano chegou a inventar que, em 1978, a banda lançou seu primeiro single, Venus of The Hardsell) que, em dado momento, passa a ser interessar pelo ocultismo e pelo sobrenatural. Fuga à realidade? Escapismo? Talvez, embora os autores fizessem questão de lembrar aos seus leitores que   
"Começo a pensar que a maioria dos místicos dos quadrinhos costuma ser de velhos, muito austeros, muito distintos, CLASSE MÉDIA em vários sentidos. Eles não dariam em nada nas ruas. Ocorreu-me que podia ser interessante fazer um buxo que fosse das ruas, classe operária, com um background diferente do padrão de místicos", explicou Moore sobre sua cria, desenhada originalmente por John Totleben e Steve Bissette com base em Sting, então baixista e vocalista da The Police.

A injustiça é que Hollywood tenha feito um filme tão ruim ao levar Constantine às telas, com Keanu Reeves no papel do mago.

segunda-feira, dezembro 26, 2011

Presente Natalino



SURF ALL DAY
ROCK ALL NIGHT


Carlos Leite estava certo. Ou melhor, a previsão das ondas estava. Cheguei a Santos no sábado (24), junto com uma frente fria que se por um lado gerou turbulências e nuvens que me fizeram calcular as probabilidades do meu voo até São Paulo ser justamente aquele um dentre os tantos mil a que os especialistas se referem quando asseguram que voar é seguro, por outro trouxe ondas para todo o litoral Sul e Sudeste do país.

As ondas chegaram no domingo, de repente, geradas por uma ondulação Sul vinda de territórios distantes. Mesmo previstas com antecedência, surpreenderam pela rapidez com que se ergueram. Acordei as 7 horas e o mar estava laconicamente liso. Não havia sequer marolas. Tomei meu café e me entretive um pouco com a tv e com o micro. Duas horas mais tarde, quando voltei a olhar da janela, séries que ultrapassavam um metro quebravam em frente a minha casa, no canal 4, indicando que, em outro ponto da praia, mais adiante, as ondas estariam maiores.

Corremos para a praia, eu e meu amigo prego brasiliense, Carlos Leite (foto). E algo inédito aconteceu. Ao invés de seguirmos em direção ao canal 1, sentido no qual as ondas vão aumentando gradativamente, fomos na direção oposta, rumo ao canal 5. Com o ombro machucado e meses sem cair no mar, eu queria surfar um primeiro dia em frente de casa, para recuperar o ritmo. Só que como uma correnteza forte como eu não me lembro de já ter visto nas praias santistas arrastava a tudo e a todos para o fundo e no sentido do canal 1 (e, portanto, das séries maiores), convenci o Leite a caminharmos vergonhosamente 400 metros à esquerda. Entramos no mar pulando da ponta do canal 5, onde ondas cavadas de pelo menos um metro quebravam cerca de 100 metros distantes da areia. Com a correnteza, não foi necessário sequer remar, mas quando chegamos no fundo, já havíamos sido levados de volta pelos quase 400 metros, quase até diante do meu prédio.

Em 18 anos, esta foi a primeira vez que surfei naquele ponto da praia. Também foi a primeira vez que vi ondas enormes se formando em alto mar e avançando em direção a Ilha das Palmas e a Fortaleza da Barra, onde explodiam contra o paredão de pedras do morro  e quebravam diante da comunidade da Pouca Farinha. Como também não me recordo de ter enfrentado, em Santos, uma corrente tão forte quanto a deste sábado, desconfio que o aprofundamento do canal de acesso ao porto a fim de permitir o tráfego de navios de maior calado, como os transatlânticos, está modificando as condições martítimas locais, influenciando no comportamento das marés e fazendo com que as ondulações cheguem com mais força até encontrar a resistência do fundo. Será quem um novo tempo de surf está para começar em Santos?

A previsão é de que as ondas durem até pelo menos o meio da semana. Infelizmente, o chuvisco também ainda não vai parar até amanhã.  Hoje (26), o mar já está bem menos mexido, sem correntezas, e surfamos entre os canais 4 e 3, onde não havia quase mais ninguém, talvez devido à chuva. Poderíamos ter ido um pouco mais além, mas, olhando da areia, as ondas ali nos pareceram bem divertidas. Optamos por surfar sem ninguém a menos de 50 metros de nós, que temos procurado treinar intensamente para nos tornarmos alguns dos melhores surfistas...de Brasília.


