sexta-feira, setembro 22, 2006

sábado, 29 de julho de 2006

Hoje, voltei ao mar por duas vezes. Pela manha, com a mare enchendo desde as nove horas, as ondas fechavam muito rapidamente. Com uma unica prancha 6.1, de bordas finas, nao peguei, por sessao, mais que tres ondas cuja face tenha me possibilitado manobar bem. Todas as outras fechavam tao logo eu eu completava o drop.
A tarde, as condicoes nao mudaram muito. Com o agravante que 'las olas' estavam maiores. Como nao ha canal por onde chegar ao pico, so resta encarar o quebra-coco. Ainda que um submarino/joelhinho bem dado seja capaz de evitar maiores problemas, nao escapei de rodar ao menos uma vez junto com a espuma.
De qualquer forma, se a capital San Jose fez com que me questionasse se nao teria valido mais a pena viajar pelo Brasil, ir para o Nordeste ou mesmo passar uns dias no litoral norte paulistano, a sensacao de familiaridade que experimentei ao deixar o Vale Central e seguir rumo ao litoral me tranquilizou.
As montanhas cobertas pela vegetacao tropical, o clima, a luz, o cheiro do mar que se aproxima, tudo me parecia familiar. Era como se eu estivesse rodando pela Rio-Santos, descendo a Serra de Maresias (o que, por outro lado, tambem me fez refletir sobre o quanto de dinheiro deixamos de ganhar por explorarmos mal o turismo).
Esta familiariedade acabou por se estender tambem as ondas de Jaco. Bastou remar um pouco para que eu sentisse que estava surfando em um pico habitual. Tudo bem, talvez nao nas ondas gordas de Santos, mas na praia guarujaense, Pernambuco, em dia de ondas grandes. Nao que, hoje, as ondas de Jaco estivessem grandes, mas sim porque sao fortes.
Foi só varar a arrebentacao e toda a tensao se desanuviou. Os quatro meses sem surfar, a dor no joelho que quase me fez desistir de viajar e que piorou com o peso da mochila, o estranhamento diante de ondas desconhecidas, a saudade da namorada...No instante em que mergulhei nas aguas salgadas do Pacifico, me dei conta do quanto sou privilegiado. Eu surfo! So isso ja e uma distincao, uma dadiva. Mas nao bastasse isso, eu tenho consciencia de estar vivenciando uma experiencia unica, pessoal e intransferivel, de conhecer um outro pais, uma outra cultura. Na verdade, um pouco de varias culturas, ja que tenho encontrado gente de todo o mundo nos albergues em que me hospedo.
No mesmo quarto que eu estao dois americanos e um ingles. Hoje, na piscina, conversei por alguns instantes com uma holandesa. Para todos, eu sou "a guy from Brazil".
Alias, hoje pela manha, enquanto checava as ondas, fui abordado seguidamente por dois "ticos", como chamam a si mesmos os costarriquenhos. O primeiro tentou me vender um DVD. O segundo, maconha. Para justificar minha negativa, disse que tinha pouco dinheiro para os dias que me restam no pais. Sua resposta foi sarcastica. "Os brasileiros sao sempre assim. Choram que nao tem dinheiro, choram muito, e acabam negociando o melhor preco".
Mas o que mais me surpreendeu foi saber que, comparativamente, a maconha custa bem mais caro que a cocaina porque, segundo meu informante, toda a erva vem de fora, trazida em navios, prensada. E que é muito mais arriscado transportá-la do que à cocaína, razão de seu alto preço.

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