sábado, setembro 30, 2006

sábado, 30 de setembro de 2006

7 METROS ABAIXO DO CHÃO
O lugar se chama Espaço Galeria. Um antigo puteiro que foi reformado e transformado em uma pequena e soturna boate escondida no má-afamado Conic. Pra ser exato, no subsolo do Conic (espaço que, por si só, merece um texto que ainda irei escrever).
A festa da vez foi denominada Cicciolina e custava R$ 10 só a entrada. O nome da famosa italiana, estrela de filmes pornôs da década de 80 e, mais tarde, eleita deputada, foi tomado emprestado para, segundo os organizadores do evento, protestar de forma bem-humorada contra as eleições deste domingo. Não foram só as razões do protesto que não ficaram claras. Se alguém se manifestou durante a noite, o fez às escondidas. E ninguém pareceu sentir falta disso. A bem da verdade, a molecada nem deu atenção às imagens exibidas no telão; trechos de discursos, de entrevistas e de campanhas políticas.
Uma dj que prometia tocar música brasileira e ritmos cubanos atendia pela sugestiva alcunha artística de Sarah Vah! (assim mesmo, com exclamação). Além dela, outros três djs dividiam as carrapetas. Todos nominalmente inspirados. Somdubom seleciona funk. Mas funk das antigas, saca aquela coisa de Parliament e Funkadelic. Nada a ver com bondes e tigrões. Já os djs DX e Cookie Valentino! (também exclamativo) apostam ambos na música eletrônica.
Apesar de haver pouca gente - algo positivo, já que a casa é pequena e não comportaria um terço dos habitués da festa que acontece na garagem da Faculdade Dulcina, também no Conic - deu para se divertir. Principalmente para quem, como eu, vindo da festa de despedida de um amigo, já havia entornado uma garrafa e meia de vinho de boa qualidade.
A pista sobrou para quem quis dançar. Para quem preferiu "segurar a criança" (e havia várias delas!), sofás na laterais resgatam os tempos de inferninho da boate. Além do palco onde, lá pelas três da manhã, uma dançarina desnudou seu constrangimento. No jornal haviam anunciado que uma "dançarina provocante iria bailar" e garantir o clima de sensualidade da festa. Não sei se foi a falta dos meus óculos ou se foi o vinho, mas me pareceu que a intenção ainda era debochar de algo. Talvez de mim. Sendo assim, resolvi enfiar o pé na jaca e chamar a atenção de todos para minha dança epilética. Realmente, o pogo não combina em nada com ambientes alternativos como este. Mas a garotada blazé, mistura de lésbicas, gays, roqueiros, descolados, moderninhos e outros, não deu a mínima.
Na próxima sexta (06) rola outra festa neste mesmo local. Irá se chamar Sbornia. Não sei se fará juz ao nome. Mas para preencher a ausência da dj Sarah Vah!, os organizadores escalaram a dj Megera. É, realmente. Estes djs sabem escolher seus nomes artísticos.

sexta-feira, setembro 29, 2006

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

A Ponte JK vista do avião

DIVERSÃO E ARTE

Hoje, Lenine bate papo e toca de graça no pocket show da FNAC. Infelizmente, o local comporta apenas 50 pessoas. No Arena Futebol Clube, o Cordel do Fogo Encantado lança seu novo álbum, Transfiguração (R$30). Seguindo a programação musical, tem ainda Jorge Mautner de graça em Taguatinga, Jah Live no Minas Brasília Tênis (R$15), Alzira Espíndola na Funarte (R$5) e o concerto sinfônico gratuito da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional.

Três festas: Cerrado Rock in Concert, Fashion Club e minhas sempre elegidas festas no Conic - a da vez se chama Cicciolina (R$10), uma provocação às eleições deste domingo (Cicciolina, para quem não se lembra, é o nome da estrela pornô Illona Staler, que, em 1980, foi eleita para o parlamento italiano). Se não bastasse acontecer no Conic, o local mais diverso e democrático da capital, tem entre suas atrações uma dj que atende pelo nome artístico de Sarah Vah! rs,rs,rs,rs,rs.

Tem teatro também. Segue a Cena Contemporânea - Festival Internacional de Teatro de Brasília, que ocupa, além de duas salas do Teatro Nacional, a Funarte, o teatro do Centro Cultural Banco do Brasil, o da Caixa e o Sesc Garagem da 913 Sul.

Some-se a isso os 47 títulos atualmente em cartaz nos diversos cinemas de Brasília e mais a penca de exposições e fica fácil de concluir que a vida cultural brasiliense não é tão incipiente quanto pode parecer a quem não procura por boas opções.

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Ele toca violão, canta, discorre sobre passagens bíblicas, discute a natureza da espiritualidade e manteve centenas de internautas na expectativa se conseguiria vencer à distância entre Cachoeira Paulista, no interior de São Paulo, e Brasília, para onde viajou disposto a processar o criador de uma comunidade com seu nome no orkut. Conheça Frei Tim, uma quase celebridade virtual que tem seus passos monitorados pela rede mundial.


ORKUT ON THE ROAD
Frei Tim é quase uma celebridade. Mas não é frei e poucos sabem o que exatamente ele é. Apesar disso, há quem diga que não existe cidadão que não o conheça no município paulista de Cachoeira Paulista. Segundo a estudante Gisele Laurindo, na cidade, Tim é mais famoso do que quentão em festa junina. E, no mundo virtual, mesmo que os números do orkut sejam mais modestos, não são menos expressivos. Já são 310 os fãs cadastrados na comunidade criada em sua homenagem. Pelos tópicos postados, ele com certeza deve ter deixado muitos outros pelo caminho que percorreu nos últimos sete meses.
Após tomar conhecimento de que sua foto estava sendo exibida na internet, Tim decidiu pôr os pés na estrada e seguir em direção a Brasília, onde pretendia processar o responsável por expôr sua imagem e seus causos na rede mundial. A partir daí, a comunidade virtual ganhou outra dimensão. Internautas de diferentes cidades e estados começaram a acompanhar e relatar a peregrinação de Frei Tim. Estava comprovada a justificativa do próprio Adriano para apagar as mensagens pessoais de seu perfil, "neste Admirável Mundo Novo você está sempre sendo observado".
Em março, após deixar Cachoeira Paulista, cidade onde vivia, Tim foi acolhido por moradores do município de Miguelópolis, ainda no interior de São Paulo. Em seguida, Priscilla o conheceu em Varginha, sul de Minas Gerais. Dias depois, chegou a Uberaba (MG), onde bateu um papo de mais de meia hora com Michel.
"Durante nossa conversa ele me contou que é milionário, tocou violão e trompete imaginários, falou algo em pelo menos nove idiomas, me disse que havia tomado seis tiros e, lógico, não deixou de se queixar por estarem usando sua figura para arrecadar dinheiro na Internet. Ele me disse que já teriam conseguido R$ 15 milhões".
Ainda em Uberaba, Frei Tim, apelido com o qual está se tornando famoso o cidadão Luiz Fernando da Silva, foi atendido na Secretaria de Defesa da Pessoa e do Cidadão. Dizendo ser um "ícone de sua cidade natal", ele se queixava por estarem indevidamente usando sua foto em um site. E entregou ao promotor um disquete contendo cópia da comunidade Frei Tim: Eu o Conheço. A comunidade foi criada em abril de 2005 pelo jovem Adriano Santos Godoy, com a intenção de homenagear "o mais célebre andarilho desocupado de Cachoeira Paulista". Segundo o próprio Adriano, "Ele não podia me ver na rua. Perdi a conta das vezes em que ele me atormentou".
No dia 7 de abril, ele estava em Uberlândia (MG), onde deixou Fábia tonta com o teor alcólico de sua conversa. No dia 11, foi visto por Vivaldo em Araguari (MG), pedindo dinheiro e segurando uma sacola plástica com disquetes e uma folha impressa do profile da comunidade do orkut.
Os testemunhos foram se sucedendo à medida que Tim avançava país adentro. Catalão (GO), Campo Alegre de Goiás, Cristalina. Até que, no dia 30 de abril, a fisioterapeuta Rute Rocha deu a notícia. Frei Tim havia chegado à capital. E continuava furioso com Adriano, dizendo que iria encontrá-lo a qualquer custo. "Ué, mas ele estava aqui, na mesma cidade que eu, e foi me procurar em Brasília?", questionou o agora receoso autor da homenagem que provocou esta verdadeira saga.
Desde então, Tim tem perambulado por Brasília, influenciando pessoas e fazendo amigos. "Cheguei em casa às 23h50, guardei minha moto e quando olhei para o lado, o vi. Sujo, com bafo de pinga e me pedindo um pão. Levei um susto e tentei me afastar. Mas quando dei por mim, já estava íntimo desta figura" conta o brasiliense Gelson Gomes. "No começo eu não entendia nada do que ele dizia. Mas descobri que é um ser humano especial, inteligente e bacana. Ele inclusive me ajudou psicologicamente. Sei que ele só foi embora após umas quatro horas de conversa".
Moradora de Cachoeira Paulista, a estudante Tais Mattos diz que ninguém sabe ao certo a história de Luiz Fernando antes de se tornar Frei Tim. "Uma vez perguntei de onde ele era e ele respondeu que era de Vinde e Vede. Foi engraçado". De acordo com a versão mais crível, seu apelido vem do hábito de cumprimentar as pessoas tocando-as com o dedo e dizendo alto, "tim".
Segundo Adriano, por conta de sua simpatia e inteligência, muitas pessoas já tentaram o ajudar. "Você não tem noção da quantidade de gente que já tentou ajudá-lo. Ele não quer ajuda", respondeu o paulista ao brasiliense Liandro Baião, que demonstrou disposição para auxiliar Tim após ter se sensibilizado com seu estado. "Ele apareceu na casa do meu primo pedindo luvas e uma touca para se proteger do frio. Estava alcoolizado e tinha os pés rachados. Carregava quatro ou cinco folhas com todos os recados deixados na comunidade".
Apesar de todo o folclore em torno da figura de Tim, muitos de seus 'fãs' reconhecem sua inteligência. Adriano Sattim conta ter aprendido a respeitá-lo após um bate-papo transcendental. "Conversamos sobre espiritualidade. Ele conhece e respeita muitas religiões e possui um pensamento bem filosófico. Vale a pena explorar suas idéias. Sou fã do Tim".
Porém, como toda celebridade, Tim é uma personalidade controversa. "Encontrei com ele aqui em Brasília uma vez e ele me pediu ajuda, dizendo que precisava entrar na igreja porque o demônio estava falando com ele. Não tinham deixado ele entrar porque ele estava falando outras línguas e rogando pragas. Foi realmente assustador", conta Letícia Dutra.
Os últimos depoimentos dão conta de que Tim está bem, continua em Brasília e que foi aceito na igreja. E que, em breve, sua foto irá se tornar ainda mais conhecida. Mas agora, com sua permissão.
"Meu ministério de música toca todo sábado na Paróquia Nossa Senhora das Dores, no Cruzeiro Velho. Como o Tim gosta muito da gente e nós gostamos dele, fizemos uma votação e decidimos que ele vai virar capa do nosso cd. Claro, isso se ele nos conceder os direitos autorais. Outro dia, depois da missa, ele pegou o violão depois da missa e cantou "Tu és minha vida, outro Deus não há".
Ao que tudo indica, Frei Tim pode vir a se tornar famoso. Entretanto, se por acaso você encontrá-lo pelas ruas de Brasília ou em qualquer rincão do país, pense duas vezes antes de tomar qualquer liberdade. Adriano, que diz ser um dos poucos que já o encontraram sóbrio, garante "Quando não está bêbado ele fica sério e não gosta de brincadeiras".

