Qualquer semelhança entre o escândalo envolvendo o jornal inglês 'News of the World', do mega-empresário Rupert Murdoch, e o caso Veja/Dirceu é mera confirmação do velho ditado de que, para certos setores, melhor seria que a população jamais soubesse como são feitas as salsichas, as leis e o...jornalismo.
Na Inglaterra, a revelação de que o jornal do mega-empresário Rupert Murdoch realizava escutas ilegais em telefones de celebridades, políticos, membros da família real e de vítimas de crime e seus familiares (entre eles o brasileiro Jean Charles de Menezes) levou à prisão de executivos e à demissão do então porta -voz do primeiro ministro.
Já no Brasil, fica a dúvida: será que desta vez haverá alguma autoridade com coragem suficiente para chamar a Veja na chincha e deixar claro que também a "revista mais lida" do país está sujeita às leis? E que sua imparcialidade não se justifica nem mesmo com a raiva e a desconfiança de seus leitores - ou, vá lá, de parte da população brasileira - em relação aos "petralhas" (termo cunhado pelo ultraconservador mauricinho Reinaldo Aze[ve]do, que, há anos, é a cara e o porta-voz da publicação da editora Abril)?
Não se trata de defender Zé Dirceu, petistas ou qualquer outra personalidade pública de críticas, mas sim de ter certeza de que vivemos em um Estado de Direito. E que, se a Veja quer apontar os erros dos outros, deve cuidar para não cometer erros ainda maiores como violar a privacidade das pessoas ou tentar obter informações por meios ilícitos. Isso não é jornalismo. E o próprio Aze[ve]do reconhece isso. Embora tente, com toda sua bílis, justificar o erro:
"VEJA cometeu, sim, uma invasão: invadiu uma toca de conspiradores [...] indo até o quarto de hotel que ele [Genoíno] ocupa na clandestinidade".
Segundo o boletim de ocorrência registrado pelo Hotel Naoum na Quinta Delegacia de Polícia de Brasília, o clandestino, contudo, era o repórter da Veja, que se fez passar por hóspede do quarto de Dirceu para que uma camareira lhe abrisse as portas. Mal-sucedido, restou a ele se hospedar na suíte ao lado. Se, a partir daí, o jornalista tivesse simulado um encontro imprevisto com ministros e políticos se esgueirando furtivamente pelos corredores do hotel a fim de se encontrar com Dirceu, teria sua matéria. E a discussão (e repercussão) ficaria restrita ao conteúdo da matéria: políticos e membros do governo tem ou não o direito de se encontrarem com Dirceu, que responde, no STF, a processo pelo episódio conhecido como mensalão?
Só que a revista se excedeu, perdeu a mão e deu um tiro no próprio pé. As fotos que ilustram a matéria atestam isso: foram obtidas de forma ilícita uma vez que, segundo o próprio hotel, sequer foram feitas pelo sistema interno de vídeo. Portanto, resta a hipótese de que uma câmera tenha sido instalada por alguém. A serviço de quem? Cabe a Veja responder.
Posso estar enganado, mas, ao contrário de Azevedo, a própria Veja sabe que cometeu um erro. Enquanto o indigesto escriba associa as críticas à uma invasão das redes sociais "pela canalha", "profissionais e blogueiros a soldo", que tentam "transformar o vilão em vítima, e o mocinho, em bandido", a publicação não exibe sequer um resumo da polêmica matéria na página inicial de seu portal na internet.
Sentindo-se prejudicado, o Hotel Naoum não só registrou um boletim de ocorrência para que a Polícia Civil do DF apure o caso, como estuda acionar a revista. E, ao que tudo indica, a PF também vai entrar em ação.
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