segunda-feira, agosto 08, 2011

Santo de Casa

Todo santista que se preze deve ser capaz de citar os nomes de ao menos 15 artistas, políticos, atletas ou celebridades com que sustentar a manjada tese de que a cidade que se ufana de ter ensinado a caridade e a liberdade à Pátria é um celeiro de vultos históricos.

Dos irmãos Bonifácio ao dramaturgo Plínio Marcos, passando por Mário Covas, Celso Amorim e pelo “padre-voador” Bartolomeu de Gusmão (não confundir com o padre baloeiro suicida, Adelir de Carli, vencedor do Prêmio Darwin de morte mais estúpida de 2008) e o stand-up cuspidor Paulo Vilhena, há uma lista enorme de talentos nascidos na “sonífera ilha”. Lista que, infelizmente, representa também a seleção de talentos que tiveram que deixar a cidade para receber o devido reconhecimento.

Já para os caiçaras que, embora talentosos, não conseguem se afastar da cômoda e confortável vida à beira-mar resta, quando muito, um reconhecimento local. Às vezes, nem isso. E olha que há em Santos muita gente nesta situação, nas mais diferentes áreas. Na música a coisa seja talvez um pouco pior pela indisposição do público santista para com o trabalho autoral das pratas da casa, o que resulta na falta de espaço para apresentações que não sejam covers de boa ou péssima qualidade.

O guitarrista e compositor Mauro Hector é, para mim, um destes casos. Em 2003, ano em que lançou seu primeiro cd solo, Sonoridades, foi apontado pela revista Guitar Player como um nome promissor no cenário da guitarra nacional.

Virtuoso, ele já venceu prêmios, gravou como músico de estúdio ao lado de muita gente boa, tendo inclusive integrado a banda de Guilherme Arantes e tocou como convidado em diversos festivais de rock, blues e jazz Brasil afora, tanto com seu projeto solo, quanto com sua antiga banda, a Druídas, uma das melhores que já surgiram na cidade (muito embora, na época, os intermináveis solos de Hector contribuísse para afastar um pouco o público. Espero que ele tenha corrigido isso e, hoje, esteja mais econômico).

Com tudo isso, e embora relativamente conhecido entre os músicos de São Paulo, aonde toca com frequência, seus trabalhos solos vem passando despercebidos aos olhos do público. Eu mesmo sequer sabia se ele continuava ou não em Santos, se a Druidas ainda existe  ou se extinguiu-se (no Youtube há um vídeo de janeiro deste ano, no Torto) e se o guitarrista continuava tocando (e dando aulas para complementar os ganhos com a música propriamente dita). Até passar por Santos e descobrir que ele lançaria seu terceiro e mais recente cd no Sesc Santos, no último dia 27.

Adoraria voltar a vê-lo tocar ao vivo. E poder prestigiar um esforçado e talentoso artista que a cidade talvez não ande merecendo. Infelizmente, no dia da apresentação eu já não estava mais por lá. 

Compartilho, abaixo, dois vídeos. O primeiro de Hector tocando , em estúdio, uma de suas composições. O segundo, ainda da época do Druidas.


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