sexta-feira, dezembro 28, 2012
O TEMPO É...
A ficha cai e você saca que está amadurecendo quando:
Se pega pensando que está muito calor para viajar para a praia.
Descobre que não há nenhum jogador profissional de futebol mais velho que você em atividade (Peduzzi).
Ao ver três garotas lindas passando, imagina que bom seria ter dez anos a menos, mas logo se dá conta de que mesmo com uma década a menos, as jovens provavelmente ainda o achariam um "tiozinho".
Trabalha ao lado de uma gata que jamais enviou uma carta, com selo e carimbo, pelos Correios.
Comenta com alguém que, quando garoto, você achava a atriz Irene Ravache uma gata.
Foi aos shows do Bomb The Bass e do Tecnotronic no Brasil.
Tem medo de estar abusando ao tomar um copo de café com leite pois seu médico garantiu que, após algum tempo, todos vão perdendo a capacidade de produzir a enzima necessária à digestão da lactose.
Na rua, começa a receber folhetos publicitários sobre lançamento de imóveis.
A caixa do supermercado te trata por senhor.
Reconheces um surfista fora da praia?
"A pluralidade também existe na cultura surf. Podemos citar três tipos de surfistas facilmente encontrados em metrópoles como São Paulo, Porto Alegre e Brasília, exemplos de cidades com massiva presença de surfistas que vivem afastados do litoral e a partir de onde as pessoas têm que viajar no mínimo 200 quilômetros para surfar nos fins de semana. Um desses grupos é o dos que chamamos surfistas realizados, grupo de pessoas mais ligadas à natureza, espiritualidade e contemplação; pessoas com a auto-imagem independente e que, portanto, não são tão sugestionados por grupos de referência e para quem o consumo é motivado pelos benefícios de uso e funcionalidade. Estes homens e mulheres não vivem em uma sociedade secreta. São médicos, engenheiros, cientistas, publicitários. Talvez ele esteja do seu lado e você nem perceba".
Enfim, uma obra inspirada que consegue analisar a imensão econômica e social da grande paixão de "quem tem sal nas veias", sem perder de vista que o "surf é a alma de nosso negócio".
Reconhecendo o surf from Surfari on Vimeo.
quarta-feira, dezembro 26, 2012
Um Papai Noel Às Avessas
A TV Bandeirantes exibiu ontem (25) a noite o melhor filme natalino feito desde sempre, Um Papai Noel Às Avessas (Bad Santa, 2003). Politicamente incorreta, a comédia produzida pelos irmão Cohen e dirigida por Terry Zwigoff traz o ex-Angelina Jolie, Billy Bob Thornton, no papel de um ladrão alcoólatra e viciado em sexo que todos os fins de ano se emprega como Papai Noel em shopping-centers apenas para roubar as lojas de departamento. Para isso, ele conta com a ajuda de seu comparsa, um anão negro e malandro que faz às vezes de elfo enquanto planeja os golpes. O problema é que, a cada ano que passa, o consumo com as drogas e o descontrole diante das mulheres (sobretudo as gordinhas) o levam a se tornar mais e mais imprevisível, chegando bêbado ao trabalho e assustando as crianças levadas pelos pais para fazer o pedido a Santa Claus. A coisa se complica após ele resolver assaltar a casa onde um garoto levemente retardado, vítima de bullying, vive sozinho com a avó esquizofrênica enquanto o pai está preso.
Apesar de ter sido lançado em 2003 e de ter muitos fãs, eu sequer o conhecia. É como se Charles Bukowski tivesse criado a personagem e escrito o roteiro. Sensacional.
terça-feira, dezembro 25, 2012
O Cinema da Melhor Idade
“Ser velho significa que, apesar e além de ter sido, você continua sendo. E a consciência de continuar sendo é tão avassaladora quanto a consciência de ter sido”.
Philip Roth - in “O Animal Agonizante” (citado por Matheus Pichonelli, em Carta Capital)
O fato de que a população mundial está envelhecendo vem sendo apontado por demógrafos e especialistas do mundo todo há tempos. Já em 2002, a ONU previa que, até 2050, a quantidade de pessoas com mais de 60 anos vai superar a de jovens abaixo dos 15 anos de idade pela primeira vez na história.
Tal fenômeno produziu uma série de mudanças culturais, econômicas e políticas, como o surgimento de novas profissões, bens e serviços voltados para o público da chamada terceira idade, que, muitas vezes, é um consumidor privilegiado.
Quem ainda parece não ter se dado conta disso são os produtores de cinema. Hollywood, por exemplo, produz poucos filmes com e para o público mais velho. Do cinema brasileiro, então, nem se fala.
Há, óbvio, alguns bons títulos, como o excelente argentino Elza e Fred, mas basta passar os olhos na programação dos cinemas para identificar qual é o público prioritário para os produtores e diretores. Além do que, em meio ao que muitos classificam como a `infantilização da cultura´, mesmo quando os protagonistas da trama já passaram dos 60 anos, a história pouco tem a ver com as preocupações, os problemas e as alegrias desta faixa etária. Na maioria das vezes, tanto faria se as personagens tivessem 30, 40 ou 70 anos. A abordagem seria a mesma. Em geral, pelo viés cômico, como em Alguém Tem que Ceder (Something's Gotta Give, 2003), com Jack Nicholson e Diane Keaton, ou o recente Um Divã Para Dois (Hope Springs, 2012). Daí que é mais fácil ver, nas telas, "a visão" de um iraniano sobre determinado conflito do que o ponto de vista de um idoso sobre a "aceleração" das comunicações e o "encolhimento" do mundo.
Imagino que isso seja intencional, pois, assim, o filme tem mais chances de atingir a uma maior parcela do público, que se identifica mais facilmente com os percalços enfrentados pelo velhinho simpático ou mesmo pelo coroa antipático que, no fim, se redime da quase misoginia. Principalmente se a preocupação estiver relacionada a questões de sexualidade. Vale lembrar que, já nos anos 1970, o filósofo Edgar Morin destacava que “a cultura de massa desagrega os valores gerontocráticos, acentua a desvalorização da velhice, dá forma à promoção dos valores juvenis e assimila uma parte das experiências adolescentes”. O que há de mais representantivo da nossa cultura de massa que o cinema blockbuster?
Passei a atentar para isso após assistir, ainda no primeiro semestre, a um bom filme, uma exceção ao quadro descrito acima. E que, talvez por isso mesmo, por fazer menos concessões, parece ter passado batido por críticos e público. Trata-se de O Amor Não Tem Fim (Late Bloomers, 2011). Dirigido pela francesa Julie Gavras, filha do ícone cinematográfico Costa-Gavras e diretora do também excepcional A Culpa é do Fidel, o filme marca a volta da ainda bela Isabella Rossellini aos cinemas. Além de resgatar um dos grandes atores norte-americanos, Willian Hurt.