domingo, 24 de setembro de 2006

Angeli, da saudosa Chiclete com Banana

Quando a bela perde e a fera ganha
Ao que parece, no meio publicitário e artístico, só o amor destrói.
Eis a conclusão do episódio envolvendo a modelo e apresentadora Daniella Cicarelli e seu namorado Renato Malzoni, filmados transando em uma praia espanhola repleta de banhistas.
Na semana em que veio à tona mais uma trapalhada petista - a negociata para compra, por R$ 1,7 milhão, de um suposto dossiê que envolveria o candidato ao governo de São Paulo e ex-ministro da Saúde José Serra à máfia dos sanguessugas, não se falou de outra coisa. Logo após o vídeo com as nada discretas cenas protagonizadas pelo casal ter sido exposto ao voyeurismo de milhares de internautas mundo afora, despertando a inveja, o despeito ou as críticas moralistas de potenciais consumidores, Cicarelli perdeu os contratos publicitários que tinha com a montadora General Motors e com a empresa de telefonia celular TIM. Embora ambas as empresas neguem que a 'paella à Cica' seja o motivo para a não renovação dos contratos, o público interpretou desta forma. Perdeu temporariamente a vergonha, perdeu dinheiro.
O irônico é que enquanto a bela é financeiramente punida por realizar a fantasia sexual de muitos - ou seja, transar na praia; e não necessariamente na de Cádiz, Espanha -, duas feras (em ambos os sentidos) enchem os bolsos graças a um episódio violento que manchou a final da última Copa do Mundo.
O francês Zinedine Zidane segue como estrela comercial de seus patrocinadores, entre eles, a Adidas. O que provocou uma resposta da marca concorrente, a Nike, patrocinadora do italiano Materazzi, agredido pelo primeiro com uma cabeçada. Oportunamente, o desentendimento no gramado ilustrou uma disputa comercial e encheu o bolso de ambos os brigões, independentemente de quem era mocinho e de quem era bandido. Nos nada dialéticos dias de hoje, pouco importa quem tem razão, desde que as posições possam ser embrulhadas e comercializadas.
Resta saber se falta ousadia aos nossos publicitários, incapazes de vender o saudável orgasmo do casal Cicarelli-Malzoni, ou se o consumidor que adquire um tênis associado à imagem de um jogador violento repudia a vinculação da imagem do seu celular com uma transa.

quinta-feira, setembro 28, 2006

terça-feira, 19 de setembro de 2006

A NÁUSEA
De onde surgem um milhão e setecentos mil reais para que os homens de preto comprem dossiês de origem duvidosa?
"Se lembra da primeira vez?
Se lembra da pressa de crescer?
Se lembra das promessas que você fez?
Se lembra das chances que deixou passar?"
Quanto custa dar um tiro no próprio pé? Quanto dói? E para o país? E para a democracia? Quanto custa toda esta merda? Sanguessugas, mensalão, grampo do TSE, compra de votos, dossiês, privatizações suspeitas...E tudo por fazer. E a classe-média comprando Caras; se informando pela Veja!; assistindo ao Jô; indo à missa.
"Se lembra dizendo: "agora eu sei"?
Se lembra errando outra vez?
Se lembra tendo que dizer adeus?
Se lembra momentos que não vão voltar?
Já nem sei se estou contigo
Já nem sei para onde a gente vai
Já nem sei o que faz sentido
Você ainda lembra como era?"
Para criticar a suposta declaração de Lula sobre seu desejo de fechar o Congresso para, assim, poder governar a seu modo, Heloísa Helena afirmou que ele, o Congresso do qual ela própria faz parte, é "corrupto, omisso e cínico como o presidente que o critica".
"Se lembra dos amigos que perdeu?
Se lembra dos sonhos que vendeu?
Se lembra quando era só você e eu?
São momentos que não vão voltar
Já nem sei se estou contigo
Já nem sei para onde a gente vai
Já nem seu o que faz sentido
Você ainda lembra como era?
Se lembra?
Como era?
Se lembra?
Como era?
Se lembra?
Como era?
Se lembra?" *
O senador Cristóvam Buarque, esquecendo-se de suas responsabilidades, afirma à imprensa que embora tenha "provas documentais" de que o presidente estaria usando à máquina administrativa para fazer campanha, não irá denunciá-lo.
"Não é nossa culpa
Nascemos já com uma bênção
Mas isso não é desculpa
Pela má distribuição
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração"
Em Belém, Lula junta em um mesmo palanque dois dos adversários que disputam o governo do estado, o pemedebista José Priante e a petista Ana Júlia Carepa.
"E cadê a esmola que nós damos
Sem perceber que aquele abençoado
Poderia ter sido você
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração
Até quando esperar" **
(* Se lembra e ** Até Quando Esperar são canções da banda brasiliense Plebe Rude)

segunda-feira, 18 de setembro de 2006


)) <> ((
FOREVER

Não entendeu o título acima? Então é porque você ainda não assistiu a uma das melhores seqüências cinematográficas já protagonizadas por crianças. Quer dizer, na modesta opinião deste semi-fosco que escreve, as atuações de Brandon Ratcliff, de apenas seis anos, e de Miles Thompson, são decisivas para, além de desmistificar o olhar ingênuo e hipócrita com que o cinema - e as telenovelas brasileiras - normalmente trata as crianças, emprestar a graça e a complexidade que caracterizam o filme de estréia de Miranda July, o excelente Eu, Você, Todos Nós (Me and You and Everyone We Know, EUA-Reino Unido, 2005, 91min. - www.meandyoumovie.com), ainda em cartaz.
Qualquer sinopse deixará a desejar, posto que é difícil resumir a história de Eu, Você... Não apenas porque, ao estilo dos filmes de Robert Altmann, o foco narrativo recai simultaneamente sobre diversos personagens, mas também porque a diretora, sob o pretexto de discutir como pessoas solitárias têm de se esforçar para superar o estado de isolamento contemporâneo, traz à baila diversas outras questões e problemas do relacionamento humano.
De forma superficial, e recorrendo ao site oficial do filme: Enquanto ganha a vida transportando idosos solitários de um lado a outro e procura uma galeria disposta a exibir as instalações artísticas que produz na solidão de seu apartamento, Christine (claro alter-ego de Miranda) conhece Richard, vendedor de uma loja de sapatos que acaba de se separar de sua esposa e luta para manter algum vínculo com seus dois filhos. Abalado pela separação e assustado com a espontaneidade de Christine, Richard impõe limites à aproximação, evitando se envolver. Enquanto isso, seu companheiro de trabalho se envolve com duas adolescentes que estudam na mesma escola dos filhos de Richard. E um dos idosos de que Christine cuida se lastima por ter demorado tanto a encontrar o grande amor.
Sem estragar possíveis surpresas, dizer mais sobre a história é inviável. O filme não é, óbvio, um blockbuster. Tem aquele jeitão caro aos alternativos, conforme seria de se esperar de alguém com o currículo de Miranda, uma artista multimídia.
Artista plástica e videomaker, Miranda escreveu o roteiro, dirigiu e atuou como protagonista deste filme que já ganhou prêmios em importantes festivais como os de Sundance, Cannes, Los Angeles e San Francisco. Além disso, Miranda está prestes a lançar seu primeiro livro de contos e mantém um blog pessoal (http://meandyou.typepad.com).
A estréia de Miranda nas telonas volta a chamar a atenção para as mulheres por detrás das câmeras. A exemplo de Sofia Coppola (As Virgens Suicidas e Encontros e Desencontros) e da argentina Lucrecia Martel (O Pântano, A Menina Santa), Miranda desponta com a promessa de fazer um cinema autoral e ousado.

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

foto: Antônio Cruz (Agência Brasil)
CONSCIÊNCIA NÃO É ESCOLHER O 'MENOS PIOR'

Desde 1989 eu tenho sido Lula.

Mesmo após vê-lo ser derrotado - primeiro por Collor, depois, por FHC - contribuí para que ele se elegesse em 2002. Justamente quando a Carta ao Povo Brasileiro sinalizava que, talvez, já não houvesse mais expectativas de que Lula e o PT fossem promover mudanças estruturais radicais. Tudo indicava que, novamente, o país buscaria o caminho da conciliação entre os interesses do lobo e da ovelha.

