Os músicos Nando Reis e Fernanda Takai participaram hoje (19) de um
dos mais concorridos bate-papos da 1ª Bienal Brasil do Livro e da
Leitura de Brasília. De forma descontraída, o ex-integrante da banda
Titãs e a vocalista do Pato Fú atraíram um grande público,
principalmente adolescentes, interessado em ouvir a opinião deles sobre a
relação entre música e literatura, sobretudo a crônica, gênero ao qual
Fernanda Takai se dedica.
"Nem toda crônica pode ser musicada. Algumas, se fossem musicadas,
talvez se tornassem chatas. Há aquelas que têm ritmo, que fluem. Outras
são mais introspectivas", disse Fernanda que, desde 2005, escreve
crônicas que são publicadas por diversos jornais do país.
"No primeiro momento, eu hesitei porque todos os outros colunistas eram
figuras superconsagradas. E todos homens. Eu me senti uma estranha no
ninho, como se estivesse invadindo um local sagrado. Depois, achei que
se eu, que vinha de uma outra escola, ocupasse com dignidade aquele
espaço, daria às pessoas o exemplo de que é possível escrever", explicou
a cantora.
Para ela, música e literatura exigem igual dedicação. A principal
diferença é a resposta do público. "A música é mais glamurosa, mas, no
jornal, o diálogo com o público é mais direto. Meu e-mail é publicado nas crônicas e quem as lê pode me responder imediatamente. Já com a música, o momento da resposta são os shows. As pessoas ouvem em casa no rádio, na TV e nos CDs, mas poucas vezes temos a reação direta de quem nos ouve".
Autor da letras consagradas pelo público, como Segundo Sol, gravada por Cássia Eller, e coautor de alguns dos maiores sucessos dos Titãs, como Bichos Escrotos e Polícia,
Nando Reis se recusou a assumir o título de poeta. "Acho um pouco
presunçoso. Não me considero um poeta e não publicaria como poesia o que
escrevo para ser musicado". Mas ele só demonstrou certa irritação ao
ser perguntado se as músicas que compõe estão deixando de ter o apelo da
crítica social, que marcou o início da carreira dele, para virar uma
obra mais "comercial".
"Não escrevo porque não tenho mais saco para escrever sobre estes
assuntos [crítica social]. Não me interessa e acho que não resolve nada.
Já escrevi, fui criticado, censurado, só não fui preso por que não
nasci dez anos antes, mas, hoje, o que me interessa é o indivíduo".
Fernanda e Nando elogiaram a capital federal por promover o primeiro
evento literário de grande porte da cidade, que segue até o dia 23, na
Esplanada dos Ministérios. "Acho que demorou tempo demais para Brasília
ter sua própria bienal", disse a cantora. "Quando falamos sobre a
importância da leitura, o ponto é o direito à educação, já que, para
ler, a pessoa tem de ser alfabetizada. Sabendo ler, a pessoa tem acesso a
todo um mundo de informações que não se limita aos livros", completou
Nando. Escrever, para ele, mais que talento, é uma questão de
envolvimento e prática.
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