No filme, os dois interpretam um casal em que cada um lida de forma diversa com a crise dos 60 anos. Para a mulher, simbolizada no fato de o marido receber, na primeira cena do filme, um prêmio pelo conjunto de sua obra, como se a fatura estivesse fechada e ele já não fosse produzir mais nada de importante. E é na forma como cada um vai lidar com o inevitável que se dá o grande choque da vida conjungal.
Mais recentemente também assisti a O Exótico Hotel Marigold - espécie de Comer, Rezar, Amar da terceira idade, cujo grande mérito é reunir um elenco de primeira, com destaque para o jovem ator inglês Dev Patel, de Quem Quer Ser Um Milionário.
Tomara que isso simbolize uma mudança.
segunda-feira, dezembro 24, 2012
300 Dias de Noite
UMA OBRA VERÍDICA BASEADA EM FATOS FICTÍCIOS
Refém das almas sebosas que a noite se arrastam pelas ruas da cidade futurista de traços sinuosos, o semifosco consumiu o último pacote de mantimentos que conseguira reunir em casa antes do declínio da civilização, quando a cidade era ora apontada como a de maior poder aquisitivo, ora como a mais socialmente desigual do país.
Trancado no bunker, o semifosco já se via obrigado a beber a água infecta que o Poder Público continuava a oferecer apenas para o asseio dos sobreviventes, sem conseguir tratá-la para que ficasse apta a ser ingerida.
Bem guardado por militares, o depósito comercial onde os sobreviventes se arriscavam a chegar sempre que precisavam reabastecer a dispensa fica a menos de 400 metros do bunker do semifosco. Vista do posto de observação, a rua parece deserta e segura. O semifosco, contudo, sabe que os zumbis estão lá fora, à espreita da próxima vítima. E que só com muita sorte ele conseguiria chegar intacto ao depósito.
Na véspera, um outro sobrevivente esfomeado tentara sair. Mal chegou ao veículo pessoal terrestre estacionado na entrada do bunker e foi alcançado por um dos zumbis de alma sebosa. Eram 21 horas e as luzes dos postes mal atravessavam a copa das árvores que lançavam sombras bruxuleantes sobre o veículo. Enquanto a vítima choramingava diante do inevitável, outros sobreviventes se arriscaram a abrir as janelas blindadas e começaram a gritar, bater panelas e fazer barulho, tentando desviar a atenção do zumbi e, assim, dar tempo para a infeliz vítima escapar ao seu trágico destino. Deu certo, embora o zumbi tenha ficado com o veículo pessoal. Chorando, esfomeado e sem conseguir comida, o sobrevivente voltou para seu bunker, onde o aguardavam uma mulher e duas crianças igualmente sem esperanças. Ao longe, um outro zumbi saiu das sombras e atravessou furtivamente a superquadra.
Vez ou outra, as forças de segurança passam tentando espantar os zumbis, mas, apesar da manifesta melhora dos índices sociais, eles se multiplicam e parece não haver o que fazer. Nem mesmo os bunkers são totalmente seguros. O do próprio semifosco já fora invadido uma vez. Por sorte, ele não estava na parte invadida, ou, provavelmente, teria o mesmo destino que outros sobreviventes, como o jovem que adormecera e fora surpreendido pela invasão dos almas sebosas, que o agrediram, amarraram com o fio do aparelho telepático e o mantiveram vivo enquanto se banqueteavam com seu cérebro.
Enquanto isso, a Nulidade Executiva pedia calma e prometia aos sobreviventes resolver o problema dos zumbis. Apesar de, tempos atrás, um especialista ter garantido que não haveria solução, que estamos todos fadados a nos tornarmos zumbis de almas sebosas, tese que exemplificou com os episódios do restaurante self-service obrigado a cobrar os clientes antes que eles almoçassem a fim de impedir que saíssem sem pagar; do jogador brasileiro punido no exterior por falta de espírito esportivo e, óbvio, dos antigos mandatários e parlamentares, entre os quais parece ter começado, há muito tempo, a se proliferar o vírus que transformava a todos em zumbis.
Um estampido, um choro, uma sirene distante...O semifosco pensou que super-herói nenhum manteria os sobreviventes a salvo por muito mais tempo. Uma hora, os zumbis perceberiam que não havia mais nada nem ninguém que pudesse impedi-los. Então, aos sobreviventes, já não restaria outra opção que não se misturar aos almas sebosas e vagar pelas ruas da Nação.
sábado, dezembro 22, 2012
Desacordo Ortográfico
A Agência Brasil (ABr) - uma agência PÚBLICA de notícias, vinculada a EBC e à estrutura do governo federal, mas editorialmente independente - publicou, ontem (21), um apurado material a respeito do acordo ortográfico assinado por sete países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, em 2008, e cuja entrada em vigor (que estava prevista para o início do próximo ano) deverá ser adiada nos próximos dias. São, ao todo, 15 matérias que valem uma olhada com calma. Para tanto, basta clicar sobre o título das matérias abaixo.
ABL já propõe mudanças e ampliação do acordo
As novas regras ortográficas da língua portuguesa ainda não entraram plenamente em vigor, mas a Academia Brasileira de Letras (ABL) já tem propostas de mudanças e ampliação no acordo. Segundo o acadêmico Evanildo Bechara, as alterações são “coisa muito pequena” diante da abrangência do acordo ortográfico.
Portugueses criticam adoção do acordo ortográfico
A despeito de Portugal ter aceito formalmente o acordo ortográfico antes
do Brasil, a mudança de algumas regras na escrita ainda gera polêmica e
divide opiniões no país de origem da língua portuguesa. Alguns
lusitanos sentem que a reforma os força a escrever (e até a falar) como
os brasileiros. Em Portugal, o acordo está em vigor desde 13 de maio de 2009. A resolução de adotá-lo prevê um prazo transitório de até seis anos para implementação definitiva da nova grafia.
Professor critica forma como acordo foi discutido
O professor Ernani Pimentel criticou a forma como o Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa foi discutido, já que segundo ele apenas dois
gramáticos formularam as regras, que passam a ser obrigatórias no país a
partir de 2013: Antonio Houaiss, da Academia Brasileira de Letras
(ABL), e Malaca Casteleiro, da Academia da Ciência de Lisboa.
Escritores acreditam que acordo não altera a prosa
Dez anos antes da Academia Brasileira de Letras (ABL) estabelecer o Formulário Ortográfico
(1943) - uma das primeiras tentativas de se organizar, no Brasil, o
vocabulário ortográfico da língua portuguesa -, o compositor Noel Rosa
indicava que os brasileiros se apropriavam de modo peculiar do idioma de matriz europeia. E que a língua é de quem a usa. “Tudo aquilo
que o malandro pronuncia com voz macia é brasileiro, já passou de
português”, escreveu o “Poeta da Vila” na canção Cinema Falado.
