quinta-feira, setembro 28, 2006

domingo, 10 de setembro de 2006

SAMBA DE BOCHA
Quem não o conhece, jamais se arriscaria a dizer que um clube de bocha em que é "expressamente proibido dançar juntos e permanecer sem camisa ou em trajes de banho" abrigaria uma roda de samba concorrida. "Coisa de paulista", diriam. Afinal, o salão pequeno e abafado de uma agremiação tradicional de um bairro popular não parece o local mais apropriado para juntar gente à procura de ouvir música de qualidade, se divertir e celebrar a alegria de viver. Além do mais, por que músicos de qualidade tocariam de graça para pessoas de distintas classes sociais, de diferentes faixas etárias e que, amontoadas ao redor do frágil cordão que os separa dos músicos, se mostram à vontade e extremamente felizes? Pessoas que retribuem com sorrisos espontâneos em seus rostos, dançando e, sobretudo, prestando atenção ao cavaco, aos pandeiros, aos surdos e demais instrumentos, reverenciando a boa música executada pelas mãos experientes que, há quase duas décadas, todos os sábados se reúnem no Clube Ouro Verde, sob a égide de nosso lindo e maltratado pendão da esperança.
Antes, bloqueava-se o trânsito de veículos. Depois, para não incomodar a vizinhança, optou-se por espremer todo o público no número 41 da Rua Nove de Julho, no Marapé. Das 20h. até às 24h, horário em que pontualmente os instrumentos se silenciam, é uma sucessão de bons sambas e choros. Nada de pagode mauricinho, que aqui não é lugar de melação. A paquera, se rolar, tem de ser capaz de se desenvolver ao ritmo dos malandros de outrora. E dá-lhe Cartola, Sinhô, João Nogueira, Roberto Ribeiro, Moreira da Silva, Chico Buarque...
Talvez não role de dançar com a gatinha universitária que veio acompanhada por sua turma descolada. Talvez não haja pegação, muito menos social. Ninguém aqui vem para ser visto. Vem para ver e ouvir. Mas, com um pouco de simpatia e ginga, pode acontecer de você ser convidado para dividir uma cerveja ou para trocar uma idéia com um dos muitos personagens que, religiosamente, todos os sábados dão o ar da graça no Ouro Verde, local demasiadamente humano. E o melhor: não terá gastado nada além do que tiver consumido. Nem para entrar, nem para ouvir os músicos que tocam quase que por diletantismo. Pela impressão de satisfação que trazem em seus rostos, isso os mantém vivos.
Não que eles sejam os únicos a se divertir, mas se envelhecer significa saber curtir a vida como os senhores e senhoras que sacodem as cadeiras no Ouro Verde, como o Nelson e demais músicos que comandam a roda, bom, então eu reivindico o direito de envelhecer bem e me ver livre das boates, músicas, roupas e pessoas "da moda".

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