Após as últimas idas e vindas, é como que uma satisfação sexual voltar a deslizar sobre uma onda. Melhor ainda foi ter pego algumas boas ondinhas das séries, principalmente levando em consideração que além de não cair no mar há vários meses, havia ido dormir as 4 horas, comemorando o Natal e o encontro com velhos amigos no tradicional Bar do Torto, um fenônemo onde metade dos frequentados parecem se conhecer e a outra metade, da próxima vez, já terão se conhecido. Um ótimo lugar que parece estar lotado quando há 50 pessoas e onde até eu me divirto, mesmo ouvindo mais uma banda tocando (bem) Capital Inicial, Rappa, entre outras obviedades.  

Quem sabe, talvez Papai Noel seja surfista.

domingo, dezembro 25, 2011

Pronto?



_ “Are you ready?”

Pronto? Para quê? Perguntei ao meu amigo globetrotter (ou giramundo), o surfista-prego brasiliense Carlos Leite, que após meses sem dar notícias, me ligou na sexta-feira (23) a noite de algum lugar abaixo do céu e acima do chão.

_ “Para o surf, véio. Tô de passagem pelo litoral paulista e decidi que este ano vou cear com seus pais e assistir à queima de fogos na República Caiçara” – soltou o cara de pau, elevando a voz acima dos risos femininos audíveis ao fundo. “A previsão é de que uma frente fria chegue no domingo, levantando as ondas. Preparado?”

Para o surf? Após quatro meses sem enfrentar uma arrebentação eu poderia tranquilamente dizer que não, mas sabemos, eu e ele, que a expectativa de uma ondulação é o bastante para injetar em qualquer surfista fissurado a necessária adrenalina para encarar as ondas. Além do mais, em se tratando de Santos, para onde eu viajaria no dia seguinte (24), e sendo Verão, duvido que as ondas cresçam assim como Leite espera. Sendo assim, vamos lá. O surf eu encaro.

_ “Que mal lhe pergunte, onde você vai ficar?”, dissimulei, já aguardando a resposta.

_ “Ué. Na casa dos seus pais. Liguei para a tua mãe como quem não quer nada, para desejar feliz Natal e um próspero ano-novo e ela me convidou”, disse ele, concluindo a frase com uma sonora gargalhada.

Então é isso. Mais um ano vai chegando ao fim. Por sinal, um ótimo ano. E as chances de encerrá-lo com chave de ouro, pegando onda, parecem promissoras. Foi um excelente ano profissional. Viajei um pouco. Conheci novos lugares (Itacaré, Ilhéus, Santarém, Alter do Chão, Dourados e uma cachoeira em pleno coração de Santos) e algumas pessoas maravilhosas. Estreitei amizades. Mantive-me são sem deixar de curtir um bocado e estou satisfeito com a quantidade de bons livros, shows, filmes e festas que marcaram meu 2011. Portanto, só posso ser grato a tudo e a todos. E voltar a compartilhar os mesmos votos dos últimos anos, da mesma forma. Pode não ser muito original, mas acho que esta mensagem tem, ano após ano, dado conta de traduzir o que desejo a todos que de alguma forma contribuem para que tudo valha a pena. E que em 2012, a exemplo do Carlos Leite, continuemos dropando as das séries.


(Amor Pra Recomeçar - Frejat)
 
Te desejo
Não parar tão cedo
Pois toda idade tem
Prazer e medo

E que com os que erram
Feio e bastante
Você consiga
Ser tolerante

Que quando você ficar triste
seja por um dia
E não pelo ano inteiro
E que você descubra
Que rir é bom
Mas que rir de tudo
É desespero...

Desejo que você tenha a quem amar.
E que quando estiver bem cansado
Ainda exista amor para recomeçar

Eu te desejo muitos amigos
Mas que em um
Você possa confiar
E que tenha até
Inimigos
Prá você não deixar de duvidar

Desejo que você ganhe dinheiro
(Pois é preciso viver também)
E que você diga a ele
Pelo menos uma vez
Quem é mesmo
O dono de quem

Desejo que você tenha a quem amar
E que quando estiver bem cansado
Ainda exista amor prá recomeçar...

Ahhhh, o Verão...(brasiliense)

sexta-feira, dezembro 23, 2011

Um Conto Chinês

É argentino. Tem Ricardo Darín no elenco. E parte de uma premissa absurda, implausível, mas significativamente simples - a exemplo dos melhores filmes que los hermanos produziram nos últimos anos (Clube da Lua, Filho da Noiva, Nove Rainhas, Segredo de Seus Olhos, etc). 

Isso já seria o bastante para que alguém que goste de boas histórias apostasse seu valioso dinheiro no ingresso. A comédia dirigida  pelo ainda pouco conhecido Sebastián Borensztein, contudo, é mais uma obra a confirmar que o sucesso recente da cinematografia argentina se sustenta na qualidade do conjunto. Do roteiro ao elenco, passando , óbvio, pela produção.