O mesmo fenômeno de apropriação, enriquecedor nos vocábulos e na
expressão de sentimentos, também pode ser notado no trabalho de
escritores de outros países lusófonos. Para eles, assim como para Noel
Rosa, “já passou de português” o que se quer dizer aos leitores e as
regras do idioma escrito, não alteram as intenções autorais e a maneira de como escrevem.
“O escritor, enquanto artista, deve poder trabalhar a língua da
maneira que ela gere uma linguagem estética capaz de acompanhar seu
processo criativo, pois isso gera uma marca identitária [adjetivo
relativo a identidade] própria a cada escritor. Isto é uma urgência que
vem de dentro. Partimos de pressupostos, de uma gramática semelhante,
mas aquilo que faz a literatura de cada um nem sequer é o fato de ser
angolano, moçambicano ou brasileiro, mas sim as urgências, os anseios e
os medos de cada um”, explica o o escritor angolano Ndalu de Almeida,
que assina com o pseudônimo de Ondjaki.
Ele defende a supremacia da literatura como “espaço de mediação
identitária entre os países de língua portuguesa” acima do idioma
oficial. A escritora moçambicana Paulina Chiziane é clara ao dizer “o
acordo não afeta a minha produção”, apesar de sentir “pena” de ter que
comprar “novos livros, novas gramáticas, novos dicionários”. O escritor
cabo-verdiano Germano de Almeida concorda com seus colegas e avalia que,
embora novas regras possam alterar “hábitos instalados”, o acordo não
acarretará maiores transtornos.
“Em Cabo Verde não há problemas quanto ao acordo. A língua é um
instrumento e defendemos que temos que nos preocupar com [o fato de ]
que cada um de nós [países de língua portuguesa] tenha um português. Na
medida em que conseguimos aproximar a língua, que todos tenhamos um
português próximo, fazemos isso”, diz Germano.
Germando, Ondjaki e Chiziane estiveram em Brasília em abril passado
para participar da 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura; assim como a
historiadora e poetisa angolana, Ana Paula Tavares. Na ocasião, ela
também revelou boa vontade com a reforma ortográfica. “Não tenho
problema nenhum em escrever segundo o novo acordo para minha comunicação
normal”. Ela ressalvou, no entanto, a diferença entre escrever em prosa
ou em verso. “Quando escrevo poesia, surgem algumas dificuldades, já
que a palavra poética obedece a um ritmo, a uma musicalidade, que lhe
está implícita. Se eu de repente tiro o "p" de egípcio, esta simples
letra faz falta”.
Feita a ponderação, ela salienta que “algumas pessoas que recusam o
acordo escondem preconceitos como se acharem as donas do idioma e não
aceitarem que este seja modificado ao sabor do que consideram um serviço
aos [países] herdeiros da língua. Não tenho esse preconceito. Acho que,
se é possível simplificar a comunicação, deve-se seguir este caminho.
Já os escritores, os criadores, vão ter que pensar esta questão.
O
acordo é ortográfico. Não tem implicações no sentido fundamental da
escrita. A escolha da ortografia, contudo, vai depender muito do autor.
Se o poema me exigir que eu fique com a grafia antiga, vou optar por
ela”, afirma, para destacar que a criação tem liberdade ortográfica.
quinta-feira, dezembro 20, 2012
Pode Pará Não!
Pode Pará não!
Princípio da tarde, toca pros lados do Guamá, tomar um picolé Cairu, nas Docas, bancando o barão.
Pega o moto-taxi na Presidente Vargas e segue lá pra NÁ que vai ter microfonia. Pra abrir os trabalho, apanha uma Cerpa Golden. Chega frescando na menina empiriquetada de all-star e tattoo, mas, quase dispré, leva o farelo.
Sem mais, espoca fora e volta à rua abafada. Mas como então? Tá ainda mais quente e os ouvidos zuindo. Vai se refrescar no Jardim Botânico, mas logo se enche de verde, procura mais uma Cerpa e segue pra Cidade Velha de ônibus, passando direto pelo Ver-O-Peso, sem se deter porque a fome aperta e o objetivo é chegar a Dona Dica, na Almirante Tamandaré.
O qual? Pirarucu com pupunha; mexilhão com jambu; mortadela defumada com tomate seco e queijo de búfala regados ou não ao molho de pimenta-de-cheiro com tucupi. Na dúvida, fica com dois. Satisfeito, arreda prometendo voltar pra cear sopa de caranguejo com ovo de codorna. Barriga cheia, vai se refestelar em um banco do jardim da Casa das Onze Janelas com Kerouac On The Road.
Varejeiras bijuzadas passeiam à beira-rio, ambicionando passeios em vuadeira. E você, nem tchuns! Volta pro hotel mequetrefe diante do Ver-O-Peso desviando dos pedintes, bêbados caídos na calçada e urubus. A resistência do chuveiro queimada não é problema com o calor senegalesco que a brisa do Guamá não afasta.
Troca de roupa maldizendo o ar-condicionado disfuncional e sai de volta pra Cidade Velha, onde, a esta altura, o Palafita já está balançando, parecendo que vai cair ao som de Tim Maia Racional, mas, com a proteção do síndico, não cai. Você quer gravar, você quer beber, você quer tirar pra dançar a filha dos caboclos ou até mesmo a loirinha descendente de alemães que vieram comercializar látex...você quer, mas você é cool, você é paulista, você é a terceira geração de caiçaras, você simplesmente não sabe dançar. Ou não sabia. Até que a coroa baixinha e gordinha se aproxima e diz, “bora, dançá!”. Você ainda balbucia que não sabe, mas quando vê, já está a segurando pela cintura, rodando parado no salão lotado e olhando entre as frestas do chão de ripas o rio seguindo seu curso.
Você pede mais uma Cerpa Golden e deixa a vida também seguir seu curso. Afinal, mais tarde ainda tem Se Rasgum, no African Bar.
E pode Pará não!
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segunda-feira, dezembro 17, 2012
Um Clipe Sem-Vergonha
Eu nunca cheguei a entender qual é a deste tal de Bonde do Rolê, grupo que desde sua criação, em 2005, faz sucesso no exterior, já tendo sido elogiado pelo jornal norte-americano The New York Times e eleito pela revista Rolling Stone como uma das dez bandas para se ligar no mundo inteiro por ser o então quarteto brasileiro capaz de agitar festas (salve, wikipedia)
Também não saco nada de funk, ou melhor, do que HOJE se convencionou chamar de funk e que nada tem que ver com O FUNK de ícones como Parliament, Funkadelic ou James Brown, manancial em que beberam grupos como Red Hot Chili Peppers.
Meninos "baixos, altos, de qualquer tipo" também não me sensibilizam, sejam eles brasileiros, cubanos, italianos ou o raio que os parta.
