Jonathan Frazen já foi capa da Times. Críticos o apontam como um dos mais importantes escritores norte-americanos das últimas décadas, o que parece mais próximo de conseguir escrever o tal "grande romance americano do século". Ele também já apareceu nos principais programas de entrevistas da tv de seu país e de outros. Apesar de extensos, volumosos, seus livros vendem muito bem, inclusive no Brasil, onde o mais recente, Liberdade, chegou a frequentar a lista de mais vendidos.
Já o poeta sírio Adonis (veja texto anterior) é praticamente desconhecido do público brasileiro - até porque, seu primeiro livro traduzido para o português, Poemas, só agora está sendo lançado por aqui.
Ciente disso tudo, me chamou a atenção que o público que acompanhou o debate de Adonis com o também pouco conhecido (no Brasil) libanês Amin Maalouf tenha sido infinitamente maior que o de Frazen.
Embora o norte-americano tenha sido um dos autores-símbolos convidados para esta edição que marca os dez anos da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), sua presença ficou longe de causar o alvoroço esperado. Considerados apenas os "pipocas" (aqueles que não pagam ingresso e ficam do lado de fora da Tenda do Telão, assistindo à transmissão da palestra pelo famigerado telão), Frazen teve o menor público de todos os debates a que eu assisti este ano, mesmo sua palestra tendo começado as 19h30 de sexta-feira, quando a cidade está bombando. Pra efeito de comparação, hoje (7), durante o bate-papo entre a "estreante" no Brasil Jennifer Egan (veja alguns posts abaixo) e o celebradíssimo Ian McEwan (de Reparação, entre outros) não havia lugar para se sentar ao redor da Tenda do Telão, embora o sol estivesse a pino e fosse meio-dia de sabadão, horário em que muitos, como eu, preferem se dedicar à helioterapia regada à caipirinha e cerveja, entremeadas por mergulhos salgados.
E o pior é que quem se mobilizou para ouvir Frazen parece ter saído insatisfeito (o que deu para notar pelo grande número de pessoas que deixaram a palestra no meio, dentre os quais os "pipocas", como eu NOS chamamos, são o melhor termômetro: como não gastamos nada e temos que, por isso mesmo, ficar desconfortavelmente em pé ou sentados no chão, nos sentimos livres para simplesmente levantar e irmos embora caso a conversa não nos fisgue). Ao final do bate-papo, não devia haver muito mais de cinquenta pessoas assistindo à palestra do lado de fora da Tenda do Telão. Pior que, dentro, a coisa também não foi muito diferente. O comportamento de Frazen, que ora divagava, ora insistia em fazer piadas sem-graça ou que só ele entendia ao invés de responder as perguntas contribuiu muito para isso.
De maneira geral, o que mais ouvi no caminho da praia à ponte por onde todos deixam a área das palestras é que Frazen comprovou aquilo que já sabíamos de ouvir o Luis Fernando Veríssimo: não necessariamente um bom escritor é um bom orador e muito menos um bom contador de histórias orais. Frazen, além de não ter sido nenhum dos dois, ainda revelou ter um humor para lá de sem graça (o que, vale dizer, não é o caso de Veríssimo, que, apesar de falar pouco, costuma ser engraçado).
Conclusão: siga lendo os livros de Frazen com um sentimento de gratidão caso você seja um dos seus muitos fãs que não conseguiram concretizar o desejo de ouvi-lo na Flip.
Um comentário:
Respondendo com Hermano Vianna:
texto publicado na minha coluna do Segundo Caderno do Globo em 20/07/2012
Já passou o bombardeio literário? Fico sempre bem impressionado com a repercussão da FLIP na imprensa. É um dos poucos eventos culturais – junto com as Fashion Weeks e o Rock in Rio – que sai dos segundos para os primeiros cadernos, disputando espaço e urgência editorial com as notícias mais importantes do dia. Considero divertido encontrar Jennifer Egan e Teju Cole, ou Carlito Azevedo homenageando Carlos Drummond de Andrade, entre inauguração pré-sal de Dilma Rousseff ou reunião de Angela Merkel para conter a crise do Euro.
Esse acompanhamento “em cima da hora” das palestras é antecedido, durante meses a fio, por muitas entrevistas exclusivas com convidados. Os anúncios das confirmações de cada escritor também ganham as manchetes. Até hoje, uma busca pelo meu nome na internet vai encontrar entre os primeiros resultados, e repetido em centenas de sites, o press-release da minha participação, em mesa secundária, na FLIP 2010. É a união entre trabalho de assessoria de imprensa impecável com receptividade extraordinária por parte dos jornalistas.
Amor eterno enquanto dura? Neste ano de 2012, notei um esfriamento no namoro FLIP-imprensa, que por pouco não virou momento tenso para discutir a relação. A participação de várias estrelas literárias foi descrita como “morna” ou “pálida”. Só me acalmei quando a Folha de S. Paulo decretou que a edição foi salva “aos 45 do 2º tempo”. O jornal reatou o romance com manchete bem assanhadinha na sua geralmente sisuda primeira página: “Com debates divertidos, Flip empolga no último dia”. (Vinha logo abaixo de “Novo presidente do Egito restaura Parlamento”.)
Divertido? Empolga? Fique tranquilo, não vou passar aqui sermão em jornalista e público que vão a encontros literários em busca de entretenimento. Não vou esbravejar contra a “lógica do consumo” que tomou conta da cobertura e da atitude da plateia mesmo em eventos de Alta Cultura. Sou contraditório (esse é meu bordão): gosto de Guy Debord e também do espetáculo. Porém, preciso defender com unhas e dentes o nosso direito ao morno, ao pálido, e – radicalizando – ao chato. Alguns dos espetáculos mais marcantes da minha vida, ou alguns livros que mais amei, foram de uma chatice avassaladora – e só atravessando vastos desertos de tédio (pois sou muito disciplinado) consegui perceber suas belezas. Se a chamada Alta Cultura perder essa permissão de nos entediar, muitas obras primas da Humanidade deixarão de ser criadas.
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http://hermanovianna.wordpress.com/
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