A atuação de Darín é o filme, é certo. Em parte porque  sua personagem, o misantropo Roberto, um ex-combatente da Guerra das Malvinas cheio de manias que herda a loja de ferragens do pai, fornece ao atual muso e embaixador do cinema argentino mais uma chance de brilhar. Mas é  justamente a atuação precisa de todo o elenco que torna  crível  o trabalho de Darín. Em especial Ignacio Huang, que dá vida ao jovem chinês que após se envolver em um acidente absurdo em seu país, se vê zanzando perdido e sozinho pelas ruas de Buenos Aires, sem entender uma só palavra em espanhol. 

Sem grandes arroubos artísticos, Um Conto Chinês é mais uma prova  dada pelo cinema argentino de que para conquistar audiência e a empatia do público, não importa o que se conta, mas sim como se conta. De preferência dando ao mínimo recurso absurdo um significado para que apareça em cena.


segunda-feira, dezembro 19, 2011

Setembro é a melhor coisa de dezembro


"Safada, és meu vício. Morro em você pra viver em mim"
-
É isso mesmo. Setembro está, a meu ver, entre as melhores coisas deste dezembro chuvoso que resiste a se despedir do frio mesmo que o Verão já esteja batendo à porta. Quer entender melhor isso? Então acabe de ler o texto, volte a este parágrafo, clique aqui e ouça o quanto antes o segundo e mais recente álbum do pernambucano bissexto Junio Barreto.

Produzido pelo baterista da Nação Zumbi, Pupilo, o excelente disco chegou à internet quase sete anos após o lançamento do homônimo Junio Barreto (disponível na Rádio Uol) - primeiro trabalho solo do talentoso compositor e motivo de especialistas terem passado a chamá-lo de o "Dorival Caymmi de Caruaru", ainda que se for para citar alguém, a associação mais inequívoca seja com Chico Buarque, tanto pela harmonia e melodia, quanto, em alguns momentos, pela voz ou maneira de cantar. Embora, como bem notou Ronaldo Bressane (Trip), ouvintes atentos lembrarão mesmo é de Guimarães Rosa e, principalmente, de Manoel de Barros.

Meu lance aqui é escrever pouco, deixando espaços silenciosos para o desfrute de Setembro. Algo a que me dedico enquanto miro o céu nublado de Brasília e as mangueiras, jaqueiras e limoeiros que tampam a visão da minha janela. O que, de certa forma, também combina com a música ensolarada de Barreto.



quinta-feira, dezembro 15, 2011

Andando de Skate Em Cabul


Mursa não é um profissional e não disputa campeonatos representando grandes marcas de sportwear. Devido à violência, sua família deixou sua vila natal e se mudou para a capital de seu país, onde encontrou um ambiente tão hostil e violento quanto o que deixara para trás, mas onde o garoto de 17 anos adquiriu novos hábitos. 

Com apenas 12 anos de idade, a jovem Fazilla não aparece em revistas como a Transworld ou a Trasher. Não tem um shape com seu nome. Longe disso. Ela trabalha na rua, vendendo chicletes. E embora sua família às vezes não tenha o que comer, ela compartilha com Musa a descoberta de uma válvula de escape que lhes ajuda a lidar com a pobreza e a violência: equilibrar-se sobre um skate e saltar os obstáculos de ollie.

"No Skateistan eu não sinto que o meu redor está destruído. Me sinto em um lugar seguro", diz a garota sobre o projeto social responsável por manter a primeira (e, acredito, única) skatepark de Cabul, capital e mais populosa cidade do Afeganistão, país com mais de 3 mil anos de história e há dez anos ocupado por tropas militares da Otan, graças à declaração norte-americana de guerra ao terror, após os atentados de 11 de setembro de 2001. Guerra que, segundo algumas estimativas, já tirou a vida de mais de 12 mil civis, além de destruir de vez a já combalida economia local. 

"O skate se tornou um hábito. Se eu não andar, fico doente" diz Musa. O garoto, Fazilla e outros jovens afegãos que frequentam o projeto Skateistan ou que se divertem pelas ruas de Cabul andando de skate são as estrelas de um documentário, um curta-metragem de 10 minutos dirigido por Orlando Von Einsiedel e exibido no Brasil durante o último Festival Rocky Spirit, dedicados aos chamados esportes de natureza (ou outdoor). Reconheço no olhar e na expressão deles o prazer e a satisfação que os esportes radicais individuais podem proporcionar.

O filme mostra de forma original como o esporte, em particular o skate, pode, se não resolver a pobreza e os problemas cotidianos, ao menos contribuir para o aumento da auto-estima, indicando alternativas à criminalidade e dando esperanças de dias melhores. 

Vale a pena assistir e depois confrontar com um outro vídeo sobre jovens andando de skate, só que este bem mais estilizado, gravado em Brasília (DF) a fim de apresentar a capital brasileira como um destino turístico com espaços além dos normalmente exibidos nos telejornais.

