quinta-feira, julho 11, 2013

A Arte do Skatista Zen


"Acredito que os governantes constroem a cidade pensando em votos, não nas pessoas. O legal do CityZen foi mostrar uma São Paulo mais bonita, de uma forma que o cidadão comum não consegue enxergar"- Guilherme Guimarães, in CemporcentoSkate

São Paulo zen?

Não. Não se trata do santo católico. Por mais contraditório que pareça, o documentário esportivo CityZen, distribuído junto com a edição de junho/julho da revista CemporcentoSkate, é mesmo a respeito da capital paulista, a "city" onde vivem ao menos dez milhões de almas. Algumas pra lá de sebosas e pouco afeitas à filosofia oriental.

São Paulo, todos sabem, é caótica, superpovoada, engarrafada, poluída, cinza, claustrofóbica, egoísta. Só que, há três anos, o filmaker Guilherme Guimarães e o skatista argentino, Steban Florio, decidiram aproveitar a oportunidade de fazer o filme promocional de uma marca de skate (Vibe) para mostrar que a cidade também é desafiadoramente transcendental aos olhos de quem se dispõe a explorá-la sobre um skate, usufruindo de modo particular de sua arquitetura e transformando suas imperfeições em obstáculos a serem transpostos.

Inspirados no sensacional vídeo de skate 1st and Hope, filmado pelas ruas de Los Angeles ao som do inspiradíssimo Beck, Guimarães e Florio arregimentaram cinco skatistas patrocinados pela marca (Léo Fernandes, Murilo Romão, Rafael Gomes, Wagner Ramos e o próprio argentino). Em seguida, definiram cinco rotas cortando bairros do centro de São Paulo que serviram de locação para que um atleta fosse filmado andando e manobrando forte. Detalhe: embora algumas gravações tenham se estendido por quase três anos, com várias tentativas até a concretização de manobras dificílimas, os skatistas eram filmados sempre usando a mesma roupa. O objetivo era dar a impressão de que cada uma das sessões havia sido filmada em um único dia. Meta atingida graças ao apuro da edição final e ao trabalho do colorista Alex Yoshinaga, que conseguiu dar uniformidade à luz, amenizando a impressão de cortes.

Mas esses detalhes pouco importam aos meus três leitores, não afeiçoados a vídeos de skate. Para esses meus amigos, tão exigentes em termos artísticos, eu pediria apenas a fineza de, caso assistissem ao filme (que, infelizmente, ainda não está disponível no youtube), atentarem para o apuro da fotografia, uma singela homenagem à arquitetura da cidade que amamos odiar. Ou para a eficiência da trilha sonora composta pelo músico Yoka a partir do estilo de cada um dos cinco skatistas e levando em conta alguma particularidade do bairro onde cada sessão foi gravada. E, principalmente, para a proposta dos dois "maloqueiros", Guimarães e Florio, que, com um despretensioso vídeo de skate, dedicaram três anos de trabalho para "tentar retratar a diversidade sociocultural paulistana", sobretudo da região central, onde a "sensação caótica" combina tão bem com o mais urbano dos esportes.

A meu ver, muitos publicitários, diretores de cinema e fotógrafos poderiam aprender algo com CityZen. E não só. Muitos gestores públicos notariam que o skate é capaz de dar vida à lugares mortos e degradados, como bem demonstra a Praça Roosevelt, em São Paulo, cuja recente reforma tem a ver com a persistência do mesmo skatista argentino Steban Florio.






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