quarta-feira, julho 31, 2013

Ao sabor da seca e torta poesia do Cerrado


"A idéia de uma cidade do futuro atravessa os séculos"

Nova oportunidade dos brasilienses assistirem ao documentário Sob o Signo da Poesia (2011), de Neto Borges. O filme de 77 minutos traz depoimentos de artistas que ou nasceram na capital federal ou adotaram a cidade. Gente como o  poeta Nicolas Behr, o cineasta Vladimir Carvalho, o livreiro Ivan Presença, o músico Renato Matos, o artista plástico Bené Fonteles, o rapper Gog, entre muitos outros. Às 20h, no Espaço Cultural do Shopping Brasília, de graça.




O semifosco foi conferir e atesta: EX-CE-LEN-TE. Impossível a quem vive na cidade não sair se sentindo um pouco mais brasiliense depois de assistir ao inspirado documentário de Neto Borges e acolher a definição do cineasta Vladimir Carvalho, para quem Brasília, fruto do encontro de gênios do modernismo brasileiro, por muito tempo foi como que um "tubo de ensaio da utopia" - utopia interrompida com o golpe militar de 1964. 

Já para quem não conhece a capital federal e tiver a oportunidade de assistir a essa homenagem visual à cidade e a seus artistas, creio que ficará a curiosidade de descobrir se Brasília vai além dos velhos clichês repassados a todo instante nos meios de comunicação e, de fato, possui a pujança criativa revelada por Borges. 

Filmadas com apuro técnico e bom gosto, as imagens são belíssimas (homenagem aos artistas plásticos do Cerrado?). Os depoimentos, por sua vez, são carregados da verdade de quem vive a cidade, abrindo-se para o que ela tem de bom e de ruim. Poesia inspirada. Muitas histórias: o texto do projeto arquitetônico de Lúcio Costa, vencedor do concurso que escolheu a concepção da futura capital revisado por Carlos Drummond de Andrade; JK hospedando Tom Jobim e Vinicius de Moraes no Catetinho quando tudo não passava de barro e os dois, além de atenderem à encomenda de compor uma sinfonia (menor), compondo Água de Beber, Camará à beira de uma fonte. Tantos personagens...   

A certa altura, alguém (não me recordo quem. Bené Fonteles? Carvalho?) afirma que Brasília não é para principiantes. Lógico. Se isso, à época, era o moderno, a vanguarda que (talvez) não vingou, poucos, ainda hoje, entendem a dura poesia concreta do urbanismo local e a deselegância discreta do cerrado (nem tudo que é torto é errado: vide as pernas do Garrincha e as árvores do cerrado-Nicolas Behr). 

Daí que, ainda hoje, como bem diz o músico Renato Matos (pai da cantora-rapper brasiliense Flora Matos, bombando em Sampa entre os alternativos do Baixo Augusta) tem muita gente que chegou a Brasilia e até hoje não abriu as malas, deixadas fechadas em um canto, prontas para partir em um breve sempre adiado.  Esses precisariam fazer um esforço de compreender esse filme. 

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