Quatro anos se passaram e, no próximo dia 1º de outubro, terei de ir a um cartório a fim de justificar meu não comparecimento à seção eleitoral onde voto. É que quase dois anos após me mudar de Santos, ainda não transferi meu título eleitoral. Daí estar impedido de exercer o direito de, conscientemente, ANULAR MEU VOTO.

Se fosse votar, seria esta minha opção. Não porque tenha me desiludido com a administração petista ou porque ache que Lula é ladrão. Não porque o Alckmin é um sujeito inexpressivo que, até outro dia, vangloriava-se de ter chegado ao Palácio dos Bandeirantes no vácuo de Mário Covas, santista que, quando governador, vetou a construção de uma universidade pública na Baixada. Nem tampouco porque o Cristovam tenha se tornado uma caricatura ou porque haja um enorme fosso entre o programa de governo de Heloisa Helena e o conteúdo programático de seu partido, o radical-chic PSOL.

Votaria nulo não só porque desconfio da insistência com que a imprensa e alguns formadores de opinião tentam nos conscientizar da importância do voto, mas principalmente porque, - torno a insistir - conscientemente, não tenho segurança para escolher o melhor candidato. Na atual conjuntura, com instituições combalidas e uma política mesquinha, palaciana, diria que a tarefa é escolher o menos pior. Será isto suficiente? Será realmente esta a arma do povo? Nos dão algumas opções que além de não nos satisfazer, não contemplam a complexidade e a magnitude de nossos problemas e nos convencem de que se não escolhermos a menos pior somos nós os responsáveis pelo desastre social brasileiro. Será isto o exercício democrático possível hoje?

Quanto mais ouço falar na inconsistência do movimento pelo voto nulo, quanto mais me vêem com o velho chavão do analfabeto político, mais me convenço de que talvez seja este o único caminho possível. Por isso digo que votaria nulo por convicção. Convicção de que é necessário aprofundar a crise, roer o osso, para quem sabe assim superarmos nossa apatia. Cada vez mais me convenço de que é o atual sistema que tem de ser repensado. Quem disse que a democracia representativa seria o modelo final de representação política? Esquecem-se os que põem o dedo na cara de quem vota nulo que, ao longo da história, as diversas sociedades se organizaram de muitas formas diferentes.

Recuso-me a trabalhar e ver boa parte dos meus ganhos ser consumidos na forma de impostos que nunca revertem em meu benefício e ainda votar em alguém só porque o outro candidato seria pior.


Madrinha Naninha e o Pós-Sentimento


Eu corria os olhos distraidamente pelas páginas do livro Casais Inteligentes Enriquecem Juntos enquanto a madrinha Naninha cozinhava seu famoso puxa-puxa. Lembrando que ela é daquelas que proclamam seu casto orgulho por ter se casado virgem com o único homem que conheceu em vida, quis saber sua opinião sobre a tese do autor best-seller.

_ Ah, meu filho. Um casal tem de pensar feito uma só cabeça, tudo muito bem ajambradinho. E tem de fazer planos juntos, mas cada coisa na sua hora. O mais importante é encontrar um companheiro de boa índole, honesto. Depois, quando já tiver um passado e nenhum presente além de se deitar a noite e planejar quantos quartos vai ter a casa que os dois gostariam de construir, é natural o casal comece a fazer planos.

Fechei o livro e anotei mentalmente as palavras da madrinha. "Mas madrinha, por que, então, tantos casais que parecem se dar tão bem acabam se separando após algum tempo, mesmo tendo enriquecido?"

_ Ah, isso eu não sei, filho. Talvez porque falte Deus na vida do casal. Não sei. Mas uma coisa é fato. As pessoas hoje não tem mais `pressentimento´. Tem pós-sentimento. Quer dizer, a mulher tá saindo com outro e o sujeito só vai se dar conta na semana seguinte. Leva quinze dias para se aperceber. É a tal da pós-modernidade de que falam. A mulher diz que está indo embora e ele pensa que ela vai à academia, às compras...

Do seu jeito, Madrinha Naninha fala cada coisa sábia.

domingo, 10 de setembro de 2006

SAMBA DE BOCHA
Quem não o conhece, jamais se arriscaria a dizer que um clube de bocha em que é "expressamente proibido dançar juntos e permanecer sem camisa ou em trajes de banho" abrigaria uma roda de samba concorrida. "Coisa de paulista", diriam. Afinal, o salão pequeno e abafado de uma agremiação tradicional de um bairro popular não parece o local mais apropriado para juntar gente à procura de ouvir música de qualidade, se divertir e celebrar a alegria de viver. Além do mais, por que músicos de qualidade tocariam de graça para pessoas de distintas classes sociais, de diferentes faixas etárias e que, amontoadas ao redor do frágil cordão que os separa dos músicos, se mostram à vontade e extremamente felizes? Pessoas que retribuem com sorrisos espontâneos em seus rostos, dançando e, sobretudo, prestando atenção ao cavaco, aos pandeiros, aos surdos e demais instrumentos, reverenciando a boa música executada pelas mãos experientes que, há quase duas décadas, todos os sábados se reúnem no Clube Ouro Verde, sob a égide de nosso lindo e maltratado pendão da esperança.
Antes, bloqueava-se o trânsito de veículos. Depois, para não incomodar a vizinhança, optou-se por espremer todo o público no número 41 da Rua Nove de Julho, no Marapé. Das 20h. até às 24h, horário em que pontualmente os instrumentos se silenciam, é uma sucessão de bons sambas e choros. Nada de pagode mauricinho, que aqui não é lugar de melação. A paquera, se rolar, tem de ser capaz de se desenvolver ao ritmo dos malandros de outrora. E dá-lhe Cartola, Sinhô, João Nogueira, Roberto Ribeiro, Moreira da Silva, Chico Buarque...
Talvez não role de dançar com a gatinha universitária que veio acompanhada por sua turma descolada. Talvez não haja pegação, muito menos social. Ninguém aqui vem para ser visto. Vem para ver e ouvir. Mas, com um pouco de simpatia e ginga, pode acontecer de você ser convidado para dividir uma cerveja ou para trocar uma idéia com um dos muitos personagens que, religiosamente, todos os sábados dão o ar da graça no Ouro Verde, local demasiadamente humano. E o melhor: não terá gastado nada além do que tiver consumido. Nem para entrar, nem para ouvir os músicos que tocam quase que por diletantismo. Pela impressão de satisfação que trazem em seus rostos, isso os mantém vivos.
Não que eles sejam os únicos a se divertir, mas se envelhecer significa saber curtir a vida como os senhores e senhoras que sacodem as cadeiras no Ouro Verde, como o Nelson e demais músicos que comandam a roda, bom, então eu reivindico o direito de envelhecer bem e me ver livre das boates, músicas, roupas e pessoas "da moda".

sábado, 9 de setembro de 2006

Santos
Surfistas devem ser os únicos a ficarem felizes quando o litoral é atingido por uma ressaca como a desta semana. Em Santos, a maré subiu, a água do mar avançou sobre a avenida litorânea, os canais transbordaram, as galerias pluviais não deram conta da vazão, os jornalistas molharam as barras das calças para registrar o fenômeno e os surfistas, bom, os surfistas se ocuparam de se divertir a valer.
De Brasília, pela internet, acompanhei diariamente o gráfico das ondas e as fotos enquanto alguns privilegiados faziam à cabeça em ondas de até dois metros. Até mesmo em frente ao meu prédio, no canal 4, havia ondas. Mas, infelizmente, nem mesmo ocorrendo um ciclone extra-tropical nas proximidades da costa a baía de Santos segura ondulação. Quando chegamos, eu e minha namorada, na quinta-feira, já não havia mais nada. Flat total.


Pitangueiras - Guarujá


Vencido o prazo de validade de cada swell, resta ou ir para o Guarujá, ou se conformar com o meio metrinho gordo do Itararé. Optamos pelo primeiro e, de bicicleta, fomos para a praia do Tombo. Quarenta minutos pedalando.

Mar mexido, água fria, corrente mais forte que o habitual... Em pouco mais de meia-hora no mar, peguei apenas cinco ondas. E nada de excepcional. A isso se limitou meu surf durante esta viagem.

