O escritor português Miguel Sousa Tavares admitiu hoje (20) ter
planos de viver no Brasil. Seu projeto era mudar-se ainda este ano, mas a
grave crise econômica que seu país enfrenta o fez repensar.
"É um projeto sobre o qual ainda não me decidi. Planejava me mudar na
metade deste ano e viver metade do ano no Rio de Janeiro, metade em
Portugal. Só que Portugal anda tão ruim que eu sinto quase um dever
patriótico de não o abandonar. Ficar e ao menos tentar resistir a esta
crise até que possamos voltar a levantar a cabeça", disse o escritor à Agência Brasil, depois de sua palestra na 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em Brasília (DF) até a próxima segunda-feira (23).
Autor de Rio das Flores, No Teu Deserto e Equador
(adaptado para a televisão e exibido, no Brasil, pela TV Brasil), o
escritor e jornalista afirma que seria a pessoa mais feliz do mundo se
pudesse se dividir entre os dois países.
"O Brasil é um país que me fascina, com muita coisa ainda por
descobrir. Há uma modernidade e, ao mesmo tempo, um primitivismo que me
causa grande alegria quando venho ao país. Somando a esta, acho que já
são 45 vindas", disse Tavares.
O escritor ainda comentou que a obra de autores brasileiros, com
destaque para Jorge Amado e Érico Veríssimo, foi o que primeiro chamou
sua atenção. Em seguida, a música e o cinema. No texto que leu durante
sua apresentação, o português chegou a confessar sentir inveja dos
autores brasileiros.
"[Inveja] da sua inesgotável matéria-prima de inspiração, das suas
inacreditáveis histórias, que não seriam verossímeis em nenhum outro
lugar senão aqui. Da sua infinita capacidade de romancear num país que,
500 anos depois da descoberta oficial, tem tanto ainda por descobrir. Eu
sou filho de um imaginário gasto e cansado, de um continente velho e
exaurido que é a Europa".
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