domingo, outubro 31, 2010
sábado, outubro 30, 2010
Insolação resulta no filme mais chato dos últimos tempos
Não sou grande conhecedor destes mecanismos, mas pensava nisso enquanto assistia ao filme "Insolação", de Felipe Hirsch e Daniela Thomas, mais uma destas obras pretensiosas que tentam transformar o hermetismo em arte e que conseguem nada além de aborrecer os espectadores.
Quando entrei na pequena sala do Cine Arte, na orla da praia de Santos (SP), eu não sabia absolutamente nada sobre o filme. Nem mesmo que a história se passava em Brasília. Vendo o elenco de atores escalados (Simone Spoladore, Leonardo Medeiros, Maria Luisa Mendonça, Leandra Leal e o consagrado Paulo José) e o próprio nome de Hirsch, diretor de teatro consagrado (Sutil Companhia), imaginei que não podia ser algo ruim. Estrepei-me.
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Já não tenho mais paciência para este tipo de "obra autoral". Para mim, duas falas resumem bem o filme: "Você não sabe o que está acontecendo aqui" (da personagem de Simone Spoladore) e "Não aconteceu nada", de Paulo José. Também, o que esperar de "pessoas" que "confundem a sensação febril da insolação com o início delicado da paixão"....
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A única coisa que se salva é a fotografia e a opção por explorar a arquitetura modernista de Brasília sem localizar onde se passa a história, não mostrando em nenhum momento a qualquer dos pontos turísticos da capital.
quarta-feira, outubro 27, 2010
Topetudos Esquecidos - Stray Cats
Ainda que tenham chegado aos palcos com quase 30 anos de atraso, numa época em que o estilo que mais os interessava – o rockabilly - já não possuía qualquer atrativo comercial, os três não tiveram vergonha de se apropriar dos topetes, ternos e da musicalidade imortalizada por seus ídolos para conseguir a atenção da mídia, das novas gerações e de alguns saudosistas da picardia e da sonoridade “perdida” em meio à lisergia dos anos 60.
Juntos, eles formaram a Stray Cats (clique aqui para ouvir o cd The Best Of...). Não encontrando boa receptividade nos Estados Unidos, os três se mudaram para a Inglaterra, onde, em 1981, já haviam conquistando suficiente número de fans e receberem um convite para gravarem seu primeiro disco. A partir daí, foi questão de tempo para que os Stray Cats voltassem a se apresentar em seu próprio país. De volta aos Estados Unidos, contaram com o providencial surgimento de um novo veículo e do aprimoramento técnico de uma então incipiente linguagem artística: a MTV e os videoclips.
Apesar dos três (principalmente Lee Rocker) serem excelentes músicos, a energia da banda aos poucos foi se extinguindo e o resultado final do trabalho começou a soar engessado, repetitivo. Hoje, embora a banda continue contando com um site oficial, cada integrante tem sua carreira solo e agenda de shows própria.
sábado, outubro 23, 2010
Weslian Roriz - A nova musa da MPB
A última grande revelação feminina a arejar o mercado fonográfico vem do Centro-Oeste, mais precisamente do Distrito Federal. Embora não seja exatamente uma "garotinha" - pois demorou um longo tempo apurando seu estilo até que seu marido, o ex-senador ficha-suja Joaquim Roriz a convencesse de que ela estava pronta para encarar o público - Dona Weslian Roriz é detentora de uma musicalidade moderna, mesclando elementos da sonoridade tradicional da região centro-oeste à música eletrônica.
Cool, mas sem afetação, Weslian é a prova de que o público brasileiro está ávido por artistas com personalidade própria e responsáveis perante a Arte. E de que a característica de opinar sobre assuntos polêmicos e antever a direção que o vento vai tomar amanhã é natural de quem se propõe a ocupar o papel de "antena da raça".
E confirmando que Dona Weslian não é apenas só mais um rostinho bonito a contar com as benesses de um marido rico e produtores competentes (Dino Mars e Faroff), ela já emplacou um segundo hit no You Tube, As Laranja, bem-humorada crítica que conta com diversas participações especiais, incluindo Tiririca, candidato a deputado federal mais votado nas últimas eleições.
sábado, outubro 16, 2010
Diálogos com Jean Plantu
Francisco Alambert - curador da exposição
O chargista francês Plantu (Jean Plantureux) é um homem do mundo, um realista curioso. Mesmo que seu mundo seja a França, ele gosta muito de desenhar o que se passa em outras partes (o que vem fazendo desde 1972 no jornal Le Monde). "Sou totalmente dependente da realidade", já disse ele. Só que por mais realista que seja, a utopia não lhe escapa.