Ainda assim...curti este clipe gravado no Piscinão de Ramos e dedicado ao sambista Dicró, falecido no início deste ano. Da música em si eu nem digo nada, mas as imagens dirigidas por Tarcísio Lara Puiati e a edição acabaram funcionando muito bem, mesmo a ideia não sendo nada original e o resultado tendo ficado muito parecido com o de vários clipes de rappers-posers norte-americanos. Parecido, porque é justamente na pequena, mas significativa diferença de optar por exibir gente como a gente ao invés do mais do mesmo a que os gringos já estão pra lá de acostumados a ver e que nós sabemos não representar a diversidade brasileira que reside o aspecto envolvente do clip. Divertido, fulero, brega e sem-vergonha.
domingo, dezembro 16, 2012
Dicas
Não. Não sou eu que estou dizendo isso da terra de todos os santos, que, a propósito, eu mal conheço. Quem está dizendo é o blog Rock Loco. Ou, sendo mais preciso, a polêmica vem de um dos soteropolitanos por detrás do excelente blog dedicado à música, literatura, quadrinhos e a outros interesses. Para quem gosta da dita cultura pop, vale acessar o Rock Loco.
********
Ainda pouco conhecida, mas bem-recomendada, a revista de jornalismo cultural Select lançou, em novembro, uma edição especial de 194 páginas inteiramente dedicada à vida e obra do papa da literatura beatnik, o norte-americano Jack Kerouac; sua obra-prima On The Road (Pé Na Estrada, ed. LP&M); a ousava versão cinematográfica (Na Estrada) dirigida pelo brasileiro Walter Salles e um pouco sobre outros ícones do movimento literário que, surgido no início da segunda metade do século passado, influenciou sucessivas gerações e movimentos culturais. Para quem curte o tema, os R$ 9,90 são nada.
Ellen Oléria e o "eu já sabia".
Ellen Oléria é foda. Uma das finalistas e vencedora do programa The Voice Brasil, da Globo, ela deu hoje (16), a todos os que acompanham sua carreira, especialmente os brasilienses, a possibilidade de dizer "ah, mas eu já sabia".
Não que um eventual resultado negativo na final do programa global fosse causar algum prejuízo à admiração de seu crescente fã-clube, mas ela ter ganho dá alguma esperança aos que gostam de boa música e reconhecem um artista talentoso. Sua vitória, portanto, foi o justo reconhecimento a um dos maiores talentos da música brasileira surgido nos últimos tempos.
Estejam certos, não estou exagerando. Se digo isso é porque já tive a possibilidade de assistir a vários shows da musa brasiliense. Sim! Na capital federal, Ellen é musa de um certo segmento. E o que faz dela uma musa pouco provável (do ponto de vista comercial), é o que a levou a ser a escolhida pelo público: sua personalidade. Além da voz privilegiadíssima, Ellen é uma artista na real acepção da palavra. Su presença de palco e carisma NATURAL é algo que há muito tempo não se vê no showbusiness tupiniquim. Além disso, ela possui uma inteligência intuitiva e artística que lhe permite realmente interpretar, a seu modo e com verdade, aquilo que canta. Por último, mas não menos importante, sua condição lhe dá uma consistência e uma postura que, em muitos, não passa de pose. Sua música fala por si só, mas ajuda a entendê-la saber que ela foi criada em uma das mais violentas cidades-satélites do desigual Distrito Federal, é negra e lésbica (sua namorada estava presente e devidamente identificada nas católicas tardes de domingo global).
Havia vários bons candidatos disputando o The Voice. Jovens inconscientes se esgoelando para mostrar todo o alcance da voz, fazendo mil firulas e se esforçando para ganhar a admiração de todos. Desde o início, contudo, algo ficou claro: assim que a ainda pouco conhecida Ellen soltou a voz na maior vitrine do país, era como se assistíssemos a uma profissional em meio a um bando de calouros. Não apenas os candidatos. Um dos jurados, Daniel, cantou com outros candidatos já eliminados antes da última apresentação de Ellen. Uma amiga não hesitou em comentar: "Eu eliminava o Daniel".
Não que um eventual resultado negativo na final do programa global fosse causar algum prejuízo à admiração de seu crescente fã-clube, mas ela ter ganho dá alguma esperança aos que gostam de boa música e reconhecem um artista talentoso. Sua vitória, portanto, foi o justo reconhecimento a um dos maiores talentos da música brasileira surgido nos últimos tempos.
Estejam certos, não estou exagerando. Se digo isso é porque já tive a possibilidade de assistir a vários shows da musa brasiliense. Sim! Na capital federal, Ellen é musa de um certo segmento. E o que faz dela uma musa pouco provável (do ponto de vista comercial), é o que a levou a ser a escolhida pelo público: sua personalidade. Além da voz privilegiadíssima, Ellen é uma artista na real acepção da palavra. Su presença de palco e carisma NATURAL é algo que há muito tempo não se vê no showbusiness tupiniquim. Além disso, ela possui uma inteligência intuitiva e artística que lhe permite realmente interpretar, a seu modo e com verdade, aquilo que canta. Por último, mas não menos importante, sua condição lhe dá uma consistência e uma postura que, em muitos, não passa de pose. Sua música fala por si só, mas ajuda a entendê-la saber que ela foi criada em uma das mais violentas cidades-satélites do desigual Distrito Federal, é negra e lésbica (sua namorada estava presente e devidamente identificada nas católicas tardes de domingo global).
Havia vários bons candidatos disputando o The Voice. Jovens inconscientes se esgoelando para mostrar todo o alcance da voz, fazendo mil firulas e se esforçando para ganhar a admiração de todos. Desde o início, contudo, algo ficou claro: assim que a ainda pouco conhecida Ellen soltou a voz na maior vitrine do país, era como se assistíssemos a uma profissional em meio a um bando de calouros. Não apenas os candidatos. Um dos jurados, Daniel, cantou com outros candidatos já eliminados antes da última apresentação de Ellen. Uma amiga não hesitou em comentar: "Eu eliminava o Daniel".
Ellen venceu merecidamente. Parabéns. Os presenteados, no entanto, serão as milhares de pessoas que vão passar o réveillon em Copacabana, já que um dos prêmios ao vencedor do programa é tocar na próxima festa da virada.
Para encerrar, tem só mais uma coisa: como eu já escrevi aqui antes, não caia na esparrela de que a Globo descobriu algo, que dirá a "Nova Voz do Brasil". A emissora apenas reparou um problema para o qual muito contribui: a de não separar o joio do trigo e nos empurrar goela abaixo aquilo que acredita ser bom por ser comercial. Além de conhecidíssima do público brasiliense (onde a Globo tem sucursal) e de quem acompanha o cenário musical, Ellen já lançou um bom cd, disponível para audição gratuita há um tempão na rádio uol (clique aqui para ouvir).