sexta-feira, 8 de setembro de 2006


CONTROVÉRSIAS DE UM COTIDIANO
De volta a Santos. Há um mês eu chegava à Costa Verde (litoral norte de SP e parte do litoral sul-fluminense), vindo da Costa Rica. Hoje, ao chegar a cidade onde nasci e vivi toda minha vida, Santos, me surpreendo ao constatar que, numa estratégia de marketing visando "reposicionar a marca", esta parte do litoral paulista passará a ser estrategicamente chamada como Costa da Mata Atlântica. Coisa de publicitário, com o apoio do principal jornal local.
Porém, longe destas baboseiras, a boa surpresa neste dia da Independência foi assistir, na Oficina Regional Cultural Pagú - Cadeia Velha, ao espetáculo teatral As Controvérsias de um Cotidiano, encenado pela Cia. Teatral Cortição.
A companhia é formada por jovens 'encortiçados', a maioria deles integrantes ativos da Associação Cortiços do Centro (ACC), cujo processo de mobilização popular injetou auto-estima e ânimo novo em parte da comunidade local. A exemplo do que aconteceu com os garotos e garotas que, mirando o exemplo da atual diretoria, sobretudo de sua presidente, a cabeleireira Samara Margareth Conceição Faustino, organizaram o grupo de jovens a que chamam de Djow-Djows. Artisticamente, a participação de alguns deles no filme Querô (que deve ser lançado até o fim deste ano) foi o estímulo que faltava para que assumissem a vontade de atuar e de levar aos palcos uma reflexão sobre as dificuldades, os anseios e os sonhos dos menos favorecidos.
Com as dificuldades de quem tem de ajudar na subsistência familiar somadas às de outros grupos que dão os primeiros passos nas Artes - falta de espaço para ensaiar, necessidade de superar as carências técnicas com criatividade, etc. - ensaiaram por apenas quatro meses antes de se aventurarem a apresentar ao público os primeiros resultados de seu trabalho.
De forma leve e irônica, mas sem abdicar da crítica social, a peça As Controvérsias de Um Cotidiano trata das históricas mazelas sociais que nos condenam ao atraso e ao sub-desenvolvimento, procurando trazer à baila o ponto-de-vista de quem mais conhece os efeitos desses problemas. Com personagens que vão de prostitutas e traficantes até beatas e policiais corruptos, a peça diverte e, em seus melhores momentos, faz refletir.
Estéticamente, não é o tipo de proposta teatral de que gosto. Sobretudo, me pareceu que falta ao grupo aprimorar o texto, discutir melhor e mais profundamente qual é exatamente a mensagem que querem transmitir e buscar um equilíbrio entre a diversão e a reflexão.
Conheço bem parte do grupo e não seria difícil para mim aconselhá-los a ler e estudar mais, a discutirem à exaustão o que querem levar aos palcos e a buscarem referências e conhecer modelos artísticos que contribuam para lapidar o talento natural que demonstram. Talento este que, apesar das deficiências técnicas, cativa o público. Porque o mais importante que pude constatar foi que a platéia, principalmente os mais jovens, pareceu se divertir bastante. E que o próprio grupo transpira um prazer sincero de estar no palco.
Da mesma forma como presenciei, há doze anos, amigos descubrindo a magia do teatro - amigos que hoje vivem desta arte - vi o encantamento no olhar destes jovens. Torço para que eles realmente se comprometam com o fazer artístico. Mas, sobretudo, que mantenham o compromisso com sua comunidade. E que, da mesma forma como o também santista Plínio Marcos, cuja dramaturgia deu voz aos desvalidos que viviam de pequenos biscates neste cenário portuário que os Djow-djows conhecem bem, possam contribuir para dar voz a outros 'encortiçados'. A responsabilidade é grande.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Nomes Anacrônicos


Enquanto a madrinha Naninha se ocupava da cozinha...
Muito se falou em Fonseca, Braz, Pessoa, Bernardes, Vargas, Dutra, JK, JQ, JG, Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel, Figueiredo, Tancredo, Sarney, em ambos os Fernandinhos, em Itamar e em outros cujos nomes o tempo encarregou de apagar do seletivo caderno goiabada da dinda.
Foram tempos conturbados durante os quais a Tia Mariquinha ficou viúva, doou todos os seus bens e passou a morar com os filhos. E Noeme, após se casar com Ocozias, deu à luz Edilva, Edjanira, Edila, Edirce, Esmênia e Edsonina.
Longe dali, Hitler se casou com Stalin e gerou Franco, Salazar, Peron, Getulio Vargas, Mussolini e uns outros tantos ainda em processo de reconhecimento.
O tempo passou na janela e Maurício, que sempre achou seu nome extremamente comum, decidiu que seu filho se chamaria Hermenegildo. Gildo nasceu à mesma época que Otogilson, Otovilmo e Otomilton. Que, além de serem irmãos, são primos dos também irmãos Edson, Edla, Edvane e Edlene. Ingborg não. Embora só brincasse com eles e até se parecesse um bocado, Ingborg é irmão dos gêmeos Ricobert e Rigobert. Com quem não se parece nem um pouco.
Mas Pinochet, Videla, Stroessner, Castello Branco e Fidel também não se pareciam. Pelo menos, não fisicamente.
Orozimbo Neto afina motores automotivos, vive em Santos, onde enche a cara de cachaça e não tem absolutamente nada que ver com a história pessoal da madrinha Naninha. Mas entrou na dança porque Bimba, que também se chama Orozimbo, afina pianos e tem parentesco com os supra-citados. Desconfio que ambos jamais saberão da existência um do outro.
Os amigos só chamam Formaggio pelo carinhoso apelido de...queijo.
Ainda hoje se fala muito de Vargas, Dutra, JK, JQ, JG, Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel, Figueiredo, Tancredo, Sarney, de ambos os Fernandinhos, de Itamar, de Pinochet, Videla, Stroessner e de Fidel. Mas as pessoas os chamam por nomes nem um pouco carinhosos.
Quando fundou a Fazenda Bom Jardim dos Cristais - onde fica a cozinha em que, ainda hoje, em tempos pós-modernos, a madrinha Naninha segue se ocupando de seus doces e bolos - Zezeca não imaginava que iria dar início a esta pitoresca saga familiar em busca do nome mais esdrúxulo.
Tampouco Cabral.

segunda-feira, 4 de setembro de 2006


Algum tempo após ter me mudado para o Distrito Federal, ouvi de uma amiga a frase reveladora sobre a essência desta cidade: Brasília é uma ilha cercada de Goiás por todos os lados. Passado mais algum tempo, me arrisco a dizer que o 'quadradinho' é uma ilha cercada não só de Goiás, mas de Brasil. Tudo bem, não há nada de original nesta minha afirmação. Mas o que fazer se esta parece ser a primeira impressão de todos os novos-candangos que chegam a Brasília?
No centro desta que muitos chamam de 'Ilha da Fantasia' fica o Plano Piloto - incluo aqui o Lago Norte e o Lago Sul - e seus quatrocentos e tantos mil habitantes. População equivalente a uma cidade de médio porte e que desfruta de indicadores sociais belgas. Na sua maioria, são funcionários públicos, militares, profissionais liberais e estudantes vindos de outros estados e que, embora relutantes em fixar raízes, terminam por se embrenhar nas engrenagens da burocracia política-administrativa, vivendo da ilusão de que aqui se decide o futuro da nação. Esquecem-se de que, da mesma forma que eles próprios, os 'representantes do povo' que eventualmente tomam decisões e que, periódicamente, promovem as falcatruas que envergonham os que aqui vivem e trabalham, vieram de outras bandas, de onde efetivamente provêm às pressões que os movem.
Vez por outra, o brasiliense se vê às voltas com o incômodo de uma manifestação de agricultores, um protesto de sem-terras, um 'tratoraço' ou se espanta com a invasão da Câmara dos Deputados. Mas os responsáveis por estas ações, quando não são os estudantes brasilienses descontentes com os altos preços das passagens de ônibus, sempre vêm de outros lugares.
Óbvio que, a exemplo do resto do país, também no Plano se verificam exemplos de nossa desigualdade social. Mas nada que se assemelhe ao resto do país.
Por meio do Fundo Constitucional (aprovado em 2002 (FHC) e implantado no início de 2003 (Lula), o governo federal repassou, só em 2006, mais de R$ 5 bilhões para os cofres do Governo do Distrito Federal. O montante, uma contribuição substancial para garantir a Brasília a distinção de possuir o maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) brasileiro, é aplicado em investimentos de infra-estrutura e no pagamento dos servidores distritais da Saúde e Educação. Para efeito de comparação, o próximo governador do Mato Grosso irá administrar, em 2007, um orçamento de R$ 5,143 bilhões.
Entretanto, Brasília cresceu além do que previam Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Além do conhecido 'aviãzinho', ou seja, o Plano Piloto, onde ficam os cartões-postais pelos quais a capital é conhecida (Catedral, Congresso, etc), o DF conta com 17 Regiões Administrativas. São elas Ceilândia, Taguatinga, Núcleo Bandeirante, Samambaia, Gama, Recanto das Emas, Sobradinho, Planaltina, Brazlândia, Paranoá, São Sebastião, Candangolândia, Núcleo Bandeirante, Cruzeiro, Guará, Santa Maria e Riacho Fundo.
Embora haja pouco paralelo com a realidade das periferias dos grandes centros urbanos, é aqui, nas cidades-satélites, que se verificam as conseqüências das desigualdades sociais. Falta de policiamento, escolas em mau estado, falta de creches, transporte precário, etc, etc, etc. Além disso, em todos estes lugares, um problema nacional amplificado pelo populismo e pela falta de uma política fundiária. Um em cada quatro habitantes do Distrito Federal vive em condomínios ou parcelamentos urbanos irregulares. Ainda que, de um total de 545.651 pessoas, 69% sejam de baixa renda, a maioria das construções são confortáveis, típicas casas de classe média alta.

terça-feira, 29 de agosto de 2006

Trabalhadores fecham o Eixão para protestar por melhorias salariais

De volta ao clima seco de Brasília. De volta à luta trabalhista e sindical. Ao acompanhamento diário das notícias sobre escândalos e corrupção. À confrontação com o GDF. Mas também de volta à paz ("que eu não pretendo conservar para tentar ser feliz"), à companhia da Lídia, à diversidade do CONIC, a minha nova casa (meu lar provisório), ao convívio dos amigos novos-candangos e brasilienses.