Da minha parte, só posso prometer reclamar menos do péssimo asfalto brasileiro.




sexta-feira, dezembro 09, 2011

Futebol e organizações criminosas: uma mistura que dá samba


"Crescimento econômico brasileiro e crise europeia tornam futebol nacional atraente  para organizações criminosas internacionais lavarem dinheiro ilícito"


Talvez porque não acompanhe futebol (embora jogue) e não me ufane de nossas chuteiras milionárias, vejo a modalidade com muitas ressalvas. Não se trata de ter espírito de porco, mas sim de achar que se  nossa pretensa habilidade futebolística reflete muito do que chamamos brasilidade, a gestão do futebol brasileiro reflete o que temos de pior em nosso país: a corrupção, a apropriação privada dos bens e patrimônios públicos, o desmando, a falta de transparência e de respeito aos direitos mínimos, o enriquecimento de uns poucos, o compadrio.

Parte da responsabilidade por este quadro é, a meu ver, da chamada imprensa futebolística (há pouco de jornalismo realmente ESPORTIVO). Um exemplo? Imagine como os jornalistas políticos reagiriam caso alguém na mesma situação do presidente do Corinthians, André Sanches, fosse convidado a assumir a secretaria ou o departamento de um ministério ou de um órgão público. Qual a situação de Sanches? Ele é alvo de diversas denúncias e, segundo matérias recentes (a maioria delas feita por jornalistas de outras áreas que não a esportiva) está sendo investigado até pela PF. Ainda assim, foi nomeado diretor de seleção da CBF. Se bem que é ingenuidade minha questionar uma decisão desta natureza quando a entidade máxima do futebol brasileiro é comandada por Ricardo Teixeira.

Para mim, o maior legado que a Copa do Mundo pode deixar para o país é uma nova forma de enxergar o futebol, menos passional e ingênua. 

Bird alerta que muito dinheiro e fiscalização frouxa dos países emergentes atraem o crime organizado para o futebol
Da Agência Brasil

A crise financeira europeia e o bom momento da economia brasileira têm favorecido o futebol brasileiro. Embora endividados, os clubes do país oferecem salários cada vez maiores não só para trazer de volta atletas que jogam no exterior, mas também, para manter os novos talentos, como Neymar, que recusou várias propostas para se transferir para clubes europeus e decidiu permanecer no Santos. Este bom momento do futebol nacional, contudo, acaba sendo um atrativo também para organizações criminosas internacionais.
O alerta é da consultora do Banco Mundial (Bird) Brigitta Maria Jacoba Slot. Uma das autoras do primeiro estudo a avaliar mundialmente o envolvimento do crime com o futebol, Brigitta garante que países emergentes como Brasil, Rússia e China estão na mira de quadrilhas internacionais que precisam legalizar o dinheiro obtido de forma ilegal.
De acordo com Brigitta Slot, que é holandesa, a lógica é simples: quanto mais dinheiro circular no mundo do futebol, mais interesse esse mercado despertará o interesse do crime organizado. “É necessário que o país combata o problema desde já, pois, mais tarde, será ainda mais difícil. O futebol segue o dinheiro, de forma que as mudanças na economia global levarão a mudanças também na destinação do dinheiro dessas organizações criminosas”, disse ela em um seminário sobre lavagem de dinheiro no futebol brasileiro, promovido pelo Ministério da Justiça, em Brasília.
Segundo a consultora, o estudo concluído em 2009 identificou que os mecanismos de regulação e fiscalização do futebol são frágeis e insuficientes em praticamente todo o mundo. Além disso, falta transparência na condução dos negócios futebolísticos, como contratação de atletas e investimentos feitos por dirigentes de clubes e federações.
“Concluímos que o futebol é vulnerável à lavagem de dinheiro e a outros crimes, como tráfico de pessoas e corrupção”, disse Brigitta Slot. Para ela, o endividamento e a má governança dos clubes – inclusive os milionários times europeus, que também têm alto grau de endividamento -, a falta de fiscalização adequada por parte dos governos e a paixão que o esporte desperta são alguns dos fatores que contribuem para agravar o problema.
Como os demais palestrantes que participaram do seminário, a consultora do Bird classificou como injustificáveis e insustentáveis os altos salários pagos a jogadores e treinadores, além dos valores envolvidos nas transações entre clubes. “O futebol é intocável na maioria das sociedades. Às vezes, as pessoas se perguntam quem controla quem? São os governos que impõem regras aos clubes ou é o contrário?”, perguntou ela, provocando na plateia.
A íntegra do estudo do Bird está disponível, em inglês e em espanhol na página eletrônica do banco.