******
Desafinou - E o Carlinhos Brown, que de bobo não tem nada, aproveitou a visibilidade do programa para, durante o número do Lulu Santos, aparecer ao lado da Cláudia Leite e do Daniel como garotos-propagandas da caxirola, instrumento que, dizem, ele inventou e está requerendo a patente, embora nada mais seja que o tradicional caxixi feito de plástico, provavelmente na China. Leia o post de 5 de outubro (clicando aqui) para entender o que há de mais nisso.
Para encerrar, tem só mais uma coisa: como eu já escrevi aqui antes, não caia na esparrela de que a Globo descobriu algo, que dirá a "Nova Voz do Brasil". A emissora apenas reparou um problema para o qual muito contribui: a de não separar o joio do trigo e nos empurrar goela abaixo aquilo que acredita ser bom por ser comercial. Além de conhecidíssima do público brasiliense (onde a Globo tem sucursal) e de quem acompanha o cenário musical, Ellen já lançou um bom cd, disponível para audição gratuita há um tempão na rádio uol (clique aqui para ouvir).
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Desafinou - E o Carlinhos Brown, que de bobo não tem nada, aproveitou a visibilidade do programa para, durante o número do Lulu Santos, aparecer ao lado da Cláudia Leite e do Daniel como garotos-propagandas da caxirola, instrumento que, dizem, ele inventou e está requerendo a patente, embora nada mais seja que o tradicional caxixi feito de plástico, provavelmente na China. Leia o post de 5 de outubro (clicando aqui) para entender o que há de mais nisso.
quinta-feira, dezembro 13, 2012
Didática
Se você tem filhos, uma boa forma de prepará-los para a vida é abrir o encanamento de sua casa diante deles. Uma verdadeira aula prática sobre como funcionam certos aspectos do cotidiano, enquanto, na superfície, tudo parece bem.
quarta-feira, dezembro 12, 2012
Parque Anilinas - Cubatão
Há anos... na verdade, há décadas eu não ia a Cubatão (SP). E a cidade aparentemente não mudou nada durante todo esse tempo. Exceção ao Parque Anilinas, recém-reformado, e cuja pista de skate, uma das mais antigas do país, foi ampliada e melhorada.
Ainda me lembro da primeira vez em que, adolescente, pegamos o ônibus intermunicipal, eu e mais dois amigos, sem saber direito como chegar à pista. Na época não havia internet e o jornal local não publicava quase nada sobre skate. De maneira que só tínhamos informações vagas sobre a existência de uma pista semi-abandonada com um longo snake terminando em um bowl com um vertical quase negativo (além dos 90º). Mal pude acreditar quando chegamos e nos deparamos com o que, na época, se limitava ao espaço no canto esquerdo da primeira foto abaixo e que aparece bem visível na segunda foto, totalmente cercado pela grade verde.
A memória pode estar me traindo, mas, nas minhas lembranças, a parede do bowl era maior e mais vertical que a que encontrei há pouco. Talvez a tenham reduzido durante a reforma, sei lá. Também não me recordo de as bordas, desde o snake até o bowl, serem totalmente arredondadas. O que eu não esqueço é que tivemos que pular o muro dos fundos do parque e sair correndo pela avenida principal porque uns garotos mais velhos que nós ameaçavam nos roubar os carrinhos.
Da próxima vez que for a Baixada Santista eu vou levar meu skate só para voltar a experimentar andar naque snake. Se marcar, arrisco até uma voltinha na área de street (última foto). O que duvido é que a pista vá estar vazia como da primeira vez, só para mim e meus amigos.
Leia também: O Dia Em Que o Banks Virou Piscina
domingo, novembro 25, 2012
Documentando a Roda
Sábado.
Santos, litoral paulista.
A noite cai e as ruas do Marapé, bairro popular santista, vão se esvaziando. Exceção à Rua Nove de Julho, a agora chamada Rua do Samba.
Pessoas vão chegando. A maioria, a pé. Destino: o modesto clube social Ouro Verde, a poucas quadras da sede da União Imperial, uma das mais tradicionais escolas de samba do estado.
No começo, o que chama a atenção são os cabelos brancos e a simplicidade no trajar dos primeiros que chegam. Para os mais atentos, é como uma senha: aqui se vem para encontrar os amigos, se divertir e ouvir boa música. Senhoras se acomodam nas mesas dispostas em um canto reservado aos sócios desta espécie de Clube da Lua (filme argentino dirigido por Juan José Campanella e com Ricardo Darín no papel principal).
Logo, mas ainda cedo para os padrões atuais, começam a chegar os jovens. Que também seguem o código: aqui ninguém arruma confusão ou vem para chamar a atenção para si, sob pena não apenas de ser colocado para fora pela "diretoria", mas, principalmente, de ser desclassificado por quem já viveu o bastante para saber o que é a real malandragem. Tampouco se exige música, afinal, os músicos estão ali para se divertir, tocando de graça unicamente pelo prazer de tocar aquilo de que gostam para quem compartilha de suas preferências. Se não houvesse um único assistente ao redor da corda que separa a roda dos demais, eles ainda assim estariam ali, com a cerveja, a água, o whisky e o amendoim sob a mesa no centro da roda.
Todos encontrarão as portas abertas, sem bilheteria ou segurança a fazer revistas pessoais. Por algum milagre, no Ouro Verde, o limite da precaução foi afixar em local visível a faixa com o aviso de que é proibido dançar junto, ficar sem camisa e namorar no interior do salão.
Salão onde, há 25 anos, um grupo de amigos, músicos nas horas vagas, se reúne praticamente todos os sábados para tocar samba de excelente qualidade. Samba mesmo, não aquilo que se vê anunciado nos muros santistas ou que toca nas rádios locais.
É esta história, uma das mais belas manifestações culturais santistas, que a produtora Dose de Inspiração registra no documentário Ouro Verde - A Roda de Samba do Marapé, lançado há uma semana e cuja íntegra, infelizmente, ainda não está disponível nas redes sociais (veja trailler abaixo)
Uma história de amizade regada à samba, cerveja e alegria espontânea, muito diferente dos sorrisos forçados e necessidade de aparecer presenciada em lugares `mudérnos´, da moda.
23h30. Um dos joviais senhores cantores se ergue e samba enquanto os últimos acordes se elevam. O público aplaude. Zinho faz o cavaco chorar. Pandeiro e repique se esmeram. O surdo soa mais alto e, em geral, Mário sola com seu trombone de vara antes de suspender a nota e escancarar seu contagiante sorriso de quem viveu a vida.