Plantu acredita na força da imagem esclarecedora e na entrega total do desenhista, como artista e como militante. Seu traço é definido pela crença no poder de fogo da representação. Seu gesto pode ser poético e divagante ou afirmativamente decidido. Crítica sem rancor e leveza sem pieguice: esse poderia ser seu lema.
Seus temas centrais poderiam ser resumidos assim: a Justiça para (e no) o Terceiro Mundo, a crítica geral do racismo e do preconceito (sobretudo religioso), a busca da verdade na política e a defesa dos direitos humanos. Uma moral social-democrata e republicana, muito francesa, que a própria França nem sempre seguiu.
Se a política é o terrorismo das convenções, a charge é o seu desvelamento e, por isso, é uma forma de guerrilha contra o poder. Isto porque a política não teme o ridículo (que é sua profissão de fé), mas teme muito a sua representação. Um político como Jean Marie Le Pen, o líder da extrema direita francesa, não vive sem exprimir seu racismo odioso, mas sempre se incomodou com o fato de Plantu desenhá-lo como algo próximo a um nazista. Isso porque ele quer ser entendido como um nazista à francesa, mas não quer ser mostrado como tal.
O que a arte de Plantu faz é coincidir expressão com representação. Ele não faz caricatura: ele dá conteúdo à imagem. A grande charge política é sempre uma crítica ao cinismo.
sexta-feira, outubro 15, 2010
Notas sobre um velho safado
Há livros, autores, filmes e diretores aos quais não devemos retornar sob pena de nos desapontarmos não pela qualidade da obra, mas por ela já não nos arrebatar como no primeiro contato. Em alguns casos, óbvio, o problema é mesmo com a qualidade, já que, com o acúmulo, estabelecemos parâmetros e nos tornamos mais exigentes. Não foi isso, no entanto, o que sucedeu entre mim e os autores citados.
O que aconteceu é que, para mim, os escritores acima parecem ter perdido o viço. Tentar reler um de seus livros, mesmo um que tenha marcado minha adolescência, como O Lobo da Estepe, do Hesse, foi como almoçar com uma ex-namorada e descobrir que, apesar de bonita, sua presença já não me diz muita coisa. E há casos em que nem mesmo um encontro fortuito para verificar os efeitos do tempo que passou me interessa.
Estou certo de que, hoje, não riria tanto quanto da primeira vez que li a O Grande Mentecapto, do Fernando Sabino, ou mesmo a Feliz Ano Velho, do Marcelo Rubens Paiva. E de que os livros do hoje deputado Fernando Gabeira, que por algum tempo me inspiraram o desejo de viajar e ver o que se passava em outras terras, na melhor das hipóteses me causariam uma brutal indiferença. Justo o Gabeira que ao retornar do exílio arrebatou a uma penca de leitores jovens com suas observações a respeito da política, do regime militar, luta armada, desbunde, contracultura, drogas, sexo livre e do então incipiente movimento ambientalista que começava a ganhar corpo nos países desenvolvidos.
É inevitável. Há obras que, apesar de longevas, parecem estar cincunscrita ao público de uma determinada fase ou classe social. Não me ocorre agora exemplos de bons autores consumidos exclusivamente por jovens, mas no caso dos livros, lembro de O Apanhador no Campo dos Centeios, As Aventuras de Tom Sayer e Revolução dos Bichos e 1984 como casos cuja leitura parece ser quase que obrigatória entre adolescentes que descobrem o prazer da cultura.
Apesar de tudo isso, imagino que todos tenham ao menos um autor, um diretor, um músico ao qual podem voltar frequentemente a fim de reencontrar-se não apenas com a obra, mas com algo entre o que eram e o que se tornaram graças a um acúmulo de experiências do qual a própria obra faz parte. Para mim, este cara é Charles Bukowski (Alemanha, 1920 – EUA, 1994).
