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“Voce fala português?“, perguntou o editor do meu jornal. Eu disse que falava um pouco. “ E já ouviu falar no Festival de Literatura do Brasil?” Na verdade eu tinha lido sobre o evento em uma crônica do Julian Barnes, um autor convidado para a primeira ediçåo da Festa. Aí foi o xeque-mate “Voce gostaria de escrever um artigo sobre isso?”
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Semanas depois, eu cheguei em Paraty como repórter do jornal Americano Financial Times. Eu tinha programado entrevistar a Liz Calder, presidente e fundadora do evento. Esperava escrever um artigo que nāo só explicasse o que era aquele evento único, mas também chamar atençāo dos leitores para a literatura brasileira e a grande vibraçåo da cultura deste país.
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Eu nāo poderia imaginar que alguns dias depois eu estaria jogando futebol (muito mal) com o cantor Chico Buarque. (Isso foi em 2004, nāo muito depois da publicaçåo de Budapeste. Também nåo poderia imaginar que retornaria para todas as ediçōes da FLIP desde entåo e que se tornaria o ponto alto dos meus anos.
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Nao é fácil explicar para qualquer um que nunca tenha ido para a Festa que este evento nāo tem comparaçāo com qualquer outro existente até entāo. Poderia descrever o encanto dos debates, claro – mas como passar aquela sensaçāo de estar no meio da Mata Atlântica e da bela cidade colonial?
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Existem outras coisas – como o fato de ser um lugar completamente vazio até alguns dias antes de começar a Festa para depois se tornar palco de eventos para quase mil pessoas. Fico sempre entusiasmado pelo apetite da platéia em ouvir os autores convidados (“promíscuos”, como os definiu Christopher Hitchens – sempre muito concentrados).
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A atençåo da mídia é implacável, as vezes até excessivamente, porque, repito, um evento como este nāo tem precedentes.
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E isso sem falar dos escritores, trazendo nas malas muitas palavras, ideias e provocaçōes. É o show deles, claro, mas ainda assim eu sou testemunha do espanto dos mesmos diante da recepçāo do público. Nāo por acaso, muitos ficam tāo tentados em voltar. Para um jornalista de literatura, conversar, mediar as conversas dos escritores convidados diante de um público tåo cativo é um desafio, uma emoçåo e uma honra.
*Ángel Gurría-Quintana, jornalista de literatura em Cambridge, é um colaborador assíduo do jornal The Financial Times. Ele esteve em todas as ediçoes da Flip, desde 2004, e a partir de 2005 colabora como mediador das mesas principais
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