quinta-feira, setembro 28, 2006

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

foto: Antônio Cruz (Agência Brasil)
CONSCIÊNCIA NÃO É ESCOLHER O 'MENOS PIOR'

Desde 1989 eu tenho sido Lula.

Mesmo após vê-lo ser derrotado - primeiro por Collor, depois, por FHC - contribuí para que ele se elegesse em 2002. Justamente quando a Carta ao Povo Brasileiro sinalizava que, talvez, já não houvesse mais expectativas de que Lula e o PT fossem promover mudanças estruturais radicais. Tudo indicava que, novamente, o país buscaria o caminho da conciliação entre os interesses do lobo e da ovelha.

Quatro anos se passaram e, no próximo dia 1º de outubro, terei de ir a um cartório a fim de justificar meu não comparecimento à seção eleitoral onde voto. É que quase dois anos após me mudar de Santos, ainda não transferi meu título eleitoral. Daí estar impedido de exercer o direito de, conscientemente, ANULAR MEU VOTO.

Se fosse votar, seria esta minha opção. Não porque tenha me desiludido com a administração petista ou porque ache que Lula é ladrão. Não porque o Alckmin é um sujeito inexpressivo que, até outro dia, vangloriava-se de ter chegado ao Palácio dos Bandeirantes no vácuo de Mário Covas, santista que, quando governador, vetou a construção de uma universidade pública na Baixada. Nem tampouco porque o Cristovam tenha se tornado uma caricatura ou porque haja um enorme fosso entre o programa de governo de Heloisa Helena e o conteúdo programático de seu partido, o radical-chic PSOL.

Votaria nulo não só porque desconfio da insistência com que a imprensa e alguns formadores de opinião tentam nos conscientizar da importância do voto, mas principalmente porque, - torno a insistir - conscientemente, não tenho segurança para escolher o melhor candidato. Na atual conjuntura, com instituições combalidas e uma política mesquinha, palaciana, diria que a tarefa é escolher o menos pior. Será isto suficiente? Será realmente esta a arma do povo? Nos dão algumas opções que além de não nos satisfazer, não contemplam a complexidade e a magnitude de nossos problemas e nos convencem de que se não escolhermos a menos pior somos nós os responsáveis pelo desastre social brasileiro. Será isto o exercício democrático possível hoje?

Quanto mais ouço falar na inconsistência do movimento pelo voto nulo, quanto mais me vêem com o velho chavão do analfabeto político, mais me convenço de que talvez seja este o único caminho possível. Por isso digo que votaria nulo por convicção. Convicção de que é necessário aprofundar a crise, roer o osso, para quem sabe assim superarmos nossa apatia. Cada vez mais me convenço de que é o atual sistema que tem de ser repensado. Quem disse que a democracia representativa seria o modelo final de representação política? Esquecem-se os que põem o dedo na cara de quem vota nulo que, ao longo da história, as diversas sociedades se organizaram de muitas formas diferentes.

Recuso-me a trabalhar e ver boa parte dos meus ganhos ser consumidos na forma de impostos que nunca revertem em meu benefício e ainda votar em alguém só porque o outro candidato seria pior.


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