quarta-feira, setembro 27, 2006

segunda-feira, 4 de setembro de 2006


Algum tempo após ter me mudado para o Distrito Federal, ouvi de uma amiga a frase reveladora sobre a essência desta cidade: Brasília é uma ilha cercada de Goiás por todos os lados. Passado mais algum tempo, me arrisco a dizer que o 'quadradinho' é uma ilha cercada não só de Goiás, mas de Brasil. Tudo bem, não há nada de original nesta minha afirmação. Mas o que fazer se esta parece ser a primeira impressão de todos os novos-candangos que chegam a Brasília?
No centro desta que muitos chamam de 'Ilha da Fantasia' fica o Plano Piloto - incluo aqui o Lago Norte e o Lago Sul - e seus quatrocentos e tantos mil habitantes. População equivalente a uma cidade de médio porte e que desfruta de indicadores sociais belgas. Na sua maioria, são funcionários públicos, militares, profissionais liberais e estudantes vindos de outros estados e que, embora relutantes em fixar raízes, terminam por se embrenhar nas engrenagens da burocracia política-administrativa, vivendo da ilusão de que aqui se decide o futuro da nação. Esquecem-se de que, da mesma forma que eles próprios, os 'representantes do povo' que eventualmente tomam decisões e que, periódicamente, promovem as falcatruas que envergonham os que aqui vivem e trabalham, vieram de outras bandas, de onde efetivamente provêm às pressões que os movem.
Vez por outra, o brasiliense se vê às voltas com o incômodo de uma manifestação de agricultores, um protesto de sem-terras, um 'tratoraço' ou se espanta com a invasão da Câmara dos Deputados. Mas os responsáveis por estas ações, quando não são os estudantes brasilienses descontentes com os altos preços das passagens de ônibus, sempre vêm de outros lugares.
Óbvio que, a exemplo do resto do país, também no Plano se verificam exemplos de nossa desigualdade social. Mas nada que se assemelhe ao resto do país.
Por meio do Fundo Constitucional (aprovado em 2002 (FHC) e implantado no início de 2003 (Lula), o governo federal repassou, só em 2006, mais de R$ 5 bilhões para os cofres do Governo do Distrito Federal. O montante, uma contribuição substancial para garantir a Brasília a distinção de possuir o maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) brasileiro, é aplicado em investimentos de infra-estrutura e no pagamento dos servidores distritais da Saúde e Educação. Para efeito de comparação, o próximo governador do Mato Grosso irá administrar, em 2007, um orçamento de R$ 5,143 bilhões.
Entretanto, Brasília cresceu além do que previam Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Além do conhecido 'aviãzinho', ou seja, o Plano Piloto, onde ficam os cartões-postais pelos quais a capital é conhecida (Catedral, Congresso, etc), o DF conta com 17 Regiões Administrativas. São elas Ceilândia, Taguatinga, Núcleo Bandeirante, Samambaia, Gama, Recanto das Emas, Sobradinho, Planaltina, Brazlândia, Paranoá, São Sebastião, Candangolândia, Núcleo Bandeirante, Cruzeiro, Guará, Santa Maria e Riacho Fundo.
Embora haja pouco paralelo com a realidade das periferias dos grandes centros urbanos, é aqui, nas cidades-satélites, que se verificam as conseqüências das desigualdades sociais. Falta de policiamento, escolas em mau estado, falta de creches, transporte precário, etc, etc, etc. Além disso, em todos estes lugares, um problema nacional amplificado pelo populismo e pela falta de uma política fundiária. Um em cada quatro habitantes do Distrito Federal vive em condomínios ou parcelamentos urbanos irregulares. Ainda que, de um total de 545.651 pessoas, 69% sejam de baixa renda, a maioria das construções são confortáveis, típicas casas de classe média alta.

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