Troca-letras, lambe-lambe, aspone, surfista semi-fosco, skatista aposentado, caiçara sofrendo de banzo em meio ao cerrado, cá estou eu, agora um pouco mais vivo.

segunda-feira, 28 de agosto de 2006

Da Costa Rica à Costa Verde

Antes que minhas férias chegassem ao fim e eu voltasse a Brasília, fiz uma escala na cidade histórica de Paraty, no litoral sul-fluminense, onde, entre os dias 9 e 13 de agosto, aconteceu a quarta edição da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP - www.flip.org.br ), um dos principais eventos mundiais do gênero.
O bom tempo foi uma razão a mais para que a cidade ficasse lotada de gente disposta a ver e ouvir escritores e intelectuais do porte de, entre outros, Adélia Prado, Cristhopher Hitchens, Edmund White, Ferreira Gullar, Ignácio de Loyola Brandão, Lourenço Mutarelli, Toni Morrison e Wilson Bueno. Em meio a muito fru-fru midiático, uma mistura de bichos-grilo, pseudo-intelectuais, hippies chiques, jornalistas, anônimos, famosos, poetas pirados e bêbados inspirados. E, lógico, peruas, muita peruas com seus óculos Channel e bolsas Louis Vuitton.
Após 15 dias longe da minha namorada, concluí que passar o final de semana acompanhando debates na Tenda dos Autores não seria exatamente o programa ideal. Assim, optamos por relaxar, curtir a cidade e acompanhar apenas algumas poucas mesas. E, lógico, dar um providencial mergulho.
Após experimentar um prato típico da culinária caiçara, o azul-marinho servido como parte da programação gastronômica do Off-Flip - evento paralelo que busca valorizar a cultura local - fomos para a belíssima praia de Trindade. E, antes de voltarmos a Paraty, fizemos uma rápida visita à comunidade quilombola do Campinho da Independência (www.quilombocampinho.org) a fim de conhecer o trabalho social desenvolvido pela associação de moradores.
Mesmo só tendo chegado a Paraty na madrugada de sexta-feira e assistindo a poucas mesas, me arrisco a também dizer que a qualidade dos debates deste ano ficou aquém dos que aconteceram em 2005. Talvez porque, a exemplo do que publicou o blog 'croniquetas' (croniquetas.blogger.com.br), "muita política e pouca literatura marcaram a FLIP neste ano".
De qualquer forma, Paraty vale a viagem por si só. E os organizadores da Flip sabem tirar proveito das belezas naturais e do clima de descontração que a cidade imprime à festa, termo apropriado para um evento que começa com o show de um grande nome da MPB (este ano, foi Maria Bethânia) e produz cenas como a do historiador Eric Hobsbaw tomando caipirinha sentado numa mesinha capenga colocada no meio da rua. E, digam o que disserem, não concordarei com o argumento de que a Flip é um evento elitista. Eu próprio, seguindo a lógica de gastar o mínimo possível, me hospedei numa pousada em que a diária custava R$ 40. Para o casal.
Assisti a todos os debates pelos telões, do lado de fora da Tenda dos Autores. Com alimentação, não gastei mais do que se estivesse em casa ou trabalhando. Não dancei ciranda porque estava morrendo de fome e sono, mas vi parte do show do Yamandú Costa de graça. Foi difícil, já que a rua em frente ao Café Paraty estava lotada de pães-duros como eu tentando acompanhar o show pelas janelas. Gente que sabe que, em Paraty, o grande barato é estar na rua e se permitir ser surpreendido. Como eu e a Lídia, que entramos sem sermos convidados em uma casa onde acontecia um sarau e só depois descobrimos que era a casa do 'príncipe' João de Orleans e Bragança. Fracos, não?

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

...

terça-feira, 22 de agosto de 2006


Bem-vindo a Alajuela, "where the streets have no name". Lugar em que, proporcionalmente ao pouco tempo que passei na cidade - apenas uma noite -, vi a maior quantidade de mulheres bonitas da Costa Rica.
Alajuela é uma cidade pequena e agradável, com um centro comercial movimentado onde está concentrada a maioria dos seus hotéis. Apesar dos poucos atrativos turísticos, Alajuela é muito procurada por viajantes que durante sua estadia no país, descobrem que é ela, e não San Jose, o destino mais próximo do aeroporto internacional. Além disso, há ao menos um vulcão nas proximidades.
Na noite anterior, sai para dar uma volta assim que guardei minhas coisas. O dono do estabelecimento me deu um mapa para que eu localizasse alguns pontos que, segundo ele, valiam a visita. Andei a esmo pelas ruas, indo e vindo, até decidir regressar ao hotel. Com o comércio fechado, as ruas estavam praticamente desertas. Dei voltas em quadras próximas à igreja matriz e me dei conta de que não tinha a mínima idéia de onde estava. Olhava o mapa e não encontrava uma referência que me ajudasse a encontrar o caminho de volta.
Sem outra opção, comecei a pedir informação a quem encontrava na rua. Entretanto, curiosamente, ninguém sabia dizer o nome de nenhuma das ruas onde estávamos. Perguntei a comerciantes, perguntei até mesmo a um morador que estava sentado na sala, com a porta semi-aberta. Nada. Ninguém tinha idéia do endereço exato onde morava. Pensei comigo, "Kct! De que me serve um mapa se não sei onde estou?". Após algum tempo, um cidadão decidiu que a única forma de me ajudar era ligando para o hotel e perguntando onde ficava. Me surpreendi ao verificar que ele também não pediu o endereço, mas sim uma referência.
Após uma das melhores noites de sono na Costa Rica, acordei cedo para apanhar o avião. Na noite anterior, sem muito o que fazer após retornar ao hotel, me deitei para assistir um pouco de tevê, um luxo após 14 dias. Não que eu seja um entusiasta dos programas que exibe, mas, da mesma forma como levei um walkman velho para sintonizar as rádios locais e conhecer a programação local, queria ver o que se fazia na tevê costarriquenha. Para minha surpresa, o primeiro canal que sintonizei exibia o programa do humorista Tom Cavalcante, transmitido pela Record Internacional.
Já no aeroporto, nova surpresa desagradável. Além de ter de pagar US$ 50 pelo transporte da minha prancha, fui informado de que, para deixar o país, tinha de pagar um imposto de saída de US$ 26. Na vinda, a Copa, por conta da concorrência com a Taca, havia me cobrado US$ 25 pela prancha. E quanto ao imposto, aparentemente o oficial que me recebeu na alfândega se esqueceu de me avisar disso. Assim, tive de sair correndo atrás de um banco onde trocar alguns travellers cheques. Troquei apenas o necessário para pagar o devido e fiquei absolutamente sem um tostão.
Do que havia trazido comigo, sobraram-me apenas dois travellers, razão pela qual não consegui comprar as lembranças que devia levar para os amigos e, principalmente, para meus pais. Tudo bem. Espero que eles compartilhem da minha felicidade de ter feito esta viagem. Já a cor, bom, esta não tenho como compartilhar.

terça-feira, setembro 26, 2006

segunda-feira, 21 de agosto de 2006


Dois dias surfando Dominical e minhas férias se aproximando do fim. É hora de me despedir dos amigos que fiz nestes meus últimos dias na Costa Rica e retornar à capital San José, onde apanharei o avião de volta ao Brasil. A convivência com estes mochileiros, surfistas ou não, sem dúvida nenhuma foi a experiência mais enriquecedora dessa viagem.
As irmãs Constanza e Montserrat retornaram ao Chile antes mesmo de nós seguirmos para Dominical. O californiano Zachari e seu amigo viajaram de madrugada. Anthony tem mais uma semana de férias e seguirá junto com os franceses até Tamarindo. Da mesma forma, a norte-americana Rachel e os irmãos canadenses Chammel e Nataly seguem batendo perna pelo país por mais alguns dias. A representação alemã permanecerá tentando domar as ondas de Dominical antes de seguir para Puerto Limón. David, o nova-iorquino que planejou visitar ao menos um vulcão antes do fim das suas férias, segue até San Isidro comigo e com as quatro costarriquenhas que conhecemos ontem à tarde e que, à noite, nos acompanharam em nossa balada de despedida.
Na ressaca do surf e da balada, nem todos se despediram. A maioria viajou logo cedo, enquanto eu dormia, tentando recuperar o sono interrompido por uma brusca sacudidela, às quatro horas da manhã. Cansado e sonhando, abri os olhos, mas demorei a compreender onde estava e o que se passava no quarto escuro. Ajoelhado ao lado do beliche, o sujeito que me acordou.
_ I need a favor. Do you have a condom? A condom, please.
O quê?, pensei, mal conseguindo esboçar uma frase, pensando que algo de ruim havia acontecido.
_ Wait. Wait. I didn´t understand what you want. Speak slowly.
O sujeito estava nervoso. Repetiu a frase. Mas pela careta que fez, deixou transparecer que, para ele, o estúpido 'guy from brazil' não estava entendendo sua urgência. Felizmente, um gesto universal de duas mãos se chocando uma contra a outra e alguma mímica resolveram o problema de comunicação. Apanhei minha carteira escondida dentro da fronha do travesseiro, saquei um preservativo esquecido que, possivelmente, devia estar vencido e entreguei ao ansioso despertador, que só faltou me abraçar.
Quando acordei, só restávamos eu, David e as quatro costarriquenhas. Fui surfar, almocei, arrumei minhas coisas e zanzei um pouco até o horário de apanhar o ônibus que nos levaria até San Isidro, onde apanharíamos outro para San José. Neste segundo trecho, fui apresentado ao desagradável Cerro de La Muerte.
Neste percurso, o ônibus deixa a cidade para galgar 3.146 metros antes de voltar a descer a montanha por uma estrada sinuosa e estreita, de mão dupla, que margeia um abismo. Além das muitas curvas, tive a sorte de viajar sentado no último assento, o que, na Costa Rica, significa exatamente o último espaço onde as companhias, para ganhar alguns colones a mais, podem colocar uma fileira de poltronas a mais, encostada à lataria do veículo.
Dormi assim que o ônibus deixou a rodoviária e acordei uma hora depois, suado e sentindo o cheiro característico de lugares abafados e fechados. Demorei a voltar a mim e perceber que estávamos sentados exatamente sobre o motor, com a lataria às minhas costas superaquecida. Levantei-me sentindo que iria vomitar a qualquer instante. Deixei meu assento, perdendo-o para um dos muitos passageiros que viajam em pé, e tentei chegar próximo ao motorista.
Minha esperança de que ele parasse um instante à beira da pista foi frustrada ao olhar a estrada do seu ponto-de-vista. Nem que ele quisesse. Não havia acostamento. Só me tranqüilizei após uma de minhas amigas costarriquenhas, percebendo que eu não estava bem, pedir ao motorista, com a maior naturalidade, uma bolsa plástica para o 'extranjero'. Olhei para o lado a tempo de ver uma gringa usando discretamente a sua bolsa plástica. Só então percebi que o Cerro era uma espécie de pegadinha para os viajantes. E, felizmente, o ônibus não demorou a parar em um restaurante onde comprei um providencial comprimido.
Após muitas horas de curvas, chegamos a San José. Peguei um táxi sem muita disposição para negociar o preço abaixo dos 1 mil colones (US$ 2) e saltei mais uma vez em frente ao Hostel Pangea, o mesmo da minha chegada. Fui recebido calorosamente pelo porteiro e por Jorge, o recepcionista. Nesta noite, fiz questão de gastar um pouco mais para ocupar um quarto individual. Já não teria nenhuma paciência para tentar me comunicar em inglês ou espanhol.