Ainda há whisky na garrafa, mas não há problema. Todos estão felizes e o precioso líquido fica para o próximo sábado. Todos saem à rua Nove de Julho com uma sensação de leveza. Os jovens seguem para outros lugares em busca da única coisa que o Ouro Verde não lhes oferece. Os mais velhos, voltam pra casa que amanhã é domingo e quem é esperto chega cedo à praia.
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sexta-feira, novembro 16, 2012
Garage Fuzz
foto: divulgação
Que adjetivo usar para dar conta da energia de uma banda cujo baterista, em poucos minutos de show, rasga um bumbo e uma caixa? Visceral? Batido demais. Forte? É vago. Enérgico? Parece propaganda de bebida isotônica.
Melhor deixar de lado os adjetivos e recorrer aos substantivos e verbos, que são o que importa. Com sua música, a banda santista (eis, enfim, um adjetivo inquestionável) Garage Fuzz segue evidenciando que nem tudo está perdido para Santos; que ainda há uma energia incontida correndo nos subterrâneos da cidade.
Há mais de 20 anos na labuta e com cinco cds e um dvd na bagagem, o quinteto santista é, reconhecidamente, uma das bandas mais representativas e honestas (ah, muleque! achei o adjetivo) da verdadeira cena alternativa musical brasileira. Você pode não curtir o misto de hardcore com punk rock cantado em inglês, mas se tiver a oportunidade de conhecer a história do grupo e conversar com alguém que realmente conheça o meio, ficará surpreso com o grau de reconhecimento que a banda conquistou não só no Brasil, mas também no exterior. E olha que há poucos públicos tão xiitas em suas convicções quanto os de hardcore.
Ontem (15), começo de feriado, a Garage Fuzz tocou alto e rápido na Tribal (R. Júlio de Mesquita, 165). Um fenômeno não passou despercebido a este semifosco alquebrado cujo esqueleto já não resiste mais ao pogo (aquela pacífica dancinha que simula um arrastão junto ao palco): em meio aos modismos, o público santista não só do Garage, mas do hardcore em geral, continua se renovando. Em meio a uns poucos fãs trintões com pinta de quem acompanha a banda desde as primeiras apresentações na Concha Acústica, havia muita garotada, incluindo um bom número de gatinhas, com os hormônios em polvorosa.
Outra coisa que notei após algum tempo sem ouvir a banda é que o som parece mais, desculpem-me, maduro (êh, chavão!). Como se, com a entrada do guitarrista Fernando Basseto (que substituiu Nando Zambeli), os demais tivessem encontrado a síntese entre a porradaria do início e a maior atenção aos arranjos perceptível nos últimos trabalhos, como The Morning Walk. Outra coisa que chama a atenção: não há como não chapar vendo Daniel Siqueira espancar sua batera.
Leia também: Garage Fuzz comemora, em Santos, seus 20 anos
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Atlas Losing Grip em Santos
(continuação do post acima)
Ao fim da apresentação do Garage Fuzz, foi a vez da sueca Atlas Losing Grip subir ao palco. Atual banda do ex-vocalista da Satanic Surfers, Rodrigo Alfaro, a Atlas faz este mês sua primeira excursão pelo Brasil. Desde os tempos à frente da Satanic Surfers, Alfaro tem preservado fãs suficientes para lotar as casas onde vai tocar, mesmo que seu atual trabalho não estivesse à altura do antigo (o que não é o caso, como os santistas constataram, ao vivo). Um ótimo show, mas confesso que só Garage Fuzz já teria me deixado satisfeito. O mais importante, para mim, neste caso, foi confirmar que Santos continua na rota dos importantes shows do underground mundial.
Ao fim da apresentação do Garage Fuzz, foi a vez da sueca Atlas Losing Grip subir ao palco. Atual banda do ex-vocalista da Satanic Surfers, Rodrigo Alfaro, a Atlas faz este mês sua primeira excursão pelo Brasil. Desde os tempos à frente da Satanic Surfers, Alfaro tem preservado fãs suficientes para lotar as casas onde vai tocar, mesmo que seu atual trabalho não estivesse à altura do antigo (o que não é o caso, como os santistas constataram, ao vivo). Um ótimo show, mas confesso que só Garage Fuzz já teria me deixado satisfeito. O mais importante, para mim, neste caso, foi confirmar que Santos continua na rota dos importantes shows do underground mundial.
quinta-feira, novembro 15, 2012
Um Piano pela Estrada
Desde 2003 na estrada com seu(s) piano(s), o virtuose Arthur Moreira Lima já percorreu mais de 125 mil quilômetros e 25 unidades da federação, se apresentando em praças, ruas, clubes populares e locais onde possa apresentar ao público sua arte. No repertório, desde peças eruditas populares de Bach, Chopin, Liszt e Villa-Lobos, até obras clássicas da música popular brasileira, como Asa Branca e Carinhoso.
Nesta etapa do projeto, chamada de "São Paulo e seus Caminhos", o pianista apresentou-se em seis cidades do litoral e interior paulista em apenas oito dias. Nesta quarta-feira (14), véspera de feriado prolongado, foi a vez de Santos receber o caminhão adaptado para se tornar palco do espetáculo.
Infelizmente, devido à previsão de chuva forte, o evento, marcado para acontecer na praça do BNH, na Aparecida, teve que ser transferido para o ginásio de esportes do Sesc Santos. Uma pena, pois não só acabou não chovendo.
Considerado um dos mais importantes pianistas brasileiros de todos os tempos e com renome internacional, já tendo inclusive tocado com algumas das mais importantes orquestras do mundo, Arthur Moreira Lima foi aplaudidíssimo pelo heterogêneo público que aproveitou a oportunidade.
filmado e editado com Nokia E72
terça-feira, novembro 13, 2012
Parra 50
Dj e sonoplasta com passagens por casas que marcaram época em Sampa (AeroAnta, Projeto SP, Dama Xoc, entre outras), Santos (Torto, Bar do 3, Reggae Night, por exemplo), e várias outras cidades, o caiçara Wagner Parra festeja hoje (13), com uma seleta musical, seus cinquentinha.
Um dos últimos sobreviventes dos tempos de "capital vermelha" e de "celeiro de artistas" ainda na ativa; dono da Disqueria - sebo no qual a diretora Anna Muylaert poderia ter se inspirado para rodar seu Durval Discos - e responsável pela introdução, na Baixada Santista, das inspiradas e ecumênicas Fête de La Musique, Parra recentemente decidiu retornar à noite.
Entre as comemorações, Parra e os amigos irão revitalizar o Baile AfroJazzLatino & Outras Quissassas. Além do novo cinquentão no comando das carrapetas, a edição especial da festa contará também com a participação dos djs Lufer e Caiaffo. Fora a promessa de "surpresas e acidentes de última hora".
Baile AfroJazzLatino & Outras Quissassas Especialíssimo
Dia 13 de setembro de 2012
A partir das 22 horas
No Bar do Torto (Canal 4 com a praia)
domingo, novembro 11, 2012
Por que disso?
