quarta-feira, abril 25, 2012
Notas cinematográficas
Lisbeth Salander é a heroína-síntese destes nossos tempos de Wikileaks. Filha de uma família disfuncional, ex-interna de uma instituíção de recuperação e vítima, quando criança, de abuso sexual e da ação de agentes públicos corruptos e pervertidos, a hacker "capaz de desencavar as informações mais obscuras" se tornou uma pessoa cética, revoltada e anti-social. Bissexual e com um visual andrógino e punk, a personagem de 24 anos criada por Stieg Larsson para a série Millenium é contraditória, egoísta, frágil e independente, mas ai de quem agredir ou ameaçar uma mulher. Aí ela é simplesmente fodona.
Algumas locadoras se anteciparam e obtiveram cópias piratas do segundo episódio da trilogia sueca, A Menina Que Brincava Com Fogo. Não tem o clima noir do primeiro, Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, e Salander praticamente não contracena com o jornalista Mikael Blomkvist, mas a trama da intrincada investigação de um esquema de prostituição internacional é tão envolvente quanto a do primeiro filme sueco - adaptado às pressas por Hollywood.
Leia: Por que amamos tanto Lisbeth Salander
E o novo filme de Johnny Depp, Diários de Um Jornalista Bêbado? Alguém será capaz de, dois dias após tê-lo assistido, dizer do que trata a história? Da luta contra o alcoolismo (dirão os caretas)? Da resistência à especulação imobiliária (dirão os idealistas)? Da ingerência norte-americana na América Central (dirão os politizados)?De amor (dirão os românticos que não souberem nada sobre Hunter Thompson, o norte-americano que ficou conhecido como o inventor desta fajutice chamada jornalismo gonzo)? Do retrato do artista (?) quando jovem incompreendido em busca de se expressar (filmes assim devem ter um efeito catártico sobre a maioria, que acredita que lutar contra a mediocridade é exclusividade dos artistas doidões)?
Medo e Delírio em Las Vegas, primeira tentativa do mesmo Johnny Depp de levar a obra de Thompson para as telas, ao menos tinha momentos engraçados e outros de puro nonsense. Já este...filme vazio, fadado ao esquecimento. Leva ao menos uns vinte minutos para que o espectador se identifique e começe a simpatizar com um personagem. E não é com o de Depp, mas sim com o fotógrafo Sal.
Ainda é cedo para falar (e também não muito importante), mas Xingu talvez seja o filme certo para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Um filme oportuníssimo dirigido com sensibilidade por Cao Hamburguer. Questão indígena, conflito agrário, preservação ambiental, Amazônia, política...tudo isso servindo como pano de fundo para uma história humana de despreendimento e aventura das mais cativantes, com a qual plateias de qualquer parte podem se identificar. E ainda por cima com direito à críticas sutis ao Pará e ao Mato Grosso (agora, do Sul).
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