Berço de grandes autores como Machado de Assis, Jorge Amado,
Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Cecília Meirelles, o Brasil e o
mercado editorial brasileiro aguardam pelo surgimento de um escritor
contemporâneo capaz de dialogar com a nova geração. A opinião é do
editor Júlio Silveira, 40 anos, um dos participantes do debate Como
Ampliar o Consumo do Livro no Brasil, que ocorreu hoje (19), na 1ª
Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em Brasília (DF).
"Há autores brasileiros sensacionais que precisam ser lidos, mas de
quem os novos leitores estão se distanciando um pouco porque os assuntos
[abordados pelos escritores] talvez já não ecoem tanto entre os jovens.
Há um hiato geracional e eu acredito que o público e o mercado
editorial brasileiro esperam o surgimento de um escritor de qualidade
capaz de dialogar com a nova geração. Um autor em pé de igualdade com as
pessoas que estão se comunicando nas redes sociais", afirmou à Agência Brasil.
Citando a última pesquisa Retratos da Leitura, na qual cerca de 80%
dos entrevistados disseram que não leem porque não gostam, Silveira
disse que percebeu que as pessoas de sua faixa etária, quando
perguntadas, costumam apontar autores brasileiros entre os que marcaram
sua infância. Nomes como Monteiro Lobato e Lygia Bojunga.
"Se formos perguntar o mesmo a uma criança, hoje, a quantidade de
obras nacionais será muito pequena", argumentou o editor. Para ele, isso
é resultado não apenas da "pressão muito forte dos mega best-sellers",
enfrentada por autores brasileiros de literatura infanto-juvenil, mas
também pelo fato de nenhum escritor contemporâneo nacional conseguir se
comunicar com uma grande parcela do público jovem.
"Mesmo que numa linguagem pouco compreensível, os jovens estão
escrevendo dia e noite nas redes sociais. Se as pessoas estão lendo e
escrevendo, estão aptas a se apropriar da linguagem literária. E como há
mais gente podendo comprar livros, que estão mais baratos que há
algumas décadas, acho que falta surgir um escritor capaz de absorver
naturalmente essa cultura e se aproveitar deste cenário", disse
Silveira.
"Talvez esse novo galvanizador [animador] da literatura e da
linguagem atual já esteja por aí e caiba às editoras identificá-lo,
embora eu ache que os novos fenômenos vão surgir naturalmente da
internet", disse Silveira, citando escritores que, a exemplo do que já
ocorre há pelo menos uma década na música, atingiram sucesso comercial
explorando as possibilidades de divulgação da rede mundial de
computadores, como André Vianco e Thalita Rebouças, autores que já
venderam mais de 1 milhão de exemplares de suas obras e são cultuados
entre muitos adolescentes.
"Cada um em seu segmento já está atingindo em cheio aos anseios de
um público específico, mas são sucessos subterrâneos, surgidos na internet,e só posteriormente absorvidos pela indústria. Ainda não temos o grande escritor brasileiro dos anos 2010", destacou.
Silveira classifica suas próprias observações de audaciosas e diz
que está à procura de um título ou autor capaz de vender muito bem o
que, segundo ele, é importante para as editoras, mas também para os
leitores.
"Não estou falando em simplificações [de linguagens]. Guimarães Rosa
conseguiu se comunicar muito bem mesmo tendo praticamente inventado uma
linguagem. Não estou preocupado que o autor queira escrever de forma
condenável pelos acadêmicos. Quero é abraçar a qualquer um que venda 1
milhão de livros, mesmo que alguns considerem sua obra subliteratura,
porque, no Brasil, isso [vender 1 milhão de livros] é heróico e
contribui de alguma maneira para a cultura brasileira", destacou.
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