sexta-feira, 18 de agosto de 2006

Praia de Dominical

Acordei cedo. Saí não para checar as ondas, que intuí estarem quebrando, mas sim para comer algo antes de minha primeira queda em Dominical. Tanto para o 'desayuno' quanto para o 'almuerzo', recomendo o restaurante (soda, como são chamados os restaurantes mais em conta) Nanyor, barato e saboroso. Voltei calmamente pela praia, aproveitando a luz amena da manhã para tirar algumas fotos, certo de que por mais que as ondas estivessem perfeitas, não encontraria crowd.
A praia de Dominical chama a atenção pela sua beleza selvagem. A areia é grossa, escura. Pequenas pedras lixadas pela força do oceano forram boa parte da praia. Há troncos semi-enterrados na areia. Tudo isso protegido por montanhas ainda virgens, cobertas pelas árvores.
No quarto, os canadenses Anthony e Chemmel dormiam. Apanhei minha prancha e caminhei sozinho de volta à praia. Procurei um canal ou um ponto onde fosse mais fácil atravessar a arrebentação. Irregulares, as ondas fechavam toda a praia, ora da direita, ora da esquerda. Mas ficou claro que em frente à pousada era onde elas quebravam com mais força. Não havia ninguém na água, embora já houvesse um burburinho no estacionamento. Mais uma vez, as frases mais proferidas eram "close out" e "wait the high tide". Mas eu não viajara até ali para esperar. Eu queria surfar.
Me atirei ao mar. Tomei uma série na cabeça ainda no inside. Apesar da onda ser pesada, quem estivesse descansado não teria maiores dificuldades para chegar ao outside. Não era esse o meu caso. Além disso, o risco em Dominical não são as ondas, mas sim a forte correnteza. Sozinho no mar, procurei não abusar. E bastaram cinco ondas para eu, do inside, olhar a série fechando e concluir que estava na hora de sair.
Na areia, Anthony e alguns franceses me observavam surfando. Diziam que o mar estaria melhor dentro de uma hora. Possivelmente, as ondas estariam menores, mas, em compensação, não estariam fechando tão rapidamente. Mais um "close out" e eu decidi descansar um pouco antes de voltar ao mar junto deles.
Após uma hora e meia, ficou claro que não só as ondas não estavam menos fechadeiras como até estavam maiores. Decidimos ir para o canto esquerdo da praia, onde as séries demoravam um pouco mais e nos dava mais tempo para alcançar o outside. Mesmo assim, cada um de nós surfou poucas ondas antes de ficar cansado e sair do mar. Peguei cerca de seis ou sete e decidi que enquanto o grupo ia conhecer uma cachoeira próxima, eu ficaria no hotel, descansando.

quinta-feira, 17 de agosto de 2006

Uma surf-trip tem que ter fogueira. E pessoas em volta conversando sobre as ondas que já surfaram, as praias de que mais gostaram, aquelas a que gostariam de ir e por aí vai, noite adentro. Pois bem. Hoje, tratamos de celebrar em grande estilo nossa chegada a praia de Dominical.
As coisas não sairam como eu havia planejado e não houve jeito de economizar os US$ 15 que cobraram de cada pessoa do grupo de 13 surfistas que se conheceram por força das circunstâncias ao tentarem apanhar o ônibus que vai de Quepos a Dominical. Com os veículos lotados, os motoristas se recusavam a levar a nós e nossas pranchas. Realmente, as 15 pranchas não caberiam nos gaveteiros.
Com tanto gringo dando mole na rodoviária, não demoraram a aparecer costarriquenhos nos oferecendo transporte. Após muita negociação, concordamos em pagar os tais US$ 15 por cabeça. De certa forma, uma vitória, já que, inicialmente, haviam nos pedido US$ 20. Mesmo assim, não fiquei nada feliz com o gasto imprevisto. O ônibus que planejávamos apanhar custa 1.200 colones, pouco mais de US$ 2.
Só já no meio do caminho, quando vi os pouco mais de 40 quilômetros indicados no mapa se transformarem em duas horas e meia de viagem, concluí que tinha valido à pena pagar um pouco mais para viajar sentado, conversando confortavelmente sobre ondas, trocando impressões sobre a Costa Rica e desfrutando do ar-condicionado. Devido às precárias condições desta que é uma das principais estradas do país, por onde escoa parte dos produtos importados que chegam da Nicaragua, a van avançava a meros 20 km/h. E quando alcançavamos algum rio, tinhamos que descer para não corrermos o risco de atolarmos por conta do peso.
Chegamos cansados, mas eufóricos com as direitas que quebravam em frente às pousadas. Descobrimos um bom lugar, com quartos para três pessoas a US$ 20, guardamos nossas coisas e voltamos à praia, ansiosos para surfar. Enquanto conversávamos, anoiteceu. Sugeri que acendêssemos uma fogueira e, com a chamas crepitando e a lua cheia sobre o Pacífico, agradeci por aquele momento.

terça-feira, 15 de agosto de 2006


Caldeirão cultural. Eis uma expressão que poderia ter sido criada por alguém familiarizado com os banheiros dos albergues de, aparentemente, qualquer parte do mundo. Imagino a cultura de bactérias fartamente cultivadas nos vasos sanitários destas opções baratas de hospedagem tão pouco exploradas por nós brasileiros. E que, ao contrário do que seria de se esperar, são uma ótima opção para quem viaja, principalmente para os que desejam conhecer pessoas. Mesmo turistas provenientes de países com moedas realmente fortes preferem se hospedar em lugares como este.
Mesmo que siga compartilhando banheiros Costa Rica afora, depois de cinco dias, tenho, enfim, a privacidade de um quarto só meu. O que não chega a ser um luxo, dadas as condições.
A diária no Travotel/Albergue Costa Linda (506- 7770304) custa US$ 10. Há outras opções para casais ou amigos que viajam juntos, sendo que o preço varia conforme o número de pessoas. De toda forma, todos tem de recorrer ao banheiro coletivo. Constrangimentos como o meu ao ser repentinamente surpreendido enquanto usava o vaso sanitário são raros, já que todos passam o dia fora e só retornam a noite. Também não há água quente nos chuveiros. Felizmente, faz muito calor nesta região.
Embora ofereça excelente localização, tranquilidade e preço baixo, o hotel tem poucos quartos considerados bons. Mesmo assim, numa região cara como Manuel Antonio, e eu o recomendo. Isso apesar de ter tido a sorte de ser acomodado no pior dos quartos, o de número 3, com pouco mais de 2 metros quadrados. Espaço suficiente para um ventilador, a cama de solteiro e uma banqueta.
Outra vantagem deste hotel é que ele fica em uma rua lateral ao restaurante Marlin, que é bem em frente a um dos picos mais concorridos de Manuel Antonio. Nestas ondas de até 1,5 metro na séria, minha Seven Seas 6.1 finalmente funcionou.

segunda-feira, 14 de agosto de 2006


Quando penso que quase deixei minha prancha em Jacó porque me diziam não haver ondas em Manuel Antonio...Surfei tanto hoje pela manhã que, à tarde, troquei uma segunda queda por uma sessão de fotos.

Realmente, se comparado ao estardalhaço histriônico da arrebentação de Hermosa, até mesmo de Jacó, Manuel Antonio parece não ter muito a oferecer. Mera ilusão de ótica. É de dentro d´água que se tem a noção exata do quanto as ondas desta bela praia podem ser divertidas. Vi ondas perfeitas de 1,5 metro quebrando a poucas braçadas da areia. Com uma arrebentação bem mais fácil de varar e com as séries fechando mais lentamente que em outras praias que conheci, esta onda proporciona um surf veloz e mais solto. For fun!

Peguei onda das sete da manhã até as dez horas. Inicialmente, apenas com dois surfistas norte-americanos na água. Pai e filho, ambos vieram da Flórida em busca de ondas em águas quentes. Quando eu já tinha surfado o suficiente para ficar de cabeça feita, chegaram três locais que não escondiam a alegria de estarem surfando em seu pico, acompanhados dos amigos. Embora fossem mais novos que nós que haviamos chegado antes, cabia a eles escolherem as ondas que queriam dropar.

Sai do mar às 10h30 e voltei ao albergue disposto a repôr as energias às custas do 'desayuno' completo que a maioria dos hotéis/albergues serve aos seus hóspedes. Por 1.500 colones (cerca de US$ 3) matei a fome pós-surf comendo o famoso gallo-pinto (arroz, feijão, ovos e pão), mais panquecas, um prato com frutas e uma caneca de café com leite.

Após ter saciado a fome, retornei pecaminoso à praia, procurei por uma sombra, me deitei na areia e deixei que a comida fosse digerida. Adormeci ouvindo o barulho das ondas estourando no inside e sentindo o vento terral.

Gastei o resto do dia de forma amena, caminhando e tirando fotografias. A noite, após jantar um casado (1.500 colones ou US$ 3) no restaurante El Entardecer, encontrei Anthony, o canadense de 20 anos que conheci vindo de Quepos. Ele me disse ter pego boas ondas no canto direito da praia, um pico chamado playita. Decidimos tomar umas cervejas para fazer uma hora antes de voltarmos ao albergue. Se estivéssemos no Brasil, na balada, estou certo de que a companhia de Anthony teria seguramente facilitado que eu conhecesse algumas garotas. Mas não aqui na praia dos 400 passos. O melhor a fazer por estas bandas é dormir cedo para levantar junto com o sol e ir surfar.

