sexta-feira, setembro 03, 2010

Ditaduras militares distanciaram produção teatral latino-americana


Ainda pouco conhecida do público brasileiro, a produção teatral latino-americana vem conquistando espaços de exibição Brasil afora. Além de mostras já tradicionais como as de Londrina (PR) e de Porto Alegre (RS) – nas quais é frequente a presença de grupos e companhias de países vizinhos –, eventos como o festivais Ibero-Americano de Teatro de São Paulo (SP), que este ano chegou a terceira edição, e o de Santos (SP), cuja primeira edição teve início ontem (2) a noite, tem permitido que os profissionais da área troquem experiências e que o público conheça produções de qualidade.

"A produção artística e o pensamento latino-americanos são hoje tão importantes quanto as referências europeias e norte-americanas que formaram nosso teatro ao longo da história", sustenta a ensaísta e professora da Escola de Artes Dramáticas (EAD) da Universidade de São Paulo (USP) Silvana Garcia que, em Santos, coordenará a mesa de debates Criação e Identidade no Teatro Ibero-Americano.

"Estamos recuperando um contato que, na década de 1960, foi muito importante e que, em parte, foi interrompido pela censura e pela repressão que, nos anos 1970, foram terríveis para o teatro", disse Silvana ao mencionar a interrupção de antigos festivais internacionais de teatro, responsáveis por trazer ao país nomes e obras que influenciaram toda uma geração.

A diretora Cibele Forjaz, cuja Mundana Companhia apresentará em Santos, a partir da próxima segunda-feira (6), a peça em três partes O Idiota, a reaproximação com o teatro ibero-americano é como "curar antigas feridas".

"A partir do final da década de 1960 nós tivemos ditaduras que sufocaram as manifestações artísticas em praticamente toda a América Latina. Isso, me parece, provocou um distanciamento em razão do qual a gente, hoje, normalmente conhece mais do teatro alemão do que do argentino", disse Cibele.

Para Silvana Garcia, o crescente interesse pela produção ibero-americana é consequência da revitalização, a partir do início da década de 1990, do conceito de teatro de grupos, de produção coletiva, em detrimento do destaque do diretor, característico dos anos 1980.

"Na década de 1980 houve um afastamento quase que natural em função das características locais de produção, mas a partir dos anos 1990, com a efervescência e o surgimento de uma nova geração dedicada ao teatro coletivo, nós voltamos a nos interessar por este intercâmbio e a perceber um movimento similar na América Latina", disse a professora, destacando que, hoje, a produção é heterogênea.

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