terça-feira, setembro 26, 2006

segunda-feira, 21 de agosto de 2006


Dois dias surfando Dominical e minhas férias se aproximando do fim. É hora de me despedir dos amigos que fiz nestes meus últimos dias na Costa Rica e retornar à capital San José, onde apanharei o avião de volta ao Brasil. A convivência com estes mochileiros, surfistas ou não, sem dúvida nenhuma foi a experiência mais enriquecedora dessa viagem.
As irmãs Constanza e Montserrat retornaram ao Chile antes mesmo de nós seguirmos para Dominical. O californiano Zachari e seu amigo viajaram de madrugada. Anthony tem mais uma semana de férias e seguirá junto com os franceses até Tamarindo. Da mesma forma, a norte-americana Rachel e os irmãos canadenses Chammel e Nataly seguem batendo perna pelo país por mais alguns dias. A representação alemã permanecerá tentando domar as ondas de Dominical antes de seguir para Puerto Limón. David, o nova-iorquino que planejou visitar ao menos um vulcão antes do fim das suas férias, segue até San Isidro comigo e com as quatro costarriquenhas que conhecemos ontem à tarde e que, à noite, nos acompanharam em nossa balada de despedida.
Na ressaca do surf e da balada, nem todos se despediram. A maioria viajou logo cedo, enquanto eu dormia, tentando recuperar o sono interrompido por uma brusca sacudidela, às quatro horas da manhã. Cansado e sonhando, abri os olhos, mas demorei a compreender onde estava e o que se passava no quarto escuro. Ajoelhado ao lado do beliche, o sujeito que me acordou.
_ I need a favor. Do you have a condom? A condom, please.
O quê?, pensei, mal conseguindo esboçar uma frase, pensando que algo de ruim havia acontecido.
_ Wait. Wait. I didn´t understand what you want. Speak slowly.
O sujeito estava nervoso. Repetiu a frase. Mas pela careta que fez, deixou transparecer que, para ele, o estúpido 'guy from brazil' não estava entendendo sua urgência. Felizmente, um gesto universal de duas mãos se chocando uma contra a outra e alguma mímica resolveram o problema de comunicação. Apanhei minha carteira escondida dentro da fronha do travesseiro, saquei um preservativo esquecido que, possivelmente, devia estar vencido e entreguei ao ansioso despertador, que só faltou me abraçar.
Quando acordei, só restávamos eu, David e as quatro costarriquenhas. Fui surfar, almocei, arrumei minhas coisas e zanzei um pouco até o horário de apanhar o ônibus que nos levaria até San Isidro, onde apanharíamos outro para San José. Neste segundo trecho, fui apresentado ao desagradável Cerro de La Muerte.
Neste percurso, o ônibus deixa a cidade para galgar 3.146 metros antes de voltar a descer a montanha por uma estrada sinuosa e estreita, de mão dupla, que margeia um abismo. Além das muitas curvas, tive a sorte de viajar sentado no último assento, o que, na Costa Rica, significa exatamente o último espaço onde as companhias, para ganhar alguns colones a mais, podem colocar uma fileira de poltronas a mais, encostada à lataria do veículo.
Dormi assim que o ônibus deixou a rodoviária e acordei uma hora depois, suado e sentindo o cheiro característico de lugares abafados e fechados. Demorei a voltar a mim e perceber que estávamos sentados exatamente sobre o motor, com a lataria às minhas costas superaquecida. Levantei-me sentindo que iria vomitar a qualquer instante. Deixei meu assento, perdendo-o para um dos muitos passageiros que viajam em pé, e tentei chegar próximo ao motorista.
Minha esperança de que ele parasse um instante à beira da pista foi frustrada ao olhar a estrada do seu ponto-de-vista. Nem que ele quisesse. Não havia acostamento. Só me tranqüilizei após uma de minhas amigas costarriquenhas, percebendo que eu não estava bem, pedir ao motorista, com a maior naturalidade, uma bolsa plástica para o 'extranjero'. Olhei para o lado a tempo de ver uma gringa usando discretamente a sua bolsa plástica. Só então percebi que o Cerro era uma espécie de pegadinha para os viajantes. E, felizmente, o ônibus não demorou a parar em um restaurante onde comprei um providencial comprimido.
Após muitas horas de curvas, chegamos a San José. Peguei um táxi sem muita disposição para negociar o preço abaixo dos 1 mil colones (US$ 2) e saltei mais uma vez em frente ao Hostel Pangea, o mesmo da minha chegada. Fui recebido calorosamente pelo porteiro e por Jorge, o recepcionista. Nesta noite, fiz questão de gastar um pouco mais para ocupar um quarto individual. Já não teria nenhuma paciência para tentar me comunicar em inglês ou espanhol.

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