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

Quatrocentos passos. Eis a extensão exata do calçadão da praia de Manuel Antonio. Duvido que o Google disponha deste tipo de informação, mas eu, se um dia precisar, saberei responder qual a distância entre o restaurante El Entardecer, no canto esquerdo da calçada, onde os hippies exibem seu artesanato, e o restaurante Mar y Sombla, no lado oposto.


(Touxe um walkman velho, daqueles modelos com rádio e toca-fita, e tenho procurado ouvir, além das notícias, a música pop costarriquenha. Mas o tal do Reggaeton que tocam por aqui não me atraiu. Lembra-me muito mais o funk, ou melhor, o charm, que o dito reggae. Assim, a trilha sonora desta viagem tem sido sobretudo a música eletrônica e o pop norte-americano que se ouve na 911 Fm - La Radio Groovy, a meu ver, a melhor que ouvi na Costa Rica. É possível ouvi-la através do site www.911laradio.com)

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

Frogs, snakes, scorpions and crabs
Atencão. É fato. O paraíso tropical das propagandas de tevê existe. Com direito à piña colada, espreguiçadeira à beira-mar e um espetacular pôr-do-sol. Porém, hospedado próximo à paradisíaca praia de Manuel Antonio, cercado pela vegetação que transpõe os limites do Parque Nacional de mesmo nome, me dou conta de que seu desfrute adequado é daquele tipo de coisa pelo qual te cobram ágio.
Com certeza, o fim-de-tarde que presenciei ao chegar na praia de Manuel Antonio ficará para sempre registrado em minha memória. Não há palavras para descrever a beleza do pôr-do-sol neste lugar que a imprensa mundial esqueceu, mas os turistas - entre eles, eu - encontraram.
Se Jacó, com suas prostitutas e norte-americanos aposentados e refugiados se assemelha ao hard-rock dos anos 70, Manuel é trance. A primeira é beatnik. A segunda, clubber.
Loiras canadenses copiando o estilo californian girl, se fundindo a surfistas costarriquenhos que, às vezes, como eu próprio presenciei, tem de se soltar para evitar que algum branquelo texano se afogue nesta praia freqüentada principalmente por gays de bom poder aquisitivo, mas também por ecologistas, hippyes de todo o mundo e surfistas pouco dispostos a encarar a potente arrebentacão de Hermosa. Este é o meu caso. Estive em Hermosa e, como muitos que encontrei depois, desisti de surfar lá após me dar conta de que seria um risco enfrentar suas potentes ondas com minha 6.1.
Por outro lado, em Manuel Antonio, tudo custa mais caro. O que não significa que não seja possível economizar. Após procurar, encontrei um casado com preço próximo do que eu pagava em Jacó, 1900 colones (pouco menos de US$4). Mas aqui te cobram 10% em todos os lugares.
Para vir de Jacó à Manuel Antonio, de ônibus, se gasta cerca de 1.400 colones, ou seja, menos de US$ 3. Lógico, o ônibus é velho, do tipo dos utilizados nas cidades brasileiras, e a estrada é esburacada, o que oferece um certo risco para as pranchas, que viajam soltas no bagageiro. Uma boa capa é imprescindível para quem pretende ir à Costa Rica e não vai alugar um carro.
Já para me hospedar, não encontrei opção melhor que o Travotel/Albergue Costa Linda (777-0304). Por US$ 10 o quarto para uma pessoa é possível dormir à cerca de 300 metros da praia. Além disso, o hotel serve, por 1.500 colones (US$3), um tipicamente forte café-da-manhã costarriquenho.
Em cinco dias, é a primeira vez que tenho a privacidade de um quarto só para mim. Porém, o Costa Linda merece um comentário à parte.
Colado na porta do quarto, um aviso alerta para que o hóspede "check your room for frogs, snakes, scorpions and crabs". Cobras e escorpiões??? Bem, ninguém pode dizer não ter sido avisado. Infelizmente, o foi. Logo após pagar a diária e fechar à porta do quarto. Isso caso se dê ao trabalho de ler o recado.
(Pensando bem, o recado nao é descabido, afinal estamos praticamente dentro do Parque Nacional. A tarde, caminhando pela praia, cheguei a um rio onde uma placa dizia ser proibido nadar por causa da possível aparicão de jacarés) .
De qualquer forma, o aviso não diz nada sobre o espaço exíguo do quarto. Dois metros por um. Também não fala nada sobre não haver água quente nos banheiros que, separados por sexo, são compartilhados por todos os hóspedes.
Já quanto ao aviso de que seria possível usar a internet por 500 colones meia-hora, esqueça. Quando retornei da praia horas depois de meu check-in, o recepcionista me respondeu que o serviço havia sido suspenso.

sexta-feira, setembro 22, 2006

sábado, 29 de julho de 2006

Hoje, voltei ao mar por duas vezes. Pela manha, com a mare enchendo desde as nove horas, as ondas fechavam muito rapidamente. Com uma unica prancha 6.1, de bordas finas, nao peguei, por sessao, mais que tres ondas cuja face tenha me possibilitado manobar bem. Todas as outras fechavam tao logo eu eu completava o drop.
A tarde, as condicoes nao mudaram muito. Com o agravante que 'las olas' estavam maiores. Como nao ha canal por onde chegar ao pico, so resta encarar o quebra-coco. Ainda que um submarino/joelhinho bem dado seja capaz de evitar maiores problemas, nao escapei de rodar ao menos uma vez junto com a espuma.
De qualquer forma, se a capital San Jose fez com que me questionasse se nao teria valido mais a pena viajar pelo Brasil, ir para o Nordeste ou mesmo passar uns dias no litoral norte paulistano, a sensacao de familiaridade que experimentei ao deixar o Vale Central e seguir rumo ao litoral me tranquilizou.
As montanhas cobertas pela vegetacao tropical, o clima, a luz, o cheiro do mar que se aproxima, tudo me parecia familiar. Era como se eu estivesse rodando pela Rio-Santos, descendo a Serra de Maresias (o que, por outro lado, tambem me fez refletir sobre o quanto de dinheiro deixamos de ganhar por explorarmos mal o turismo).
Esta familiariedade acabou por se estender tambem as ondas de Jaco. Bastou remar um pouco para que eu sentisse que estava surfando em um pico habitual. Tudo bem, talvez nao nas ondas gordas de Santos, mas na praia guarujaense, Pernambuco, em dia de ondas grandes. Nao que, hoje, as ondas de Jaco estivessem grandes, mas sim porque sao fortes.
Foi só varar a arrebentacao e toda a tensao se desanuviou. Os quatro meses sem surfar, a dor no joelho que quase me fez desistir de viajar e que piorou com o peso da mochila, o estranhamento diante de ondas desconhecidas, a saudade da namorada...No instante em que mergulhei nas aguas salgadas do Pacifico, me dei conta do quanto sou privilegiado. Eu surfo! So isso ja e uma distincao, uma dadiva. Mas nao bastasse isso, eu tenho consciencia de estar vivenciando uma experiencia unica, pessoal e intransferivel, de conhecer um outro pais, uma outra cultura. Na verdade, um pouco de varias culturas, ja que tenho encontrado gente de todo o mundo nos albergues em que me hospedo.
No mesmo quarto que eu estao dois americanos e um ingles. Hoje, na piscina, conversei por alguns instantes com uma holandesa. Para todos, eu sou "a guy from Brazil".
Alias, hoje pela manha, enquanto checava as ondas, fui abordado seguidamente por dois "ticos", como chamam a si mesmos os costarriquenhos. O primeiro tentou me vender um DVD. O segundo, maconha. Para justificar minha negativa, disse que tinha pouco dinheiro para os dias que me restam no pais. Sua resposta foi sarcastica. "Os brasileiros sao sempre assim. Choram que nao tem dinheiro, choram muito, e acabam negociando o melhor preco".
Mas o que mais me surpreendeu foi saber que, comparativamente, a maconha custa bem mais caro que a cocaina porque, segundo meu informante, toda a erva vem de fora, trazida em navios, prensada. E que é muito mais arriscado transportá-la do que à cocaína, razão de seu alto preço.

sexta-feira, 28 de julho de 2006

A praia de Jaco vista da frente do albergue (foto: www.hoteldehaan.com)
Deslizando sobre o Pacífico

Enfim, a viagem ganha cara de surf-trip. Fiz meu primeiro surf na Costa Rica. As primeiras ondas depois de quatro meses longe do mar. Minha primeira sessao de minha primeira viagem internacional.

Acordei, ainda em San Jose, com uma mancha disforme se mexendo na escuridao de um quarto coletivo do albergue. Engracado que bastaram tres dias na Costa Rica para eu aprender a distinguir o contorno de um/uma norte-americano/a. No exato momento em que vi aquela buzanfa mole eu soube que seu dono tinha de ser norte-americano. Com esta visao, perdi o sono e so me restou levantar. As seis horas da manha.

Apos um bom cafe (mil colones, ou US$2, no albergue), peguei o onibus para a praia de Jaco, a duas horas e meia da capital, no oceano Pacifico. E recomendavel se informar sobre os horarios de saida com antecedencia. O tiquete custa 1.250 colones (cerca de US$ 2,50), mais 500 colones pelo transporte das pranchas. Nao espere conforto. Os onibus, como todos os utilizados na Costa Rica, sao verdadeiros calhambeques.

Ao chegar, me acomodei em um novo alguergue (www.hoteldehaan.com - US$ 10 a diaria em quartos compartidos), experimentei meu primeiro casado - prato tipico da Costa Rica, feito com feijao, arroz, banana frita, queijo, salada e uma carne a escolher, mil colones no restaurante que me indicaram no proprio hotel. Depois, fui checar o mar mais uma vez e, indiferente a dor no joelho que me incomoda ha varios meses, fui surfar. Para uma primeira vez, sai satisfeito.

