domingo, junho 09, 2013

Antanas Sutkus - Um Olhar Livre


Dois dos meus três leitores que afortunadamente vivem em Brasília não podem deixar de visitar a exposição Um Olhar Livre, em cartaz na Caixa Cultural até o dia 30 de junho. A mostra permite ao visitante admirar mais de uma centena das milhares de fotos feitas entre 1950 e 1990 pelo lituano Antanas Sutkus (1939).

Embora vivendo e trabalhando sob o antigo regime totalitarista soviético, Sutkus conseguiu transcender os limites da estética utilitarista e da ideologia visual então predominante na antiga União Soviética, contornando inclusive a censura. (Importante lembrar que a referida ideologia visual forjou-se, em parte, a partir de obras de inquestionável valor artístico)

Impressionante é que Sutkus tenha construído uma obra que, temática e tecnicamente, dialoga com a de outros grandes fotógrafos como Cartier-Bresson e Robert Doisneau. Isso apesar das dificuldades impostas ao livre trânsito de informações de lado a lado da "cortina de ferro". 

"É necessário lembrar que todas essas referências chegaram ao conhecimento de Sutkus nos anos noventa, com a queda da União Soviética, em um período em que ele já não fotografava e que a sua personalidade artística já havia atingido a maturidade. É muito interessante, por meio de sua obra, ver que olhares similares podem nascer ao mesmo tempo em diversas partes do globo", aponta o curador da mostra, Luiz Gustavo Carvalho.

Em uma entrevista parcialmente reproduzida no catálogo da exposição, o próprio Sutkus revela que o homem, sobretudo o povo lituano, sempre foi o centro de suas fotos. "Desde o primeiro dia eu percebi que isso era o mais importante para mim. Eu não tentava obrigar ninguém, só queria expressar minha relação com o objeto que estava fotografando", diz Sutkus a respeito das fotos que, em conjunto, falam sobre a vida cotidiana, sobre o povo, de maneira justa, carinhosa e não anedótica, conforme destaca o curador da exposição. Algo de que o próprio Sutkus se orgulha.

"Infelizmente, o fotojornalismo profissional ficava sob forte influência da ideologia vigente na época. Meus colegas trabalhavam de acordo com os requisitos da propaganda stalinista. Eu nunca os segui. Eu aprendia sozinho, trabalhava de maneira muito intuitiva e, nessa época, era o único que tirava fotos informais, não tradicionais", conclui o fotógrafo. 

filmado com Nokia E72

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