Pode até soar estranho que eu diga isso do autor de livros entitulados "Notas de Um Velho Safado", "Ereções, Ejaculações e Exibicionismo" ou "A Mulher Mais Linda da Cidade", mas é verdade. Não há nada de Hesse que eu releia com o prazer de uma frase de Bukowski como "Deus é um anzol a nossa espreita". E o bom é que como no Brasil sua obra demorou muito para ser levada a sério, desde sua morte por pneumonia, em 1994, não param de surgir novidades suas.
Comparado a Henry Miller e a Ernest Hemingway e apontado como o último autor beatnik - movimento do qual o já citado Kerouack é o simbolo máximo, formando a tríade sagrada junto a Allen Ginsberg e Willian Burroughs - Bukowski faz parecer fácil escrever. Seus textos soam autobiográficos, se amparam em muitas experiências de uma vida errática de quem teve que trabalhar como carteiro, catador de uvas e se sujeitar a toda sorte de subemprego, para mostrar o outro lado do American Way of Life.
Mesmo que muitos só percebam seu humor negro e considerem seu estilo irremediavelmente tosco, a mim Bukowski demonstra ter um olhar apurado para as questões sociais e comportamentais. Até hoje, quando leio notícias sobre algum jovem norte-americano que decidiu descarregar todo o pente de uma arma semi-automática no pático escolar, lembro de Bukowski contando o quanto ele quando criança sofria com o que apelidou de Síndrome do Pátio, primeiro sintoma do modelo de estímulo à concorrência de um contra todos que marcará a vida de uma Nação individualista e egocêntrica.
Morto aos 73 anos, na Califórnia, o velho Buck teve uma vida de muitos excessos, sempre tentando conciliar as ressacas e o relógio de ponto com a literatura e as mulheres. Escreveu quase 50 livros de crônicas, poesia e romances além de ter colaborado com jornais alternativos. Teve ao menos uma filha reconhecida. Há dois filmes inspirados em sua obra, mas nenhum é lá grande coisa: Barfly (tradução: mosca de bar), com Mickey Rourke e Faye Dunaway, e Factótum, com Matt Dilon. Bukowski parecia não se levar a sério. E por isso mesmo eu diria que, em dias como estes, isso é absolutamente imprescindível.
quinta-feira, outubro 14, 2010
quarta-feira, outubro 13, 2010
Aos amigos que ainda acreditam na Veja
"Existem duas formas de tentar intimidar a imprensa: uma é vindo a público e colocando de forma infeliz uma série de críticas, outra é aquela que, de forma velada, tenta agredir jornalistas, pedir cabeça de jornalista, o que dá na mesma, porque o respeito pela democracia e pela liberdade de imprensa é permitir que a informação circule. Durante a campanha eu tenho ouvido relatos sobre momentos em que, quando são feitas perguntas que não são consideradas agradáveis, há uma atitude de intimidação dos jornalistas".
Serra se irrita com pergunta sobre ex-diretor da DersaAo ser questionado sobre Paulo Preto, candidato diz que assunto é "pauta petista" e abandona entrevista
13/10/2010 18:47
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O presidenciável tucano José Serra irritou-se nesta quarta-feira em Porto Alegre (RS) ao ser questionado sobre a denúncia contra o ex-diretor da Dersa, Paulo Vieira Souza, conhecido como Paulo Preto, que teria desviado R$ 4 milhões da campanha do PSDB.
Primeiro, Serra classificou de "preconceito odiento" a forma como o jornalista se referiu ao ex-diretor, como Paulo Preto, e afirmou que o preconceito estava "embutido na pergunta". Em seguida, o presidenciável disse que o assunto faz parte da "pauta petista”.
Depois, Serra perguntou ao repórter para qual veículo de comunicação ele trabalhava. Ao ouvir que o profissional era do jornal Valor Econômico, Serra afirmou que o jornal não se interessava pelo o que estava acontecendo na Casa Civil e que “faz manchetes para o PT botar no horário eleitoral”.
Quando o repórter do Valor Econômico rebateu dizendo que as afirmações eram preconceito da parte dele, Serra decidiu encerrar a entrevista coletiva e deixou o local.