Memórias de um ex-corintiano convertido em neo-santista...
Não.
Se for ver bem, eu nunca torci para o Timão. Eu torcia era para a "Democracia Corintiana". Afinal, como eu já escrevi aqui, era fácil para um garoto que, na longeva década de 1980, amava os Rolling Stones e o AC&DC, torcer para um time que reunia Sócrates, Casagrande, Biro-Biro, Ataliba, Zenon, Carlos, entre outros controversos atletas que, com o regime militar agonizando, faziam campanha pelo voto direto enquanto, nos campos, reivindicavam o direito dos jogadores a terem voz ativa junto à direção dos seus clubes.
Depois isso ficou no passado. Da mesma forma que, hoje, deixei Santos para trás e, talvez por isso mesmo, tenha me aproximado e me apropriado de tudo o que de alguma forma reforça minhas raízes. Inclusive do Peixe que, este ano, não se saiu tão bem.
Sem mais para o momento, deixo registrada esta inútil nota. um abraço caiçara.
segunda-feira, outubro 29, 2012
Em lugar nenhum familiar
De: Carlos Leite leiteempedra@ig.com.br
Assunto: viagens
Para: semifosco semifosco@blogspot.com
29 de outubro de 2012 09:23
Hoje eu vi golfinhos.
Sim, mais cedo eu vi golfinhos. Três. Nadando bem próximos à areia. Que areia? Foi pra contar isso que te liguei assim que cheguei no aeroporto, mas você estava ocupado e eu acabei não conseguindo falar nada.
Eu também queria dizer que acho que descobri porque você diz que já não gosta mais de viajar tanto quanto antes. Acho que é porque você se acostumou a pertencer aos lugares familiares. Sua casa, seu bairro, sua cidade...
Pensei nisso ontem, quando acordei no meio da noite, cansado de tanto surfar, em um quarto escuro desconhecido e, assim que recobrei a memória de onde estava, percebi que gosto muito desta sensação de não-pertencimento, de estar em lugares onde não tenho uma história.
Acho que isso explica em parte porque gosto tanto de partir. E porque, após alguns dias, volto a desejar viajar. Acho que ajuda também a entender porque gosto tanto de quartos de hotéis, albergues, pousadas, pensões: são lugares impessoais, cuja história de cada pessoa que por eles passa se apaga tão logo ela parte. Aliás, exatamente como acontece no surf, quando estamos a gastar nosso valioso tempo deslizando sobre as ondas. Completada a onda, não restam vestígios.
Não sei porque andei pensando essas coisas. Muito menos porque decidi te escrever. Talvez seja por não ter conseguido conversar com o amigo, sempre muito ocupado para ver golfinhos e para não pertencer a lugar algum.
segunda-feira, outubro 22, 2012
Capital Musical
O playlist da vez soa a um samba do criolo doido (embora traga um único samba). Fazer o que se minha Brasília sonora é assim: multifacetada, heterogênea, eclética.
Escolhi 21 músicas de estilos variados para provar minha tese (bastante repetida por aqui, em outros posts) de que a ex-capital do rock é, hoje, uma das cidades com uma das mais férteis cenas musicais do país, ao lado de Belém e Porto Alegre (São Paulo? Bem, assim como em todos os outros campos, boa parte do que é feito em São Paulo, capital (onde está concentrada a produção), é produzido por gente que é de fora). Tem quem culpe a UNB. Tem quem diga que é por causa da Escola de Música de Brasília. E há, ainda, quem desdenhe alegando que o fenômeno se deve ao fato de a cidade não ter praia.
Deixei muita coisa de fora. Priorizei artistas novos, em atividade, mas ainda pouco conhecidas fora do `quadradinho´ ou dos festivais independentes. A exceção, talvez, sejam o Gog, bastante conhecido na cena rap nacional, e o Móveis Coloniais de Acaju, que mesmo ainda não sendo mainstream, já alcançou uma certa projeção, com presença na Globo e clip na MTV. Ellen Oléria também está indo pelo mesmo caminho, tendo sido, até agora, uma das maiores sensações do programa The Voice. E, lógico, Hamilton de Holanda, um dos maiores instrumentistas brasileiros da atualidade.
Como fui puxando de memória os grupos e artistas que já tive oportunidade de ouvir (o que não significa que, pessoalmente, eu goste de tudo), alguns gêneros com os quais não estou muito familiarizado ficaram de fora, caso do reggae e do heavy metal. Ainda assim, podem estar certos de que, se procurar, haverá uma banda brasiliense do tipo que não faça feio em qualquer festival independente brasileiro. (putz! Enquanto eu me justificava, meu pão torrou...)
Outros artistas muito legais ficaram de fora simplesmente porque não tem músicas no Grooveshark. Caso, por exemplo, da sambista Renata Jambeiro (outra a se apresentar no The Voice). Da baixista jazz Paula Zimbres. No caso do rap, a coisa foi um tanto opcional, um pouco por ignorância: não me recordo de ninguém mais que tenha um discurso coeso, que se aproxime do de Gog e do que vem sendo feito de bom no restante do país. Desculpem. Vejamos se em algum momento eu reparo isso.
É isso. Espero que curtam. Se não...dane-se. Não estou ganhando nada mesmo.
Ouça também:
#003 - A Perfect Day
#002 - Life´s Better in a Boardshort
#001 - Para Shirley Temple Ouvir
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sexta-feira, outubro 19, 2012
Avenida Brasil
"Acho que a gente entrega uma novela para a História" - Vera Holtz
Eu, que nunca fui noveleiro, sou forçado a concordar. Por razões que muitos programas e veículos (inclusive internacionais) tentam explicar há meses, Avenida Brasil se tornou um fenômeno. E de nada adianta atribuir o sucesso da novela à influência global, pois como uma olhada nos meus posts mais recentes pode revelar, eu próprio sou uma das muitas pessoas altamente refratárias ao discurso global, fato que não me impede de reconhecer quando a emissora faz coisas boas, como a minissérie Som & Fúria, os poucos capítulos de Cordel Encantado a que assisti, o sitcom Tapas & Beijos e o jornalístico Globo Rural.
Acho engraçado os moderninhos que enchem a boca para falar de séries americanas ou de filmes brasileiros chatíssimos enquanto, por mero preconceito, tentam minimizar o ótimo trabalho do elenco e a arejada que o autor, João Emanuel Carneiro, deu à dramaturgia, com uma trama dinâmica e personagens muito distantes do usual maniqueísmo a que estamos acostumados na tv. (Daí porque me parece tão estranho ver o mero anúncio de mais uma inverossímil história de Glória Perez para substituir a atual novela das nove).