Amanha, se Deus quiser, tem mais. Pura Vida!

quinta-feira, 27 de julho de 2006



Descoberta por Cristovao Colombo em 1502, a Costa Rica deve (deve?) seu nome à surpresa dos espanhóis. Mesmo que todo o ouro com que os indìgenas criavam as jóias e adornos que tanto impressionaram os colonizadores tenha sido pilhado, a segunda razao pela qual se atrubui o batismo permanece preservada.
A vegetacao costariquenha continua despertando a admiracao de milhares de turistas que vem ao país para desfrutar das diversas atividades e esportes feitos juntos à natureza e tomar uma cerveja Imperial num ambiente de maior liberdade que seus países de origem.
No albergue em que me encontro (www.hostelpangea.com - US$ 10 a diaria em quartos compartidos), há franceses, canadenses, italianos e, sobretudo, americanos. Ainda nao vi nenhum japonês com suas indefectíveis máquinas fotográficas, mas deve haver também. De brasileiro, só eu. Só nao sou o único representante sul-americano porque em meu quarto, além do nova-iorquino Mike, há também um chileno. Da mesma forma que eu, ambos viajam só, embora o chileno esteja vivendo aqui há um ano.
Estou prestes a descartar uma daquelas certezas absolutas que, mesmo carecendo de comprovacao prática, alimentamos por anos. Sempre acreditei que um dia só é pouco para se apreender qualquer cidade. Mas mesmo considerando que uma cidade guarda em si muitas outras cidades invisíveis, me parece nao haver mais o que ver por aqui. De forma que, amanha, sigo para a praia de Jacó. onde, me garantem, encontrarei precos mais acessíveis que em Playa Hermosa.
Mas nao poderia ir embora sem antes apanhar um ônibus municipal (85 colones. US$ 1 = 514 colones). Sou um entusiasta do ônibus como forma de conhecer qualquer novo lugar. Penso que ele tem quatro vantagens sobre qualquer outro meio. É barato. Permite sentir o dia-a-dia dos habitantes. Você pode se sentar e apenas prestar atencao a sua volta, seja nas ruas que passam, seja na conversa das donas-de-casa ao seu lado. E, principal vantagem para quem nao conhece o lugar. Como disse a personagem de Fernanda Montenegro em Central do Brasil, o ônibus tem trajeto fixo, saindo e voltando sempre ao mesmo ponto. Uma hora depois de "agarrar el autobus" Sabana-Cemiterio em "la parabus cerca de hotel", eu estava de volta ao mesmo lugar.
Na hora do almoco, para minha surpresa, a tevê exibe a novela Senhora do Destino. Comeco a compreender porque Jaqueline, a recepcionista do albergue, me disse que "a mi me encanta tu país". Mesmo que esta, até agora, tenha sido a única manifestacao que ouvi ao responder sobre minha naturalidade. Ou os brasileiros sao comuns demais, ou o fato de o real nao ter valor algum aqui por estas bandas nos torna menos sexys. (Se bem que uma garota de programa ontem me abordou na rua).
Neste momento, chove bastante e faz frio. Sem mais opcoes para este final de tarde, vou vestir uma blusa e dormir. Se a chuva náo parar, talvez vá conferir Supermam legendado em espanhol em um cinema que fica bem próximo. E tomar uma Imperial, embora nao goste de cervejas.

quarta-feira, 26 de julho de 2006

Estou na Costa Rica. Mas há pouco para comentar sobre meu primeiro dia na capital San José. Quer dizer, andei bastante, visitei um museo interessante, registrei algumas impressões, mas nao bastasse o aturdimento da mudanca de fuso horário e o sono após tantas horas sem dormir, este maldito teclado é diferente dos utilizados no Brasil. Daí eu nao encontrar outro til além do que acompanha a letra ñ. Nem o cedilha. E muito menos o arroba, necessário para acessar meus e-mails.

Entao, do pouco que vi e do muito que conversei até aqui, vou me arriscar a declarar que em meu primeiro dia de Costa Rica, o que justamente mais chamou minha atencao foi o país vizinho, o uma das suas cidades, para ser mais exato.

Deixamos o Aeroporto Internacional de Guarulhos às 4h30 de hoje e levamos pouco mais de seis horas para chegar até nosso destino final. Antes, fizemos uma escala em Panamá City, e a cidade me pareceu bonita e organizada. Me deu vontade de conhecê-la. Ainda mais quando sobrevoamos o Canal do Panamá.

Já em San José, a impressao nao foi das melhores. Nao que a cidade seja ruim, mas restou a impressao de que estava caminhando pelo centro de Sao Vicente (SP). Talvez, como recomendou o taxista que me trouxe - após eu ter barganhado o valor da corrida e conseguido economizar US$ 4 - do aeroporto ao albergue, ao invés de ficar por dois dias na capital, eu devesse pegar minha prancha e me mandar para a praia de Jacó. "No hay nada de gracioso para se ver en San José".

terça-feira, 25 de julho de 2006

(I)
Duda do Marapé. Bafafinha. Neguinho da Caxeta. Dingo & Léo. Marcinho da VP (Vila Progresso, bairro de Santos)...
Nos poucos dias que passei em Santos, este estranho fenômeno chamou minha atenção. Observando os 'lambe-lambe' espalhados por muros de toda a cidade, notei que os shows e festas anunciados tinham como atração principal mcs ou duplas de funk santistas. Curioso, resolvi checar a programação das rádios locais para saber que apito esta rapaziada toca. Li os jornais locais. Assisti aos programas das tevês locais. Nem sombra destes artistas de gosto duvidoso. Indiferença que, segundo me contaram, não impede que os bailes funks lotem a cada final de semana.
(II)
Se você tem um mínimo de educação e é do tipo que cede seu assento no ônibus para os mais velhos, então desista da idéia de viajar sentado enquanto estiver em Santos.
É cada vez maior o número de idosos na cidade. O que não chega a ser uma particularidade. Mas, diferentemente de muitos outros lugares, os 'coroas' santistas estão ativos e dispostos. Motivados pelo passe-livre, eles saem às ruas, vão à praia, não deixam de lado seus afazeres, visitam amigos e parentes ou...simplesmente vão dar um passeio de ônibus. Conquistaram o direito de entrar pela porta da frente e não pagar. Viajar sentado, no entanto, ainda depende da educação dos mais jovens.
Isso é bom, tanto para eles quanto para a cidade. Mas que às vezes aborrece pagar R$ 2 e ir em pé, ah!, cansa.
(III)
Por último, registro que durante esta minha curta estadia, uma única notícia merece registro. A Prefeitura decidiu instalar banheiros químicos nas feiras-livres.
Eu nunca havia parado para pensar em como as feirantes - os feirante, como todo homem, é um desavergonhado - faziam para se aliviar durante as muitas horas em que trabalham. Nem sempre há um prédio ou equipamento público nas proximidades. Deviam contar unicamente com a boa vontade dos comerciantes e dos moradores. Mas imagine a boa-vontade de quem tem a feira montada diante de sua casa ou estabelecimento comercial.
Pode parecer besteira, mas demonstra a preocupação do Poder Público com o bem-estar da população.

segunda-feira, 24 de julho de 2006


Um ônibus municipal, um táxi, um ônibus interestadual, outro táxi, um avião, um ônibus "seletivo", um metrô, baldeação na Estação da Sé, mais um metrô e um último ônibus interestadual. Doze horas de viagem e, enfim, estou mais uma vez diante do familiar Atlântico. Detalhe: durante todo este tempo, comi apenas meio pacote de bolacha de água e sal e bebi uma tônica. E mesmo assim, tive de testar a maciez do papel usado no Aeroporto de Goiânia. Chego em casa amarelo. Antes, meu pai passa direto por mim na entrada do prédio.

Viajar é uma oportunidade de aprender, dizem. Pois recebo minha primeira lição ainda no ônibus que me leva de Brasília à Goiânia. Conversando com Lúcio, o pernambucano sentado ao meu lado, além de tirar a limpo o clichê sobre nordestinos faladores viajando de ônibus, fico conhecendo sua original teoria evangélica acerca da corrupção e outros pecados venais cometidos pelos homens, sobretudo quando políticos.

"Você veja só", me dizia ele. "O homem tem o hábito de adorar as coisas que estão aí, a nossa volta, e de se afastar de Deus. Então, existem budistas, existem os que adoram imagens feitas pelas mãos do homem... Na Índia, eles têm lá o hábito de adorar às vacas sagradas. Pois então, os políticos, os governantes, sendo homens, são falíveis, erram. Se não errassem, o povo ia adorá-los; deixariam de reconhecer a importância de Deus em suas vidas e passariam a adorar o fulano que lhes deu escolas, duzentos médicos para cada paciente e sei lá mais o quê...".

Eis aí uma concepção original de justificativa evangélica para a corrupção. Sanguessugas, anões do orçamento, mensaleiros, Deus tem um propósito para vocês!

domingo, 23 de julho de 2006


Para os que estranharem o adjetivo, este primeiro post dá uma vaga idéia do que vem a ser um sujeito semi-fosco. Afinal, é por coisas assim que eles se fazem notar!
Não bastasse ficar sabendo pela internet da possibilidade da Costa Rica ser atingida por tufões a qualquer momento, às vésperas de viajar para meu primeiro destino - Santos (SP) -, meu organismo parece se recusar a levar consigo qualquer vestígio de alimento ingerido em Brasília.
Depois de trabalhar normalmente por doze horas, começo a passar mal. Duplamente mal, pois, pior que o vômito e a diarréia é a perspectiva de não melhorar logo e perder as passagens que comprei hoje de manhã. (Não tendo encontrado vôos para São Paulo a partir de Brasília, e me recusando a gastar a mesma quantia para passar cerca de quinze horas balançando em um ônibus, optei por viajar à Goiânia e, de lá, apanhar um avião até Guarulhos. Só não contava com passar uma noite de rei, sentado no troninho).
Estou tão ansioso para iniciar minha primeira surf-trip, não por acaso, também minha primeira viagem ao exterior, que quase não me dou conta de que esta é também a primeira vez que vou à Goiânia, que fica a pouco mais de três horas de Brasília, onde moro há um ano e meio.