No último domingo, a presidenciável petista Dilma Rousseff usou a denúncia sobre o ex-diretor para atacar Serra no debate organizado pela TV Bandeirantes. Ontem, em Aparecida, Serra defendeu Paulo Souza e negou que tenha havido desvio de verbas de sua campanha. Antes disso, Serra havia negado conhecer Paulo Souza.
terça-feira, outubro 12, 2010
Reencontrando Carlos Leite
"Não tão te dando o que comer, não, ô semifosco? Tô te achando pálido, hein, rapaz!", provocou o prego, passando um dos braços em torno do meu ombro e fingindo querer me dar um golpe. Deixei cair no chão a blusa que tirei tão logo sai do avião e pensei para que merda eu havia trazido aquele volume desnecessário. O relógio marcava 32 graus e eu tive vontade de ir ao banheiro trocar a calça por uma bermuda.
A caminho da casa da minha namorada meu corpo foi acusando o efeito do sol, do ar mais puro, da claridade. Era como se cada músculo meu passasse por um descompressão. "E aí? O que veio fazer nesta terra desolada pela seca?", perguntou Leite querendo tirar uma onda ao perceber minha reação ao ritmo particular da cidade. De fato, a vegetação do Cerrado ainda não havia se recuperado da severa seca deste ano, mas bastou as primeiras chuvas cairem para o verde começar a ressurgir. E também para que as cigarras dessem o ar da sua graça. A cidade, como todos os anos, parecia pulsar no ritmo do canto das cigarras.
"Ué! Eu ainda tenho uma garota aqui", respondi. "E eu tinha quatro dias de folga e a previsão era de chuva e frio em São Paulo e litoral e, pior, sem ondas". Rimos os dois, lembrando de nossas conversas anteriores - Não queremos ser profissionais ou ases do surf. Queremos apenas nos divertir. Portanto, sol, água quente e ondas nem muito pequenas, nem muito grandes para nós. "Atualmente, de fria já me basta a rotina", completei.
Quem vai ser pai. Quem vai ser mãe. Quem está saindo com quem. As últimas piadas e a vergonha decorrente de a candidata ao governo Weslian Roriz ter passado para o segundo turno. O medo de quem ocupa cargo comissionado na esfera federal de perder a boquinha. As festas que aconteceriam no sábado, uma no Conic (Frenéticas), outra na Velvet (Bizarre Love Triangle). Os shows. E, principalmente, suas últimas e próximas viagens. E então seus olhos brilharam, seu rosto se transfigurou e ele deu um salto. "Véio! Você tem que quer meu quiver novo", agitou-se. "Quiver?!?! Você agora tem um quiver?", ironizei. "YEAH! Euagoratenhoumquiver. E vou testar meus foguetinhos na semana que vem, em Floripa. Uma semana pegando onda em Florianópolis".
As pranchas de fato eram bacanas. Quatro triquilhas brancas, variando entre uma 5'11 e uma 6'4, sendo duas fish e duas round-pin. Dignas de serem levadas para a cama durante a noite. A beleza da proporcionalidade entre a espessura, a largura e as curvas me fez sentir algo como despeito. Pra que diachos esse cara precisa de cinco pranchas (pois ele mantinha a antiga, que chamava de Geniosa) morando em Brasília se eu que estou vivendo a pouco mais de 80 quilômetros da praia não peguei onda uma única vez nestes últimos meses.
sábado, outubro 09, 2010
A capital de Nicolas Behr
desço aos infernos
pelas escadas rolantes
da rodoviária de Brasília
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duas asas partidas
duas pistas falsas
dois traços invisíveis
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blocos melancólicos
supequadras sem superegos
eixos se retorcendo
monumentos em agonia
gramados deprimidos
linhas suicidas
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a cidade é isso mesmo que você está vendo
mesmo que você não esteja vendo nada
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anunciaram a utopia
mas foi Brasília que apareceu
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a incapacidade do contato afetivo
entre a laje e o concreto
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merda de cidade
bosta de cidade
porcaria de cidade
Amo esta cidade
* (colagem com trechos de vários poemas do poeta brasiliense Nicolas Behr)
quinta-feira, outubro 07, 2010
Dança das Marés (2002) - Ivaldo Bertazzo e Corpo de Dança da Maré (Rio de Janeiro)
Um dos três trabalhos que Bertazzo coreografou com jovens moradores do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Todos os 62 bailarinos são adolescentes que viviam em situação de risco e que o coreógrafo arregimentou para participar de um projeto que visava não necessariamente formar dançarinos profissionais, mas sim cidadãos conscientes. A música é do grupo instrumental mineiro Uakti - que tocava ao vivo nas apresentações - e o roteiro foi escrito pelo médico-escritor Dráuzio Varella.