Lógico que uma novela será sempre uma novela. Esta, mesmo com todas as transgressões, não pode deixar de derrapar. Que crianças bonitas e felizes aquelas do lixão mais bem frequentado do planeta. Que heroína tapada, capaz de arquitetar um bem-elaborado plano de vingança, mas incapaz de fazer cópias digitais das provas que acabariam com sua rival ou de revelar logo a Tufão tudo o que sabia. Ainda assim, a história tem seu lugar entre os ícones da cultura popular.
Entre o elenco, vários atores vão carregar uma dívida de gratidão com o autor e com o diretor. Caso de Adriana Esteves, Marcello Novaes,Vera Holtz, Marcos Caruso e José de Abreu, que após muitos anos de carreira e alguns personagens marcantes, receberam em Avenida Brasil os papéis de suas vidas. Toda vez que eu ver Adriana Esteves vou lembrar de sua Carminha mandando o motorista tocar para o inferno. Outros, como Murilo Benício, Cauã Reymond, Heloisa Perissé, Eliane Giardini, Isis Valverde, Otávio Augusto com certeza ganharam, com sua eficaz versatilidade, muitos pontos não só com o público, mas com os responsáveis por selecionar o casting das novelas. Se saíram bem.
Entre as novidades quando comparada a outras novelas, Avenida Brasil apresentou também uma agradável característica: a possibilidade de atores ainda pouco conhecidas ou em busca de se firmarem desenvolverem plenamente as possibilidades de suas personagens. Caso de Thiago Martins, Bruno Gissoni, Letícia Isnard, Daniel Rocha e, principalmente, o brasiliense Juliano Cazarré - um dos que mais caíram nas graças do público, seu Adauto foi vítima de uma maquinação de uma última hora do autor que ameaça o ator de ficar conhecido para sempre como Chupetinha.
Por fim, os que tem mais motivos para estarem felizes, por terem entrado desconhecidos e terminado com os nomes na boca do povo: José Loreto, que saiu direto de Malhação para um papel de extremo destaque, a ex-modelo Débora Nascimento, que embora já tivesse se projetado em outros trabalhos, se tornou agora um rosto reconhecível em qualquer lugar e a dupla de empregadas da mansão Cláudia Missura (Janaína) e Cacau Protásio (Zezé). E a Débora Falabella, semifosco? Esta é a única de quem não sou capaz de escrever, porque mesmo sendo seu fã e achando que ela cumpriu eficientemente um papel fundamental para o sucesso da trama, fiquei com a impressão que foi a personagem que, a partir de um dado momento, foi mais mal explorada e desenvolvida. Fora o núcleo Cadinho, que, conforme conversei com vários colegas, foi o único que não "funcionou" a contento.
O sucesso inegável foi por ter colocado em destaque a classe C em ascensão? Foi porque o público já estava apto a conhecer personagens menos maniqueístas? Foi por ter apelado para os "instintos mais primitivos" da parcela do público que, conforme alguns, é mesmo amoral e quer mais é levar a melhor em tudo....alguém ainda vai dar uma resposta que se aproxime do que permitiu este fenômeno. E também porque tantos homens, sobretudo não-noveleiros, sentiram-se à vontade para comentar o capítulo de ontem.
quarta-feira, outubro 17, 2012
domingo, outubro 14, 2012
No aniversário de Gilberto Mendes, um presente para os interessados em música, cultura e na história santista
"Santos é uma cidade muito Conrad, muito Somerset Maugham"
Sem Lei Rouanet, sem patrocínio, sem inserções publicitárias, o cineasta santista Carlos Mendes decidiu usar a internet, mais especificamente o youtube, para compartilhar um de seus mais recentes trabalhos, o documentário `90 anos, 90 vezes Gilberto Mendes´, com o qual homenageia seu pai, o compositor erudito Gilberto Mendes. Um dos mais importantes autores eruditos brasileiros da segunda metade do século passado para cá, Gilberto completou, ontem (13), 90 anos de idade (leia a notícia do G1).
Como o próprio título do projeto sugere, são 90 filmetes em que Gilberto Mendes fala livremente, sem seguir um roteiro e aparentemente sem muita edição posterior, sobre o que lhe vem à mente, sobretudo sobre música (óbvio) e cinema (uma de suas maiores influências, segundo o próprio compositor reconhece). No 10º episódio, por exemplo, Gilberto explica sua recusa em se candidatar a uma cadeira na Academia Brasileira de Música, na qual só ingressou na condição de sócio-honorário, para o que não teve que pedir votos. Outro depoimento interessante está no episódio 31,quando Gilberto fala de sua (curta) militância política, o temor durante as ditaduras Vargas e militar e a hermética atuação dos músicos eruditos durante esses dois períodos.
Somados todos os episódios, a conversa ultrapassa 12 horas de gravações. Até porque, a pouca edição que preserva a espontaneidade, acaba por tornar alguns trechos repetitivos. Ainda assim, mesmo que não vá se tornar um recordista de acessos, a iniciativa resultou em um documento valiosíssimo para os que conhecem (ou querem conhecer) a importância e o prestígio de Mendes e de sua obra no exterior. Eu mesmo, que estou aqui teclando isso e que já assisti a alguns dos episódios, não sou um `entendedor´ ou mesmo apreciador do gênero, mas não sou ignorante para não perceber a beleza do gesto de Carlos e o real significado de seu gesto. Além do mais, assim como o maestro, tive o privilégio de também ter nascido em Santos, onde pude conhecer a obra de Mendes e, apesar do estranhamento, desfrutar de uma coisa ou outra.
sábado, outubro 13, 2012
Feliz Dias das Crianças, estas adoráveis e fofas criaturas que fazem girar a engrenagem do capitalismo
_ (entrevistadora) O que você prefere? Ir ao shopping ou à praia?
_ (criança) ao shopping.
_ (criança de aparentes 14 anos) Este aqui foi meu primeiro celular. Eu ganhei quando tinha sete anos. Fui o xodó da família porque eu era a única criança que tinha celular. Era a coisa que eu mais queria. Este aqui foi o quarto. Estava custando R$ 1.8 mil e conseguimos numa promoção por R$ 400.
_ (funcionária de um colégio) Estamos proibindo as crianças de irem à escola com saltos, como elas querem, porque elas não conseguem correr, brincar e se divertir nos intervalos.
A criança se tornou a alma do negócio publicitário. É esta a conclusão a que chegou a diretora Estela Renner ao filmar o documentário Criança - A Alma do Negócio (49 min), no qual especialistas demonstram como a indústria descobriu que é mais fácil convencer uma criança do que um adulto dos supostos benefícios de uma marca e, a partir daí, passou a bombardear crianças e adolescentes com propagandas que estimulam o consumo. O resultado pode ser devastador para a formação de nossos valores: em um jogo desigual e desumano, os anunciantes ficam com o lucro enquanto as crianças arcam com o prejuízo de sua infância encurtada.
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