Coreografado por Rodrigo Pederneiras, com música de Lenine, o espetáculo é, segundo o próprio grupo, uma "tradução poética da violência e da barbárie dos dias que vivemos" cuja encenação obrigou os bailarinos a deixar de lado a sensualidade, o lirismo e a alegria que marcam os trabalhos anteriores da companhia mineira. "Para se manter de pé ou ficar por cima, é preciso ignorar o outro e encará-lo como inimigo".
Céu na Boca, Quasar Cia. de Dança (Goiânia)
Segundo o coreógrado do grupo goiano, Henrique Rodovalho, o vigésimo segundo trabalho da companhia surgiu da curiosidade pelas leis da física e teorias do universo. Explosões estelares e movimentos gravitacionais (?) serviram como alegorias para a criação de Céu na Boca, espetáculo que mistura música eletrônica à de Ray Conniff.
Mais uma coreografia de RODRIGO PEDERNEIRAS para música de Caetano Veloso e José Miguel Wisnik, a expressão Onqotô é uma brincadeira com o modo mineiro de dizer "onde que eu estou". De acordo com seus idealizadores, a dança quer demonstrar, de forma bem-humorada, "a perplexidade e a inexorável pequenez do Homem diante da vastidão do universo". Sei...
Aquilo De Que Somos Feitos (2000) - Lia Rodrigues e Cia. de Danças (Rio de Janeiro)
Do pouco que inferi, Lia Rodrigues é uma provocadora, uma iconoclasta. Já assisti a três diferentes espetáculos coreografados por ela, mas este foi o que mais me marcou. (não sei o quanto pesou o fato de tê-lo assistido ainda durante a primeira fase de encantamento exclusivo pelas bailarinas que, aqui, dançam nuas boa parte do tempo). Com música de Zeca Assumpção, tem uma forte carga de questionamento político, social e ético, além da opção por provocar o espectador.
segunda-feira, outubro 04, 2010
Mix, de Debora Colker
Por mais espetáculos de dança que já tenha visto, alguém que assiste a qualquer apresentação da Companhia Déborah Colker haverá de se impressionar com o vigor, a força física e a flexibilidade dos bailarinos selecionados pela coreógrafa carioca e, consequentemente, irá se fazer esta pergunta.
Alguns chegarão inclusive a manifestar sua admiração já durante a apresentação, como ocorreu no último sábado (2), no Teatro do Sesc, em Santos (SP), praticamente lotado por conta da exibição de `Mix´.
Concebido em 1996 para a Bienal de Dança de Lyon, o espetáculo reúne trechos dos dois primeiros trabalhos da companhia (Vulcão, de 1994, e Velox, de 1995) e deu ao grupo o Prêmio Lawrence Olivier, considerado a maior distinção inglesa nas artes cênicas. Ao todo, são sete `cenas´, sendo as duas últimas - Sonar (de 2min22seg) e Alpinismo (10min22seg), as que mais empolgam a platéia. Esta última é a já famosa coreografia feita numa parede de escalada de quase sete metros de altura, um verdadeiro desafio à lei da gravidade.
Eu não entendo lhufas de dança. Não compreendo a "gramática" que rege a combinação dos movimentos, nem o sentido pelo qual um coreógrafo opta por uma música em detrimento de outra. Nunca sei ao certo quando o espetáculo tem uma "mensagem" para além da beleza estética, mas sei o que me emociona (não necessariamente por ser "belo" ou "agradável") e, por este critério, devo admitir que das duas vezes em que assisti a algo da Déborah Colker fiquei com uma impressão de estar vendo a atletas muito bem ensaiados se passando por dançarinos e não o contrário, como me parece que uma certa leveza deveria garantir. Tese que, para mim, ficou clara num breve lampejo da segunda `cena´, Desfile, em que os bailarinos dançam ao som de sambas, maxixe, bossa-nova, maracatu e baião, mas que, obviamente, tem que ser relativizada numa coreografia como a de Alpinismo.
Não quero dizer com tudo isso que o trabalho da companhia não seja interessante. Aliás, minha opinião talvez não queira mesmo dizer nada. Até porque, meu comentário era para ter sido exclusivamente sobre Santos. Em apenas um mês a cidade recebeu o Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas, o Festival Internacional de Literatura - Tarrafa Literária, vários shows e, agora, Débora Colker (além, óbvio, dos meninos da Vila). Programação para ninguém reclamar e que o público santista tem sabido aproveitar.
sábado, outubro 02, 2010
Exclusivo: Ação entre Amigos
Há mais de 40 anos exercendo o jornalismo, Zuenir Ventura já escreveu que o jornalista leviano é tão nocivo à profissão quanto um censor, com a desvantagem de que o primeiro finge servir à imprensa. Não é de estranhar, portanto, que no mesmo dia (23/09) em que a mídia noticiava com destaque a tese de que a liberdade de imprensa estaria sendo ameaçada, o autor de `1968 – O Ano Que Não Terminou´ afirmasse não ver qualquer risco à democracia brasileira.
“Apesar de a democracia brasileira ainda ser frágil, eu não acho que haja qualquer ameaça no horizonte. Ela ainda não está consolidada, é claro, mas esta é uma das características da democracia em qualquer parte: a de estar em permanente aprimoramento”, disse Zuenir pouco antes de participar, no último dia 23, em Santos (SP), da 2ª Tarrafa Literária – Festival Internacional de Literatura (leia mais sobre o evento nos posts abaixo)
Ventura esteve na cidade litorânea acompanhado pelo escritor e amigo de quase duas décadas Luis Fernando Verissimo e do também jornalista Arthur Dapieve, com quem acaba de lançar o livro `Conversa Sobre o Tempo´, transcrição das conversas gravadas durante os cinco dias em que os três passaram em uma fazenda a cerca de 100 quilômetros de distância da capital fluminense falando sobre amizade, família, paixões, política e morte.
No livro, Ventura comenta que, do ponto de vista político, o país avançou bastante nos últimos 40 anos, mas que ainda necessita resolver o problema das diferenças e injustiças sociais. E ao mesmo tempo em que afirma haver uma má-vontade da imprensa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cobra que Lula “não pode ter essa leniência em relação à corrupção”.
“Não acho que devemos ter uma posição corporativa de achar que a imprensa é intocável e não deva ser criticada. Não defendo a impunidade ou qualquer tipo de imunidade para a imprensa. Acho que ela está sim sujeita à críticas, até para que melhore. Agora, óbvio que censura é outra coisa e sempre que houve censura isso fez mal a toda a sociedade”, disse Ventura.
Assim como no livro, em nossa conversa Ventura também se referiu ao seu desconhecimento sobre o sindicalista e ambientalista Chico Mendes à época em que este foi assassinado, em dezembro de 1988, para indicar o que considera um problema nacional: nossa dificuldade de criar e reconhecer novas lideranças. Apesar de já ser um repórter experiente na ocasião, Zuenir admite que, até então, não sabia direito quem era Chico Mendes, mesmo ele já tendo recebido alguns prêmios no exterior e estando jurado de morte.
Entre os cinco temas de Conversa Sobre o Tempo, Ventura considera que os momentos em que ele, Verissimo e Dapieve refletiram sobre a essência da amizade foram os mais agradáveis e os que resultaram nas considerações com maior potencial de surpreender os leitores. Para Ventura, por exemplo, a amizade é mais importante inclusive que o amor.
O autor de 1968 - O Ano Que Não Terminou ri quando questionado se nenhum dos três participantes do encontro chegou a sugerir que a política fosse englobada ao tema paixões, algo que não causaria estranheza aos leitores de nenhum dos dois articulistas. "Para mim - e acho que também para o Luis Fernando [Verissimo] - a política não é uma paixão. Não no sentido de fanatismo, do sectarismo e do radicalismo, que é algo que faz muito mal. Logicamente eu estou falando da política partidária, de que eu não gosto. A Política, lógico, é algo fundamental", concluiu Ventura.